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Verdes da Alemanha lideram ataque contra energia nuclear na UE

Proposta de Bruxelas é central para o objetivo europeu de canalizar bilhões de euros para investimentos verdes

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Bruxelas e Frankfurt | Financial Times

A Alemanha, a Áustria e Luxemburgo atacaram o plano de Bruxelas de classificar a energia nuclear como tecnologia sustentável no sistema de classificação para investimentos verdes da União Europeia, que é central para os planos de descarbonizar a economia do bloco.

O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, que é membro do Partido Verde na coalizão que governa o país, disse: "É questionável se esse 'esverdeamento' terá aceitação no mercado financeiro". Habeck disse à agência de notícias alemã DPA no sábado (1º) que "não havia necessidade desse acréscimo às regras de classificação".

A proposta de Bruxelas faz parte da chamada lista de "taxonomia", que visa ajudar a canalizar bilhões de euros em investimentos necessários para descarbonizar a economia do bloco europeu.

Usina nuclear francesa em Civaux - Stephane Mahe - 8.out.2021/Reuters

O plano, a primeira tentativa de um importante órgão regulador de esclarecer os investidores que desejam aplicar capital privado em atividade econômica sustentável, cobre cerca de 80% das emissões do bloco e se destina a ser o "padrão ouro" para os mercados decidirem o que é realmente verde ou não.

Mas o processo foi perturbado por duras lutas políticas no interior da Comissão Europeia e seus países membros.

Leonore Gewessler, ministra do Clima e Energia da Áustria, disse no sábado que Viena vai considerar processar a Comissão Europeia se a classificação da energia nuclear como verde for adiante. Claude Turmes, ministro da Energia de Luxemburgo, chamou a inclusão da energia nuclear de "provocação".

A inclusão da energia nuclear é amplamente considerada uma vitória do governo francês, que pediu que Bruxelas garanta novas regras para não punir uma tecnologia que fornece quase dois terços da eletricidade francesa. Reatores nucleares não geram emissões de CO2, mas produzem resíduos altamente tóxicos.

A inclusão do gás natural também significa que diversas economias europeias que dependem da importação de gás no sul e no leste da Europa apoiarão a iniciativa.

A inclusão do gás também é apoiada pelo ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, que é o líder do Partido Liberal na coalizão de governo. O esboço da proposta diz que o gás pode ser considerado sustentável sob certas condições, como que as novas usinas a gás aprovadas antes do fim de 2030 emitam menos de 270g de CO2 por kilowatt hora e substituam combustíveis fósseis tradicionais, como carvão.

"A Alemanha precisa realmente de usinas de energia movidas a gás como tecnologia de transição, porque estamos abandonando o carvão e a energia nuclear", disse Lindner ao jornal Suddeutsche Zeitung no domingo (2). "Estou grato porque os argumentos parecem ter sido adotados pela comissão."

Três usinas nucleares alemãs foram desligadas no final de 2021, com as outras três instalações do país devendo ser aposentadas em um ano, como parte do compromisso de desativar gradualmente toda a energia nuclear depois do desastre de Fukushima, no Japão, em 2011.

O esboço do texto de Bruxelas fará parte de uma consulta a países europeus e especialistas independentes que ocorrerá até 12 de janeiro. No entanto, os governos europeus contrários à energia nuclear não terão o poder de vetar a taxonomia, que segundo diplomatas tende a obter o apoio da maior parte do Conselho Europeu.

Astrid Matthey, uma das especialistas independentes que assessora a comissão sobre as regras, criticou o esboço por "contradizer o próprio objetivo da taxonomia".

"As condições sob as quais as duas tecnologias deverão ser incluídas estão longe de garantir que alcançaremos as metas climáticas de Paris e não prejudicarão de modo significativo o meio ambiente. Ainda há um longo caminho a percorrer para que esse esboço se alinhe ao Acordo Verde e às metas ambientais da UE", disse Matthey.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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