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Dólar fecha a R$ 5 e tem menor cotação desde junho; entenda

Brasil segue como rota de investimentos estrangeiros em meio à crise na Europa

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São Paulo

O real encerrou esta quarta-feira (23) com nova valorização frente ao dólar. Aportes de investidores estrangeiros no mercado brasileiro respondem em grande parte pela queda no câmbio. O Brasil está temporariamente atraente ao capital enquanto pairam incertezas sobre as principais economias globais devido aos impactos inflacionários que podem ser agravados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.

O dólar recuou 0,95% nesta quarta, a R$ 5,0030. É a menor cotação da moeda americana desde 30 de junho, quando fechou valendo R$ 4,9720, segundo dados da agência CMA. Ainda durante a sessão desta quarta, a divisa chegou a cair a R$ 4,9940.

Desde que atingiu o pico neste ano, que foi de R$ 5,71 em 5 de janeiro, o dólar já recuou 12,4%.

Cédulas de dólar americano - Rick Wilking - 3.nov.2009/Reuters

A Bolsa de Valores brasileira, porém, teve um dia de correção. O Ibovespa caiu 0,78%, a 112.007 pontos. Dados que indicam que o país terá a maior inflação para fevereiro desde 2016 impediram um dia de ganhos no mercado acionário, segundo nota da Ativa Investimentos.

"Após subir na abertura, o índice mudou de direção com a divulgação da prévia da inflação de fevereiro, medida pelo IPCA-15, que avançou 0,99% superando o consenso de 0,85%", escreveram analistas da Ativa.

No acumulado de 2022, porém, o índice de referência do mercado acionário local avança cerca de 7%.

Investidores estrangeiros que já enxergavam o país como alternativa às baixas nas bolsas de economias desenvolvidas, agora, também podem estar avaliando o Brasil como refúgio de potenciais perdas no mercado da Rússia, uma vez que o país sofrerá sanções econômicas.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou medidas que impedirão o governo russo de fazer transações financeiras envolvendo títulos de sua dívida com empresas americanas e europeias.

Semelhanças entre as duas economias emergentes tendem a reposicionar em direção ao Brasil parte do fluxo de capital que antes iria para a Rússia.

Em uma lista com 24 moedas de países emergentes, o real apresenta o melhor retorno à vista frente ao dólar desde o início do ano até esta quarta, enquanto o rublo russo ocupa a última posição, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Sem negociações nesta quarta devido a um feriado, a Bolsa de Moscou tinha subido 1,58% nesta terça, mas com isso recuperou apenas uma pequena parte do tombo de 10,5% registrado na véspera.

Os ganhos mais óbvios no mercado brasileiro em meio à crise geopolítica vêm do petróleo, que subia 0,17% no final desta tarde, cotado a US$ 97 (R$ 486,32). Além de estar no seu maior nível de preços desde meados de 2014, a commodity poderá romper os US$ 100 neste ano, dizem analistas.

O pacote de atrativos do Brasil a investidores estrangeiros também conta com o real ainda desvalorizado frente ao dólar, ações baratas na Bolsa e, especialmente, uma taxa básica de juros (Selic) muito alta em relação às principais economias globais.

A taxa de juros do Brasil é de 10,75% ao ano, com expectativa de superar 12% ainda em 2022. Como a inflação prevista para o país está na casa de 5,5% para este ano, a diferença entre esses dois indicadores proporciona ganhos elevados com aplicações financeiras.

Nos Estados Unidos, onde a inflação na casa de 7% ao ano é a maior em quatro décadas, os juros permanecem perto de zero e só devem iniciar uma elevação gradual a partir do próximo mês.

Enquanto aguardam condições mais favoráveis no exterior, investidores podem estar tomando crédito barato no exterior para aplicar na Bolsa e no mercado financeiro brasileiro como um todo. É o que no jargão dos negócios costuma ser chamado de "carry trade".

O índice da agência Bloomberg que acompanha esse tipo de negócio aponta alta de 5% neste ano, considerando o movimento global do dinheiro rumo a economias menos desenvolvidas.

O mercado acionário brasileiro acumula saldo positivo no fluxo de capital de investidores estrangeiros acima de R$ 50 bilhões neste ano, segundo dados da B3, a Bolsa de Valores do Brasil.

Situação oposta à do Brasil ocorre no principal centro financeiro do planeta. Os principais indicadores de ações negociadas em Nova York acumulam perdas neste ano.

Nesta terça-feira, o índice S&P 500 atingiu uma baixa de 10% em relação à sua pontuação recorde alcançada em 3 de janeiro deste ano. Quando um indicador recua a partir dessa porcentagem em relação ao seu nível mais alto, ele entra na chamada "zona de correção".

É a primeira vez que o indicador de referência da Bolsa de Nova York entra correção desde fevereiro de 2020, quando notícias de que a Covid resultaria em uma pandemia abalaram os mercados.

"Os investidores estão diminuindo [posições em aplicações de] risco conforme a crise [na Europa] aumenta a incerteza", disse Lindsey Bell, chefe de mercados da Ally Invest. "Os mercados provavelmente estarão no limite nas próximas semanas", comentou, em entrevista ao The Wall Street Journal.

Antes do agravamento das tensões no leste da Europa, o mercado acionário americano já estava em queda devido à expectativa de elevação dos juros.

Com a confirmação de uma ação militar russa na Ucrânia, além da incerteza sobre os rumos do conflito, investidores também voltam os olhos à possibilidade de uma aceleração ainda mais forte da inflação.

Consequentemente, também aumentam as expectativas de uma elevação acima da esperada no custo do crédito, instrumento que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) já avisou que adotará para conter a escalada dos preços.

Diante da notícia de que a Ucrânia declarou estado de emergência e alertou seus cidadãos para que deixem a Rússia, o que é uma clara preparação para guerra, os negócios em Wall Street tiveram nova queda nesta quarta.

Os índices Dow Jones e S&P 500 caíram 1,38% e 1,84%, respectivamente. A bolsa de tecnologia Nasdaq afundou 2,57%.

6 CAUSAS DA QUEDA DO DÓLAR

E 2 alertas para quem pensa em comprar a moeda

  1. Investimentos de estrangeiros no Brasil explicam a baixa no câmbio

    Eles buscam alternativas, já que Bolsas nos EUA e na Europa estão em queda neste ano

  2. Investidores, principalmente nos EUA, tentam se antecipar à alta dos juros americanos

    A subida dos juros nos EUA devem derrubar os preços das ações, por isso eles estão vendendo ações que subiram muito nos últimos anos

  3. O Brasil vira opção para esse dinheiro, enquanto os juros nos EUA não sobem

    Ações das empresas da Bolsa de Valores brasileira estão baratas; juros altos no Brasil também tornam títulos de renda fixa do Brasil atraentes

  4. Estrangeiros tomam empréstimos baratos nos exterior e lucram aqui

    A diferença entre as taxas de juros, mais altas no Brasil e mais baixas no exterior, também atrai investidores que não necessariamente venderam suas ações nos EUA

  5. Outro grande atrativo brasileiro está no setor de materiais básicos

    A retomada das atividades econômicas elevou o preço do petróleo, já que os principais produtores globais se recusam a acelerar a produção

  6. Conflito entre Ucrânia e Rússia ajuda a desviar recursos

    A crise na Ucrânia pode valorizar ainda mais o preço do petróleo, já que a Rússia, envolvida no conflito, é grande produtora. Sanções à Rússia podem dificultar investimentos e o Brasil é opção no setor de commodities

  7. Mas, atenção! Analistas alertam que a situação positiva ao Brasil é momentânea

    Há ameaças no horizonte, a principal delas é o chamado risco fiscal, quando há sinais de que o Orçamento não será cumprido; o fato de ser ano eleitoral, o que estimula gastos, acirra o problema

  8. O dólar também pode subir quando o exterior voltar a ficar mais atrativo

    Assim como entra rapidamente para aproveitar uma oportunidade de ganho, o dinheiro que está em papéis brasileiros também pode sair, se o risco fiscal crescer ou se os ganhos lá fora crescerem

Na Bolsa brasileira, o principal destaque positivo foi a Eletrobras, um dia após acionistas terem aprovado em assembleia a privatização da companhia.

As ações preferenciais (sem direito a voto e com preferência no recebimento de dividendos) subiram 3,27%, liderando as altas do pregão. As ações ordinárias (com direito a voto) subiram 2,14%.

Entre as ações com maior volume de negociações, a maior alta foi da Petrobras (1,42%). Além do impacto que notícias sobre privatizações exercem na opinião do mercado sobre a empresa, a petroleira estatal também se beneficia da alta no preço do petróleo.

Outras empresas com maior peso no Ibovespa fecharam com quedas, sendo as mais importantes registradas pela Vale (-1,05%), Suzano (-6,11%) e Magazine Luiza (-2,64%).

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