Descrição de chapéu Folha ESG sustentabilidade

Fundos ESG podem sofrer com queda das ações de tecnologia

Elevação de juros nos EUA deve comprometer big techs, que costumam ter peso nas carteiras sustentáveis

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Adrienne Klasa
Londres

Os fundos focados em ESG enfrentam uma perspectiva incerta à medida que crescem os custos de pesquisa das gestoras e os impactos nas ações.

Os influxos explodiram durante 2021, com os ativos em fundos globais sustentáveis duplicando entre abril e setembro, quando alcançaram US$ 3,9 trilhões (R$ 21,3 trilhões), segundo dados da consultoria Morningstar.

Em dezembro, as principais ações dos 20 maiores fundos ESG, que juntos administram US$ 340 bilhões (R$ 1,86 trilhão) em ativos, eram das gigantes tecnológicas Microsoft, Alphabet (dona do Google) e Apple, segundo Rumi Mahmood, vice-presidente de pesquisa de ESG na MSCI.

Trabalhadores do setor de energia solar em Los Angeles, Califórnia, protestam contra uma proposta de política estadual que corta os incentivos ao segmento, em janeiro de 2021 - Mario Tama/Getty Images/AFP

Mas as ações tech vêm sofrendo um golpe neste ano. Esse movimento alimenta a especulação de que um giro mais sustentado rumo a estratégias de valor está se aproximando, enquanto o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) começa a retirar o estímulo da era Covid-19.

"Vai ser um teste importante para a indústria. Não estou convencido de que 100% dos que estão comprando fundos sustentáveis o estejam fazendo meramente por motivos ambientais e éticos. Muitas estão nisso como ‘turistas’, porque esses simplesmente eram os fundos de melhor desempenho", disse David McCann, analista de equity na Numis.

O Nasdaq Composit, índice focado nas empresas de tecnologia, teve seu pior início de ano em meia década. Pode ser um ponto isolado, mas uma mudança sustentada no mercado poderá ser dolorosa para os fundos ESG.

"Certos nomes estão no topo: Microsoft, as demais big techs, grandes planos de saúde... Essas ações estão sendo negociadas em alta, mas se virarmos e as taxas aumentarem, eles serão todos derrotados. Bancos e recursos poderão se sair melhor, e esses geralmente são subvalorizados nos fundos ESG", disse Tom Mills, analista de pesquisa de equity na Jefferies.

As ações de algumas companhias mais focadas em ESG estão em queda desde o início do ano. O preço da ação da Impax, sediada em Londres, caiu 15% desde o início de janeiro, e a Liontrust está em baixa aproximada de 14%.

Principais ações dos 20 maiores fundos ESG são de tecnologia e saúde

Microsoft Tecnologia
Alphabet Tecnologia
Appe Tecnologia
Ecolab Materiais
Thermo Fisher Scientific Saúde
Danaher Saúde
Linde Materiais
Waste Management Inc Serviços industriais
Roper Techonologies Tecnologia
Agilent Techonologies Saúde

Os gerentes de fundos ESG afirmam que a sustentabilidade hoje se tornou tão ligada a estratégias de investimento em geral que uma reversão significativa é improvável. Para muitos investidores, certas companhias de energia e recursos não são mais "investíveis", por mais que suas ações tenham boa performance.

E enquanto os aumentos dos juros diminuem os retornos futuros em companhias de tecnologia, o público investidor de algumas dessas empresas também explodiu.

"Vimos cada vez mais o mercado aceitar a ideia de que as empresas precisam estabelecer metas net zero e, portanto, precisam comprar energia limpa", disse Amanda O’Toole, que dirige um fundo temático de tecnologia limpa na Axa Investment Managers.

Muita atenção foi dada à capacidade da tecnologia de ponta em abordar questões de sustentabilidade. Mas os gerentes de fundos também procuram possibilidades entre empresas mais tradicionais.

"Há novos participantes no negócio de gestão de fundos ESG e climáticos. Vamos descobrir, assim como entre as empresas, quem é bom no que faz", disse Simon Webber, gerente de fundo na Schroders.
Ele acredita que empresas como a construtora Kingfisher, a seguradora Munich Re e a fabricante de carros BMW serão grandes vencedoras na transição climática.

Os investimentos sustentáveis também estão sujeitos a crescentes custos de pesquisa, que deverão alcançar US$ 1,3 bilhão (R$ 7,1 bilhões) globalmente em 2022, tensionando as margens já estreitas das casas de investimentos e colocando em perigo estratégias sustentáveis no caso de uma correção de mercado.

​Na Europa, os orçamentos para pesquisas das gestoras de ativos foram cortados em mais da metade entre 2016 e 2022, segundo estimativas da Frost Consulting.

Ao mesmo tempo, os custos de conduzir estratégias ESG incharam conforme os fundos foram surgindo e crescendo —e poderão eclipsar os orçamentos de pesquisa até 2024.

"Ironicamente, os gestores de capitais europeus estão menos resilientes e menos sustentáveis do que estavam [no início da crise financeira]", disse Neil Scarth, da Frost.

As estratégias ESG trazem despesas por causa de custos de dados e pesquisa, além da necessidade de contratar departamentos de gestão para lidar com as companhias em relação a metas de sustentáveis.
"Estamos falando com alguns gerentes experientes de firmas de investimentos que começam a rever a relação entre receitas ESG e custos, num ambiente em que nenhum desses custos adicionais é coberto pelos proprietários de ativos", disse Scarth.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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