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Economia dá sinais positivos no fim de 2021, mas analistas veem perda de ritmo em 2022

Juros mais altos e inflação persistente desafiam atividade econômica neste ano

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Rio de Janeiro

O desempenho do setor de serviços acima do esperado em dezembro aponta para um cenário de atividade econômica mais aquecida no país no final de 2021, dizem analistas.

Segundo eles, a alta de 1,4% no volume do setor, na comparação com novembro, reforça as apostas de PIB (Produto Interno Bruto) com variação positiva no quarto trimestre do ano passado.

O quadro, porém, ainda está longe de causar empolgação. Há risco de a atividade econômica perder fôlego já no primeiro trimestre de 2022, apontam analistas.

O que causa preocupação neste início de ano é a combinação entre juros mais altos, cujos efeitos tendem a ser intensificados, e inflação persistente. Em conjunto, os fatores jogam contra o consumo e os investimentos produtivos.

Hóspede em hotel do Rio de Janeiro - Lucas Seixas -7.out.2021/Folhapress

O desempenho do setor de serviços em dezembro foi divulgado nesta quinta (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A variação de 1,4% superou com folga as expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,6%.

"Os dados de serviços mostraram um cenário um pouco melhor do que o esperado para o final do ano passado", diz a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria.

Segundo ela, após a divulgação de serviços, o banco deve elevar a estimativa para o PIB do quarto trimestre de 2021. A previsão deve passar de 0% para até 0,3%.

Antes de divulgar o resultado de serviços, o IBGE informou que a produção industrial cresceu 2,9% em dezembro, também acima das previsões. Já as vendas do varejo recuaram 0,1%, menos do que o esperado.

"É uma fotografia melhor do que a esperada no final de 2021, mas o filme em 2022 deve ser diferente. Estamos em um começo de ano com inflação alta e juros maiores", diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

"Havia um consumo reprimido de serviços, e a gente viu isso ao longo do segundo semestre do ano passado, com a reabertura da economia", acrescenta.

A Veedha projeta avanço de 0,2% para o PIB do quarto trimestre de 2021, mas o número pode até ficar um pouco maior após a divulgação do desempenho de serviços, conforme Camila.

Por ora, a Rio Bravo Investimentos também estima avanço 0,2% no período. Há possibilidade de o número ser revisto para cima, na casa de 0,3%, conforme o economista Luca Mercadante.

"Os dados mais fortes do que o esperado em setores como serviços, no final de 2021, mostram os efeitos da reabertura da economia", analisa.

"Embora tenham sido positivos, esses resultados não devem representar uma reversão de tendência", pondera o economista.

A consultoria MB Associados, por sua vez, mantém a projeção de PIB com variação positiva de 0,1% no quarto trimestre de 2021. Na prática, o número representa uma estagnação da economia brasileira, diz o economista-chefe da MB, Sergio Vale.

Segundo ele, os efeitos dos juros maiores e da inflação persistente tendem a frear a atividade econômica nos primeiros meses de 2022. Na semana passada, o BC (Banco Central) elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 10,75%.

"Tivemos dados muito bons em parte das atividades [no final de 2021], mas essa não é uma tendência. Agora, o impacto dos juros mais altos deve aparecer com mais intensidade", afirma Vale.

O resultado oficial do PIB do quarto trimestre será divulgado pelo IBGE em março.

Serviços têm alta de 10,9% em 2021

Após amargar queda recorde de 7,8% em 2020, o volume do setor de serviços cresceu 10,9% em 2021, segundo o IBGE. Em termos percentuais, a elevação é a maior da série histórica, iniciada em 2012.

Conforme Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, a alta de dois dígitos é explicada em boa parte pela base de comparação fragilizada, já que o setor foi o mais impactado em 2020 pela chegada da Covid-19.

"O setor de serviços foi mais impactado pelo início da pandemia por conta do caráter presencial de algumas atividades", disse. "A base de comparação é bastante deprimida", acrescentou.

Com o resultado de dezembro, o setor ficou 6,6% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020. Também alcançou o maior nível desde agosto de 2015. Contudo, ainda está 5,6% abaixo do recorde da série, registrado em novembro de 2014.

O setor de serviços envolve uma grande variedade de negócios, de bares e restaurantes a instituições financeiras, de tecnologia e de ensino. Também é o principal empregador no país.

Segundo o IBGE, o que levou o setor de serviços para um patamar superior ao do pré-coronavírus foi principalmente o impacto positivo de atividades que dependem menos da circulação de clientes e que são voltadas em boa medida a empresas.

Entre elas, estão os serviços de informação e comunicação, que se encontram em nível 12,8% acima do pré-crise. Essa atividade envolve, por exemplo, telecomunicações, tecnologia da informação e serviços audiovisuais.

Os serviços de caráter presencial também mostraram uma retomada ao longo de 2021, em um contexto de avanço da vacinação contra a Covid-19 e menores restrições a empresas. Essa reação, contudo, ainda é incompleta.

Os serviços prestados às famílias, por exemplo, cresceram 0,9% em dezembro, nona taxa positiva em sequência. Apesar da melhora, ainda estão 11,2% abaixo do patamar pré-pandemia.

Em nota, a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) avaliou que o desempenho do setor como um todo foi beneficiado pela reabertura da economia em 2021. Porém, a entidade projeta perda de fôlego para os serviços em 2022.

"Considerando as previsões de baixo crescimento econômico para 2022, a expectativa é que as atividades terciárias não apresentem taxas próximas às do ano passado", aponta a entidade.

"Diante do encarecimento do crédito e da resiliência inflacionária por um período mais prolongado, a CNC revisou de -0,5% para -0,8% sua projeção para o setor de serviços neste ano", completa. ​

A exemplo de serviços, a produção industrial e as vendas do varejo também cresceram em 2021, mas em ritmo menor, conforme o IBGE.

Após dois anos em queda, a produção das fábricas teve alta de 3,9% entre janeiro e dezembro. O avanço também foi associado em boa parte a uma base de comparação deprimida. A produção industrial ainda está 0,9% abaixo do pré-pandemia.

Já as vendas do varejo acumularam crescimento de 1,4% em 2021. Em dezembro, o comércio estava 2,3% abaixo do patamar pré-crise.

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