Descrição de chapéu Banco Central copom Selic

Diretor diz que BC deve combater choques que impactem meta de inflação

Para Bruno Serra, objetivo não é opinar sobre políticas públicas da alçada do governo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Um dia após a divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o diretor de política monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou que a autarquia tem o dever de combater choques que impactem a meta de inflação no horizonte relevante.

Segundo ele, o objetivo do BC não é opinar sobre políticas públicas que estão na alçada do Congresso e do Executivo. "A gente tem de dizer apenas como determinadas decisões podem influenciar a nossa capacidade de entregar a inflação no centro da meta no horizonte relevante", disse nesta quarta-feira (9), em live do banco Modalmais.

"Se o preço não for sustentável e houver previsão de que terá de voltar ao normal no ano seguinte ou em dois anos, o impacto para a política monetária é negativo. Estamos olhando para 18 meses à frente", afirmou.

Fachada do prédio do Banco Central em Brasília - Antonio Molina - 11.jan.2022/Folhapress

O documento, divulgado pelo BC na terça-feira (9), foi classificado por alguns analistas financeiros como ‘ata dos recados’, com alerta sobre políticas fiscais.

Sem fazer referência direta à PEC dos Combustíveis, o BC mostrou preocupação de que as propostas para reduzir a tributação de combustíveis no ano eleitoral possam ter efeito negativo sobre a taxa de câmbio, levando a uma inflação mais alta e, consequentemente, à necessidade de uma taxa básica de juros ainda mais elevada.

"O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva", indicou a ata.

Em questionário pré-reunião do Copom, que serve de subsídio para decisão do colegiado sobre a taxa básica de juros, 69% dos economistas consultados avaliaram que a situação fiscal do Brasil piorou desde o último encontro, em dezembro, até agora.

Para 22% dos entrevistados do mercado, não houve mudança relevante no cenário fiscal no período, enquanto 10% dizem que melhorou.

Nesta quarta-feira (9), Bruno Serra também disse que a batalha contra a inflação de 2022 –ainda em dois dígitos– está longe de estar ganha, demonstrando preocupação com o efeito da inflação corrente nos preços futuros.

No acumulado em 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi a 10,38%. Número distante da meta de inflação perseguida pelo BC, de 3,50%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, podendo chegar a 5%. A alta prevista pela autoridade monetária é de 5,4%. Se a estimativa for confirmada, será o segundo ano consecutivo de estouro.

O diretor de política monetária do BC ressaltou, entretanto, que isso não vai contra a ideia de redução do ritmo do aperto nas próximas reuniões, tomada em função da defasagem dos efeitos de política monetária. Segundo ele, os impactos na atividade são esperados em seis meses e, depois disso, se dão na inflação. Já o efeito no índice de preços ocorre após cerca de 18 meses.

Na semana passada, o Copom do BC elevou a taxa básica de juros em 1,50 ponto porcentual, passando de 9,25% para 10,75% ao ano. Em março de 2021, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico.

O diretor pontuou também que o ciclo de aperto monetário deve ser mais contracionista do que projetado no chamado cenário de referência, o qual prevê Selic de 12% no primeiro semestre deste ano, de 11,75% ao fim de 2022 e de 8% em 2023. A autoridade monetária deve elevar os juros em pelo menos mais duas reuniões.

Após o encontro de março, o foco integral do Copom passa a ser na meta do próximo ano (3,25%). As projeções de inflação do colegiado situam-se em torno de 3,2% para 2023. Apesar de numericamente dentro meta, o BC vê a inflação de 2023 acima dela no balanço de risco.

"Precisamos fazer algo a mais do que o cenário sugere. Então, o BC deveria entregar mais juros ou fazer ciclo mais longo que o precificado no cenário de referência", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.