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Dividido, Cade aprova compra fatiada da Oi pelas três maiores concorrentes

Claro, Vivo e Tim pagaram R$ 16,5 bi por quarta maior operadora, em recuperação judicial

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Brasília

Dividido, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou com restrições, nesta quarta-feira (9), a compra das redes móveis da Oi pelas operadoras de telefonia Tim, Vivo e Claro por R$ 16,5 bilhões.

Três dos seis conselheiros votaram pela reprovação do negócio, que só foi aprovado devido ao voto de minerva do presidente do órgão, Alexandre Cordeiro de Macedo.

Logotipo da OI, em antiga loja na região central de São Paulo
Logotipo da OI, em antiga loja na região central de São Paulo - Bruno Rocha -23.jul.2020/Fotoarena/Folhapress

O valor a ser pago será dividido entre as três empresas. A Tim desembolsará R$ 7,3 bilhões, a Vivo, R$ 5,5 bilhões, e a Claro, R$ 3,7 bilhões.

Na semana passada, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) já tinha aprovado a venda da Oi com restrições para as três concorrentes.

Em síntese, os remédios propostos para reduzir a concentração de mercado preveem a oferta para terceiros de infraestrutura sem qualquer tipo de discriminação, especialmente no preço.

Também estabeleceu-se o compromisso de oferecer ao mercado, em caráter secundário, frequências da Oi que não estiverem sendo utilizadas. Frequências são avenidas no ar por onde as operadoras fazem trafegar seus sinais.

A operação, na prática, significa um fatiamento da Oi entre os três maiores concorrentes, o que levou a questionamentos de outras empresas do setor —Algar e Sercomtel— junto ao Ministério Público Federal.

De acordo com a decisão da Anatel, e que foi ratificada pelo Cade, as três empresas deverão dividir os clientes da Oi entre si. A Tim deve ficar com cerca de 14,5 milhões (36,25% do total), a Vivo com 10,5 milhões (26,25%) e a Claro com os 15 milhões (37,5%) restantes.

Com esse rateio, as empresas ampliam sua atual participação de mercado. A Vivo, que antes possuía cerca de 83,3 milhões de clientes –ou 32,9% do mercado– passa para 93,8 milhões (37,1%).

A Claro, que antes detinha uma carteira com 70 milhões de assinantes (27,7% do total), salta para 85 milhões (33,6%). A Tim, que atendia 52 milhões de clientes (20,6% do total), passará para 66,5 milhões (26,3% do total). ​

Embora a Claro seja a operadora que mais clientes vai herdar com a compra da Oi, a maior interessada era a Tim. Isso porque, além dos clientes, a operadora controlada pela Telecom Italia ficará com frequências e demais insumos de infraestrutura (rede) da Oi móvel em áreas onde ela não tinha realizado investimentos por conta própria de forma massiva.

Em um primeiro passo para a migração dos clientes, as empresas terão de enviar um aviso sobre a transferência. Caso não aceitem, as teles terão de migrá-los para a operadora desejada pelo cliente. Até lá, o cliente continuará a ser atendido pela Oi.

A venda da Oi foi realizada na Justiça porque a empresa encontra-se em recuperação judicial. O negócio foi condição necessária para que a companhia consiga sair da vala da recuperação judicial. Em 2016, com uma dívida de R$ 65 bilhões, a Oi foi à Justiça para tentar evitar a falência.

A situação financeira foi discutida nesta terça-feira (8) entre os conselheiros da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e os do Cade. A reunião tinha sido marcada a pedido do presidente do órgão antitruste, Alexandre Cordeiro.

Durante o processo de leilão do braço móvel da operadora, a Sercomtel, controlada atualmente pelo empresário Nelson Tanure, apresentou uma proposta de compra por meio da Copel Telecom. Tanure já foi um importante acionista da Oi e hoje continua como minoritário.

A Highline e a Algar Telecom também fizeram ofertas em juízo, mas elas foram vencidas.

Ao Cade, Sercomtel e Algar acusaram Tim, Vivo e Claro de formarem um consórcio nos bastidores sem comunicar previamente o órgão de defesa da concorrência sobre o negócio que suas concorrentes tentavam realizar, algo proibido pela legislação que regula a livre concorrência no país.

Algar Telecom e Sercomtel pediram a reprovação do negócio ou a aprovação com remédios estruturais que pelo menos garantissem a existência de um quarto concorrente de porte no mercado.

Entre as medidas sugeridas pelas empresas, estava a venda dos ativos da Oi regionalmente para concorrentes locais ou novos entrantes.

Tim, Vivo e Claro, por meio de seus advogados, reforçaram antes da sessão de julgamento no Cade que o negócio foi transparente e discutido perante a Justiça, afastando qualquer tipo de irregularidade ou ilicitude.

Três conselheiros —Luis Henrique Braido, Paula Farani de Azevedo e Sérgio Ravagnani— votaram contra a operação. Para eles, os remédios apontados para reduzir ao máximo a concentração do mercado não foram suficientes.

"Os remédios são cosméticos", disse Ravagnani durante seu voto.

Para a conselheira Paula Farani de Azevedo, que encerrou seu mandato nesta quarta-feira, a operação não poderia ser aprovada com o argumento de que seria a tábua de salvação para a Oi.

"Não cabe ao Cade garantir a viabilidade financeira econômica da Oi", disse a conselheira. "A operação é fundamental para viabilizar a recuperação judicial da Oi e os remédios não foram suficientes para dar conta."

Em seu pronunciamento, Braido foi duro ao considerar que a proposta de remédios das empresas representa um golpe contra a imagem do Cade.

"A empresa [Oi] desconsiderou a proposta de um entrante [Copel Telecom] para ter um prêmio de 10%, provavelmente", disse Braido. "Como julgador, me parece que as requerentes apostaram no poder de captura do estado e não quiseram negociar remédios firmes, porque tinham certeza de que isso iria adiante."

Com o empate, o negócio foi aprovado mediante voto de minerva do presidente Alexandre Cordeiro de Macedo.

Entre as empresas que trouxeram maior peso negativo para o Ibovespa nesta quarta, as ações da Oi caíram 2,88%. Tim e Vivo avançaram 5,06% e 2,72%, nessa ordem. ​

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