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Crise entre Rússia e Ucrânia e tombo do minério na China derrubam ações brasileiras

Bolsa cai e dólar sobe em dia de pressão internacional sobre ativos do Brasil

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São Paulo

Pressões internacionais sobre as principais matérias básicas produzidas pelo Brasil derrubaram nesta quinta-feira (17) ações de algumas das empresas mais importantes para a Bolsa de Valores do país. O cenário se tornou ainda mais desfavorável para os negócios em meio às quedas nos principais mercados globais. A aversão global aos investimentos de risco ganhou corpo com o agravamento das tensões envolvendo Rússia e Ucrânia.

O Ibovespa fechou em queda de​ 1,43%, a 113.528 pontos. A expressiva baixa levou o índice de referência da Bolsa a interromper um ciclo de sete altas diárias consecutivas. O dólar subiu 0,72%, a R$ 5,1670. A moeda americana voltou a ganhar valor após ter caído na véspera a R$ 5,13, menor cotação em quase sete meses.

Trabalhador em fundição de ferro e aço em indústria localizada em Dalian, na China
Trabalhador em fundição de ferro e aço em indústria localizada em Dalian, na China - Stringer - 17.jul.2018/Reuters

O principal responsável pela queda do mercado de ações brasileiro é o setor de commodities, conforme descreveu Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.

Após semanas de valorização neste início de 2022, os preços de contratos de minério de ferro caíram severamente nos últimos dias –um índice futuro com vencimento em maio acumula queda semanal de 16%. A China, principal consumidora dessa matéria-prima, decidiu apertar o controle sobre os valores.

"O governo chinês está investigando operações irregulares para evitar ajustes artificiais nos preços e, de alguma forma, quer limitar os ganhos com a especulação", comentou a analista da Clear.

Guerra destaca que as ações de empresas do setor de mineração e siderurgia, que representam mais de 20% do volume de negociações do Ibovespa, tendem a responder à cotação do minério.

A mais importante delas, a Vale, fechou com desvalorização de 4,08%. Ainda no setor ligado à produção de aço, as ações de CSN, Gerdau e Usiminas tombaram 5,66%, 5,14% e 4,13%, respectivamente.

Depois de ter superado a casa dos 115 mil pontos na véspera, a Bolsa brasileira naturalmente enfrentaria uma dificuldade técnica para seguir em alta nesta quinta, pois os ganhos recentes geram uma pressão pela venda. Investidores tendem a buscar a realização dos lucros obtidos recentemente, conforme explicou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

"É uma combinação desafiadora para o Ibovespa", comentou.

Contrapondo-se à baixa, as ações da fornecedora de softwares de gestão Totvs encerraram o pregão em alta de 6,08%. A empresa divulgou elevação de 45% nos lucros do quarto trimestre.​

No exterior, a continuidade da movimentação de tropas russas na fronteira da Ucrânia ampliava a tensão sobre um potencial conflito armado na Europa.

A situação se tornou ainda mais complexa nesta quinta diante da resposta do governo de Vladimir Putin aos Estados Unidos sobre a rejeição dos americanos ao pacote de demandas russas para estabilizar a segurança no Leste Europeu. Em carta, Moscou afirma que "pode tomar medidas técnico-militares" para defender seus interesses.

A apreensão foi reforçada pela expulsão pela Rússia do número dois da embaixada dos EUA em Moscou, Bart Gorman.

A Rússia é uma das principais produtoras de petróleo e gás e o agravamento da crise poderia prejudicar a oferta e acelerar ainda mais a inflação global.

Apesar de rondar as maiores cotações em sete anos, o barril do petróleo Brent recuava 2,05%, a US$ 92,87 (R$ 478,82) no final da tarde. Analistas atribuem a queda à possibilidade de que o Irã volte a ser aceito por potências ocidentais como fornecedor da commodity devido ao avanço nas negociações, intermediadas pela França, sobre o programa nuclear iraniano.

Para o Brasil, a queda do petróleo tem reflexo na desvalorização das ações da Petrobras, que recuaram mais de 0,49%.

No mercado americano, o agravamento da crise envolvendo Rússia e Ucrânia resultou em forte aversão aos investimentos de risco.

A crise internacional acrescenta mais preocupações ao mercado, que ainda digere informações da ata da reunião de janeiro do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sobre os próximos passos do aperto monetário para o controle da maior inflação em 40 anos.

A ata do Fed mostrou que os conselheiros concordam que, com a inflação ampliando seu impacto na economia e um mercado de trabalho aquecido, era hora de aumentar juros e diminuir compras de ativos no mercado financeiro.

Os principais índices de ações negociadas em Nova York encerraram a sessão com fortes quedas. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq cederam 1,78%, 2,12% e 2,88%, nessa ordem.

Apesar do mercado americano ainda estar em período de divulgação dos balanços empresariais do quarto trimestre de 2021, as atenções dos investidores estão voltadas para a crise na Europa e para a alta dos juros, disse à Bloomberg o chefe global de ações da Federated Hermes, Geir Lode.

"A flutuação dos mercados segue direcionada por esses dois temas: inflação e Rússia", comentou.

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