Descrição de chapéu Financial Times juros

Presidente do Fed se recusa a descartar altas de juros em série

Jerome Powell indica que primeiro aumento deve ocorrer em março

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Colby Smith
Washington | Financial Times

Jay Powell, presidente do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), se recusou nesta quarta-feira (26) a descartar uma série mais agressiva de aumentos das taxas de juros do que os mercados vinham esperando, enquanto praticamente confirmou que o primeiro aumento será implementado em março.

Powell evitou uma pergunta sobre se o Fed poderá elevar as taxas em cada reunião subsequente neste ano —o que representaria sete aumentos em 2022—, dizendo em vez disso que o banco central será "humilde e sábio" e "orientado por dados".

No mês passado, os formuladores de políticas do banco central divulgaram projeções que implicavam apenas três aumentos este ano.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em conferência online nesta quarta-feira (26) - Federal Reserva via Reuters

A posição assertiva de Powell em uma entrevista coletiva depois da reunião de janeiro do Fed provocou uma acentuada liquidação no mercado de ações. O índice S&P 500 perdeu um ganho de 2,2%, fechando 0,1% abaixo. O índice composto Nasdaq, de ações tecnológicas, fechou estável, revertendo uma alta de até 3,4% no início do pregão.

O rendimento do título do Tesouro para dois anos, que se move com as expectativas da taxa de juros, subiu para 1,16% —seu nível mais alto desde fevereiro de 2020.

Powell disse que a economia está muito mais forte hoje do que em 2015, quando o banco central embarcou pela última vez em um ciclo de aumentos da taxa de juros, notando que o aumento da inflação está "bem acima" da meta de 2% do Fed e o mercado de trabalho está firme.

"Essas diferenças provavelmente terão implicações importantes para um ajuste de políticas em ritmo apropriado", disse ele.

"Acho que há muito espaço para aumentar a taxa sem ameaçar o mercado de trabalho", acrescentou.
Powell também não quis dizer se o Fed vai considerar um aumento da taxa em 0,5 ponto percentual em algum momento este ano, em oposição aos aumentos de 0,25 ponto que se tornaram a norma. Faz mais de duas décadas que o banco central aumentou pela última vez a taxa em mais de 0,25%.

Ele salientou que os formuladores de políticas ainda não "tomaram essas decisões", mas novamente apontou a força da economia. "Se você olhar para... 2015, 16, 17, 18, quando estávamos aumentando as taxas, a inflação estava muito perto de 2%, até abaixo", disse ele, também se referindo ao baixo índice de desemprego e ao forte crescimento do PIB americano.

Eric Winograd, economista sênior na AllianceBernstein, disse: "Powell não descartou a ideia de aumentar a cada reunião em vez de uma sim outra não. Ele não descartou a ideia de um aumento de 50 pontos básicos. O mercado de ações reagiu bem quando Powell disse que o mercado de trabalho está forte o suficiente para suportar vários aumentos da taxa".

Winograd descreveu a reunião do Fed como "muito agressiva", e acrescentou: "Eles fizeram tudo o que podiam, exceto contratar um avião para escrever a mensagem no céu".

Enquanto isso, Powell basicamente confirmou que o ciclo de aumentos de taxas começará em março. "O comitê tem em mente aumentar a taxa de fundos federais na reunião de março, supondo que as condições sejam adequadas", disse ele.

O banco central havia prometido manter sua principal taxa política em níveis ultra baixos —onde ela esteve desde o início da pandemia— até alcançar o pleno emprego e uma inflação média de 2% com o tempo. A meta de inflação foi cumprida no ano passado, e o Fed comentou na quarta que a taxa de desemprego, que hoje paira pouco abaixo de 4%, diminuiu "substancialmente".

"Eu diria que a maioria dos participantes do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve) concorda que as condições do mercado de trabalho são consistentes com o pleno emprego... e essa é minha opinião pessoal", disse Powell.

O Fed também confirmou que vai recuar em seu programa de compra de títulos para que as aquisições terminem no início de março.

O Fomc e outros presidentes regionais do banco calcularam no mês passado três aumentos de 0,25 ponto em 2022, com outros três em 2023 e mais dois em 2024.

No entanto, nas últimas semanas algumas autoridades do Fed e economistas de Wall Street disseram que um ciclo de reajustes mais agressivo da taxa poderá ser necessário, com quatro ou mais aumentos este ano. Powell pouco fez para descartar essas opiniões na quarta.

Os corretores nos mercados de fundos overnight, que estavam precificando um aumento de juros de 0,25 ponto em março, começaram a aumentar suas expectativas de que o Fed poderá elevar as taxas mais de quatro vezes este ano.

Também há uma discussão sobre como o Fed vai encolher seu balanço patrimonial de aproximadamente US$ 9 trilhões, depois que os formuladores de políticas realizaram as primeiras discussões substanciais sobre os ativos do banco central no mês passado. Eles tiveram outras deliberações na reunião desta semana e divulgaram um conjunto de princípios sobre a abordagem para diminuir o tamanho do balanço.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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