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Dólar cai a R$ 5,05 com Brasil mais atrativo após Rússia mandar tropas à Ucrânia

Bolsa tem forte recuperação com estrangeiros buscando mercados alternativos

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São Paulo

Um dia após a decisão da Rússia de mandar tropas para a Ucrânia ter provocado uma baixa na Bolsa de Valores do Brasil, o mesmo cenário de potencial guerra na Europa resultou em forte recuperação do mercado acionário brasileiro.

O Ibovespa subiu 1,04% nesta terça-feira (22), a 112.891 pontos. Na véspera, o índice de referência da Bolsa havia caído 1,02%. Na ocasião, o tombo se consolidou no final da tarde, logo após o presidente russo Vladimir Putin ter anunciado o seu passo decisivo na rota de conflito com o país vizinho.

Soldado ucraniano caminha nesta terça (22) em rua próxima à linha de frente de combates com separatistas pró-Rússia, na região de Donestsk, na Ucrânia
Soldado ucraniano caminha nesta terça (22) em rua próxima à linha de frente de combates com separatistas pró-Rússia, na região de Donestsk, na Ucrânia - Gleb Garanich/Reuters

Ameaças de guerra não abalaram a trajetória de valorização do real frente ao dólar. A moeda americana caiu 1,05% nesta terça, a R$ 5,0510. É a menor cotação desde 1º de julho de 2021 (R$ 5,0450). Desde o pico da taxa de câmbio neste ano, quando atingiu R$ 5,71 em 5 de janeiro, o dólar já desabou 11,5%.

Investidores que já enxergavam o país como alternativa às baixas nas bolsas de economias desenvolvidas, agora, também podem estar avaliando o Brasil como refúgio de potenciais perdas no mercado da Rússia, uma vez que o país sofrerá sanções econômicas.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou medidas que impedirão o governo russo de fazer transações financeiras envolvendo títulos de sua dívida com empresas americanas e europeias.

Semelhanças entre as duas economias emergentes tendem a reposicionar em direção ao Brasil parte do fluxo de capital que antes iria para a Rússia , segundo Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.

"Seríamos alternativa para a retirada de capital da Rússia", disse Guerra. "Pela exposição às commodities [ambos são produtores de petróleo, por exemplo] e alguma similaridade no nível de desenvolvimento econômico", comentou.

Em uma lista com 24 moedas de países emergentes, o real apresentou o melhor retorno à vista frente ao dólar nesta terça, enquanto o rublo russo ocupou a antepenúltima posição, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O principal índice de ações da Bolsa de Moscou subiu 1,58% nesta terça, mas com isso recuperou apenas uma pequena parte do tombo de 10,5% registrado na véspera.

Os ganhos mais óbvios no mercado brasileiro em meio à crise geopolítica vêm do petróleo, que subia 1,14% no final da tarde, cotado a US$ 96,48 (R$ 488,23). Além de estar no seu maior nível de preços desde meados de 2014, a commodity poderá romper os US$ 100 neste ano, dizem analistas.

Existe, porém, uma trava evitando uma maior aceleração do preço. Avanços nas negociações entre o Ocidente e o Irã sobre programa nuclear iraniano podem colocar o país de volta no mercado de petróleo, segundo a agência Bloomberg. Caso isso ocorra, o aumento da oferta poderá desvalorizar a matéria-prima.

As ações da Petrobras recuaram 0,32%. Neste ano, no entanto, os papéis mais negociados da petroleira estatal já subiram quase 19%.

Mas não são apenas as commodities que mantêm o Brasil em evidência. O pacote de atrativos também considera um real ainda desvalorizado frente ao dólar, ações baratas na Bolsa e, especialmente, uma taxa básica de juros (Selic) muito alta em relação às principais economias globais.

A taxa de juros do Brasil é de 10,75% ao ano, com expectativa de superar 12% ainda em 2022. Como a inflação prevista para o país está na casa de 5,5% para este ano, a diferença entre esses dois indicadores proporciona ganhos elevados com aplicações financeiras.

Nos Estados Unidos, onde a inflação na casa de 7% ao ano é a maior em quatro décadas, os juros permanecem perto de zero e só devem iniciar uma elevação gradual a partir do próximo mês.

Enquanto aguardam condições mais favoráveis no exterior, investidores podem estar tomando crédito barato no exterior para aplicar na Bolsa e no mercado financeiro brasileiro como um todo. É o que no jargão dos negócios costuma ser chamado de "carry trade".

O índice da agência Bloomberg que acompanha esse tipo de negócio aponta alta de 5% neste ano, considerando o movimento global do dinheiro rumo a economias menos desenvolvidas.

O mercado acionário brasileiro acumula saldo positivo no fluxo de capital de investidores estrangeiros acima de R$ 50 bilhões neste ano, segundo dados da B3, a Bolsa de Valores do Brasil.

Outras economias em desenvolvimento também estão se beneficiando. Nesta terça, enquanto as principais bolsas fecharam no vermelho, houve altas no México (1,11%) e na Argentina (0,46%), por exemplo.

Nos Estados Unidos, os principais indicadores tiveram baixas consideráveis. Referência do mercado americano, o S&P 500 cedeu 1,01%. O indicador da bolsa de tecnologia Nasdaq perdeu 1,23%. O Dow Jones, índice que reúne as empresas de maior valor com ações negociadas em Nova York, desabou 1,42%.

Com a queda desta terça, o S&P 500 atingiu uma baixa de 10% em relação à sua pontuação recorde alcançada em 3 de janeiro deste ano. Quando um índice recua a partir dessa porcentagem em relação ao seu nível mais alto, esse indicador entra na chamada zona de correção.

É a primeira vez que o indicador mais importante da Bolsa de Nova York entra correção desde fevereiro de 2020, quando notícias de que a Covid resultaria em uma pandemia abalaram os mercados.

"Os investidores estão diminuindo [posições em aplicações de] risco conforme a crise [na Europa] aumenta a incerteza", disse Lindsey Bell, chefe de mercados da Ally Invest. "Os mercados provavelmente estarão no limite nas próximas semanas", comentou, em entrevista ao The Wall Street Journal.

Antes do agravamento das tensões no leste da Europa, o mercado acionário americano já estava em queda devido à expectativa de elevação dos juros.

Com a confirmação de uma ação militar russa na Ucrânia, além da incerteza sobre os rumos do conflito, investidores também voltam os olhos à possibilidade de uma aceleração ainda mais forte da inflação.

Consequentemente, também aumentam as expectativas de uma elevação acima da esperada no custo do crédito, instrumento que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) já avisou que adotará para conter a escalada dos preços.

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