Descrição de chapéu Financial Times Guerra na Ucrânia Rússia

Rússia dobra taxa de juros e rublo desaba com guerra econômica

Moeda russa teve baixa de até 29% nesta segunda (28)

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Londres e Hong Kong | Financial Times

O banco central russo mais que dobrou as taxas de juros do país nesta segunda-feira (28), para firmar os mercados financeiros, depois que sanções ocidentais sem precedentes causaram uma queda de até 29% no rublo.

O banco central elevou sua principal taxa de juros de 9,5% para 20%, em uma decisão de emergência, afirmando que "as condições externas mudaram drasticamente, para a economia russa".

O rublo caiu para uma cotação de perto de 118 rublos por dólar, em transações offshore na segunda-feira, de acordo com dados da Bloomberg, depois que o presidente russo Vladimir Putin colocou suas forças nucleares em alerta elevado e os Estados Unidos, Europa e Reino Unido decretaram sanções com o objetivo de excluir a Rússia do sistema financeiro mundial.

Homem usa seu celular em frente a um painel da cotação dólar-rublo
Banco central russo eleva taxa de juros para enfrentar sanções econômicas - Anton Vaganov/Reuters

A taxa de câmbio mais tarde se recuperou para cerca de 100 rublos por dólar, mas os participantes do mercado descreveram as condições operacionais como seriamente prejudicadas, o que torna difícil para estrangeiros vender rublos. Em relação ao euro, o rublo estava sendo negociado a 109 por euro, de um nível anterior de 93,5.

O principal papel de dívida externa da Rússia, US$ 7 bilhões em títulos com vencimento em 2047, sofreu uma queda de 50% e estava sendo negociado a 35% de seu valor de face, de acordo com dados da Tradeweb. Os investidores disseram que as condições do mercado tornavam difícil operar.

"Se você vê um valor cotado na tela, a oferta pode estar ativa ou pode não estar", disse um deles. "Não há coisa alguma de certo em um ambiente como esse. Não estamos mais lidando com fundamentos, mas sim com questões de cumprimento das sanções".

As negociações com ações e derivativos foram suspensas na Bolsa de Valores de Moscou, confirmou o banco central russo na segunda-feira. No entanto, ações com foco na Rússia e negociadas em outros mercados de todo o planeta sofreram quedas pesadas.

Os "global depositary receipts" (GDRs) de empresas russas negociados em Londres, como os do Sberbank, Lukoil e VTB, continuavam em operação. GDRs são um tipo de certificado bancário que equivale à propriedade de ações em um país estrangeiro.

O Sberbank, que o Banco Central Europeu (BCE) alertou que estava "falindo", sofreu queda de até 75%, e o TGS Group, que controla a Tinkoff, caiu em 78%. A Gazprom perdeu metade de seu valor. A Bolsa de Valores de Londres anunciou que suspenderia as ações do banco russo VTB, se ele continuar na lista americana de empresas sujeitas a sanções depois do dia 25 de maio.

Em um novo sinal de que Moscou está sendo expelida dos mercados mundiais, a Noruega anunciou no domingo que seu fundo petroleiro de US$ 1,3 trilhão, o maior fundo nacional de investimento do planeta, congelaria seus investimentos em ativos russos e começaria a vender as posições que detém no país. O grupo de energia britânico BP também anunciou que venderia sua participação de 20% na estatal petroleira russa Rosneft, que a empresa detém desde 2013.

O rublo já tinha sofrido pesadamente na semana anterior, caindo a um recorde de baixa depois da invasão e da imposição de sanções à Rússia pelos Estados Unidos e Europa.

Os Estados Unidos e seus aliados reforçaram as medidas punitivas no sábado, tomando por alvo o banco central russo a fim de impedi-lo de utilizar suas reservas cambiais. Os aliados ocidentais também chegaram a um acordo quanto a excluir algumas das instituições financeiras russas do sistema de mensagens Swift, uma infraestrutura crucial para os pagamentos internacionais.

Os russos vêm formando filas longas para sacar dinheiro de caixas automáticos, e o banco central do país parece não ter um mecanismo óbvio para estabilizar a economia e a moeda. O banco central russo declarou na segunda-feira que a alta de de juros tinha por objetivo "sustentar a estabilidade financeira e de preços e proteger as economias dos cidadãos contra a depreciação".

"Em resumo, a capacidade da Rússia para realizar transações com qualquer instituição financeira em nível mundial será severamente prejudicada, porque a maioria dos bancos internacionais, em qualquer jurisdição, usa o Swift", escreveu George Saravelos, analista do Deutsche Bank, em uma nota a clientes.

Saravelos acrescentou que antecipava que os mercados financeiros venham a refletir o risco ampliado quanto ao suprimento de energia, o que prejudicará a disposição dos investidores para adquirir ativos de risco e pode também causar queda do euro.

"Os mercados monetários podem experimentar alguma deterioração nas condições de captação esta semana, diante do impacto incerto de um congelamento de ativos sobre a liquidez mundial. Seria de esperar que o BCE, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos e outros bancos centrais interfiram para oferecer um amparo forte, se necessário, e não descartaríamos a possibilidade de anúncios de medidas monetárias fora da agenda" [de reuniões oficiais dos comitês monetários], ele disse, acrescentando que o rublo e outras moedas de mercados emergentes europeus provavelmente sofreriam pressão.

Na sexta-feira, a agência de classificação de crédito S&P Global reduziu os títulos de dívida russo para a categoria de papéis especulativos, sublinhando o risco de que o ataque militar à Ucrânia possa danificar ainda mais os mercados financeiros do país.

"O mercado de títulos russo não está funcionando de vez, se excetuarmos os esforços dos bancos da União Europeia e Estados Unidos para liquidar qualquer operação em curso com bancos russos", disse Kaan Nazli, administrador de carteiras de investimentos na Neuberger Berman.

"O mercado local de títulos está com a liquidez zerada desde o começo da invasão, e isso agora foi agravado pela decisão do banco central de impedir que os bancos do país ajudam estrangeiros a reduzir suas posições em títulos russos. Houve algumas compras de ‘eurobonds’ russos por bancos locais na sexta-feira. Agora, com a exclusão do Swift e as proibições dos bancos centrais, essa atividade desapareceu".

Katie Martin , Tommy Stubbington , Philip Stafford e Hudson Lockett
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