Reservas internacionais do Brasil crescem com FMI e vendas menores de dólares em 2021

Valor de US$ 362 bilhões é o maior em três anos, segundo Banco Central

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São Paulo

​O ano de 2021 foi de recomposição das reservas internacionais do Brasil, que atingiram US$ 362 bilhões, maior patamar em três anos, segundo dados do Banco Central.

As intervenções no câmbio por meio da venda de dólares foram as menores nesse mesmo período (US$ 12 bilhões), cerca de metade do verificado em 2020 e de um terço do realizado em 2019.

Por outro lado, a instituição manteve a forte atuação no mercado de contratos de câmbio, elevando o estoque dos chamados "swaps cambiais", que oferecem proteção contra a variação do dólar, para US$ 80 bilhões, maior valor em seis anos.

Imagem de notas de dólar
Reservas internacionais do Brasil crescem com FMI e vendas menores em 2021 - Rick Wilking/Reuters

Um reforço para as reservas no ano passado veio em 23 de agosto de 2021, quando o FMI fez uma alocação de US$ 15 bilhões ao Brasil, parte da distribuição de DES (Direitos Especiais de Saque) aos países-membros. Esse dinheiro fica registrado nas reservas e também na dívida externa. Caso o país utilize os recursos, paga juros.

O saldo também foi afetado pelo retorno de empréstimos e itens como variação das aplicações.

O BC também utiliza o conceito de posição cambial para medir seu poder de atuação. O valor das reservas, descontados os contratos de swap e outros ativos e passivos em moeda estrangeira, terminou o ano em US$ 264 bilhões, menor desde 2015 e 25% abaixo do pico de 2017.

O ano passado foi marcado por uma desvalorização de 7,4% do dólar comercial, que terminou 2021 a R$ 5,58 (taxa Ptax do BC).

A entrada de dólares no país superou a saída em US$ 6 bilhões. Ou seja, não houve fuga de recursos como em anos anteriores. Esse é um dos fatores que explicam a atuação mais concentrada do BC em contratos de câmbio e menor no mercado à vista.

Maurício Andrade Weiss, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS (Universidade Federal do RS) e autor de artigos sobre o tema, lembra que o mercado futuro tem volume superior ao dos negócios à vista no país. Por isso, mesmo com um fluxo positivo de recursos em 2021, houve depreciação da taxa de câmbio.

"Como a principal fonte de pressão para depreciação do real está no mercado futuro, faz muito mais sentido o Banco Central ter atuado com o swap cambial", afirma Weiss. "Além de não reduzir de fato as reservas, é uma medida que tende a ser mais efetiva."

Reginaldo Galhardo, gerente da Treviso Corretora de Câmbio, afirma que o Banco Central manteve a postura de intervir de acordo com a demanda do mercado, sem tentar puxar um movimento de valorização da moeda.

"O Banco Central só intervém se há distorção de mercado. Poderia gastar reservas, aproveitar quando bateu R$ 5,70 e vender, mas não o faz, porque as reservas continuam sendo uma âncora do país que nos mantém como credores [em moeda estrangeira]", afirma Galhardo.

Weiss, da UFRGS, destaca o indicador de adequação de reservas desenvolvido pelo FMI (ARA na sigla em inglês), cujo último dado é para o ano de 2020.

O Fundo Monetário Internacional mostra que o Brasil, com índice de 1,64, está acima do nível considerado seguro para países que adotam câmbio flutuante, que é de 1. O país estava na 12ª posição entre as economias listadas. Desde 2007, as reservas estão acima dessa linha de corte. Em 2015, chegaram ao pico de 1,92.

O professor da UFRGS afirma que boa parte da acumulação de reservas se deu pela entrada de dólares para investimentos de não residentes. Por isso, diz ser importante ter um volume elevado de recursos, que, mesmo se não utilizados, sinalizem ao mercado a capacidade de o BC agir em momentos de saída de capitais, como ocorreu em 2019 e 2020.

"A gente conseguiu obter esses dólares, não tanto através de exportações, mas muito através de investimento de não residentes. Então esses dólares, em última instância, não são nossos. Nós temos mais reservas do que dívidas, mas nosso passivo externo é maior que as reservas."

Na avaliação de Galhardo, da Treviso, a alta da taxa básica de juros, que deve passar dos atuais 9,25% para cerca de 12% ao ano, pode contribuir para uma administração mais tranquila do câmbio e um uso menor das reservas em 2022.

Segundo ele, além de atrair dólares para o país, os juros altos tornam maior o custo de apostar contra a moeda nacional. Nos swaps, por exemplo, o BC paga a variação do câmbio e recebe a taxa de juros Selic em troca. Isso, no entanto, depende de uma certa estabilidade no valor da divisa diante das eleições e das dúvidas sobre a política macroeconômica.

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