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Dona do Facebook vive tempestade perfeita com fuga de usuários e mudanças sobre privacidade

Mark Zuckerberg aposta em vídeos e metaverso enquanto sua fortuna diminui com queda do crescimento da Meta

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Hanna Murphy
San Francisco | Financial Times

Enquanto mais de US$ 200 bilhões (R$ 1,06 trilhão) eram varridos do valor da Meta, seu executivo-chefe, Mark Zuckerberg, punha a culpa pela queda de lucros e de usuários na matriz do Facebook em um rival: o aplicativo viral de vídeos curtos TikTok.

"O que é tão único é o TikTok já ser tão grande como concorrente e continuar crescendo num ritmo bastante rápido a partir de uma base muito grande", disse ele durante uma teleconferência com analistas na quarta-feira (2). "Apesar de estarmos nos compondo extremamente rápido, também temos um concorrente que está acumulando em um ritmo bastante rápido."

Zuckerberg falou depois que a Meta alertou que o trimestre atual provavelmente será o período de crescimento mais lento já registrado. Wall Street reagiu com horror. As ações da companhia caíram 20%, levando à maior queda em um único dia na capitalização de mercado de qualquer empresa.

Ilustração de logo da Meta em frente a gráfico de ações - Dado Ruvic - 2.nov.2021/Reuters

Essa queda drástica refletiu como os investidores preveem um futuro ainda mais sombrio, não só pela nova concorrência do TikTok. Outros executivos da Meta, como o diretor financeiro Dave Wehner, admitiram que ela enfrentou uma tempestade perfeita de "ventos contrários".

A empresa perdeu cerca de US$ 10 bilhões (R$ 53 bilhões) em receita desde que a Apple adotou mudanças nas diretrizes de privacidade em seu software no ano passado, prejudicando o modelo de negócios da Meta, baseado em publicidade direcionada. Condições macroeconômicas como inflação e interrupções na cadeia de suprimentos também apertaram o orçamento dos anunciantes.

A empresa também marcou gols contra. Escândalos de privacidade contribuíram para o descontentamento dos usuários. Os mais jovens estão fugindo para o TikTok, de propriedade da chinesa ByteDance. Pela primeira vez desde que a Meta se tornou pública, os usuários ativos diários em todos os seus aplicativos caíram um pouco, enquanto os usuários ativos mensais permaneceram estáveis.

"Esse foi um dos lucros mais chocantes da minha carreira de 27 anos. É insano", disse Rich Greenfield, sócio da consultoria LightShed. "Ninguém esperava. Não há outra maneira de reagir, a não ser admitir que o Facebook está enfrentando uma ameaça existencial do TikTok."

Essa ameaça surge quando Zuckerberg procura diversificar as receitas da Meta além da publicidade. Uma iniciativa liderada pelo Facebook para lançar uma moeda digital global, um esforço arrogante para revolucionar os pagamentos globais, foi abandonada nesta semana depois de tropeçar em obstáculos regulatórios.

Zuckerberg ficou perseguindo visões do metaverso, um mundo online cheio de avatares suportado por tecnologia de realidade virtual e aumentada. "O Facebook está sendo forçado a construir algo de que não temos visibilidade até que dê frutos, daqui a dez anos", disse Greenfield.

O Facebook já tinha enfrentado desafios à sua hegemonia nas redes sociais por ser ganancioso, como ao comprar o aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram e a plataforma de mensagens WhatsApp. Enquanto isso, seu negócio de publicidade não foi muito incomodado por rivais como Twitter e Reddit, que não tinham o mesmo acesso a dados detalhados de usuários.

Mas as mudanças da Apple no software iOS, que movimenta os iPhones, estão tendo um impacto devastador no modelo da Meta. Isso contrasta fortemente com um aumento inesperado da publicidade no Google, o que fez as ações de sua controladora, a Alphabet, subirem quase 8% na quarta. Executivos do Google disseram que estão vendo uma forte demanda de anunciantes em geral, principalmente varejistas, e que a atividade do consumidor tem sido forte.

Após a divulgação de ganhos do Google, alguns analistas sugeriram que a empresa está se beneficiando indiretamente das mudanças de privacidade na Apple que prejudicaram o Facebook. Sua publicidade em buscas —a principal fonte de seu recente bom desempenho— depende menos de dados pessoais coletados nos aparelhos da Apple, levando alguns a concluir que os anunciantes dedicaram mais de seus orçamentos ao Google e não a empresas como a Meta.

Os resultados de quarta-feira também cristalizaram antigas suspeitas de que a Meta está perdendo dos rivais na guerra por atenção, tendo passado por várias crises sobre privacidade e moderação na última década.

Documentos internos da Meta divulgados pela ex-funcionária do Facebook Frances Haugen aos órgãos reguladores no final do ano passado revelaram muita preocupação dentro da empresa com seus problemas de crescimento.

Uma pesquisa da Forrester descobriu que o uso semanal do TikTok ultrapassou o Instagram entre jovens de 12 a 17 anos nos Estados Unidos em 2021. "Essa é a natureza das redes sociais", disse Andrew Lipsman, analista da Insider Intelligence. "Há um 'fator legal' que impulsiona os efeitos de rede."

A Meta está tentando clonar o TikTok com seu próprio recurso de vídeo de formato curto, os Reels. Zuckerberg anunciou no ano passado que a empresa estaria se "reequipando para tornar o serviço aos jovens sua estrela guia", fazendo dos Reels uma parte mais central da experiência de produto do Facebook.

A mudança está forçando a Meta a mudar para um modelo de negócios menos lucrativo, em que a publicidade colocada no feed de vídeo gera menos dinheiro do que os anúncios colocados em um feed de notícias ou em seu efêmero recurso stories.

Zuckerberg disse que "embora o vídeo tenha sido historicamente mais lento de monetizar, acreditamos que, com o tempo, o vídeo de formato curto vai monetizar mais como feed ou stories do que como Watch", referindo-se ao recurso de vídeo de formato longo do Facebook, que até agora tem sido um fracasso.

Em longo prazo, Zuckerberg está priorizando seus planos de metaverso, e não aos negócios consagrados. Ele alertou no último trimestre que o investimento "não será lucrativo para nós em nenhum momento no futuro próximo", mas acrescentou que acredita que o metaverso será o sucessor da internet móvel e um dia vai gerar diariamente bilhões de dólares em comércio digital.

Pela primeira vez em seus relatório de ganhos, a Meta revelou sua unidade Facebook Reality Labs, que responde por produtos de realidade virtual e aumentada, bem como pela iniciativa do metaverso. Isso mostrou que ela gerou US$ 2,3 bilhões (R$ 12,2 bilhões) em receitas em 2021, após um aumento nas vendas de seu headset Oculus VR. Está longe de ser lucrativa, registrando um prejuízo operacional de US$ 10,2 bilhões no ano inteiro.

"Os investidores vão olhar esses números de perto, como um primeiro indicador de que o metaverso está longe de ser uma realidade lucrativa", disse Tom Johnson, diretor digital global da Mindshare Worldwide.

"O Google achou difícil desenvolver um novo negócio, a rede social, para diversificar sua receita, e ainda depende do faturamento com a máquina de buscas. Todos estarão procurando sinais de que a Meta poderá superar o desafio com o metaverso."

Reportagem adicional de Richard Waters em San Francisco

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves ​

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