Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Guerra deve acelerar inflação da comida e preocupa Guedes

Alta nos preços pode agravar futuro da economia global, afirma o ministro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília e São Paulo

A guerra na Ucrânia deve fazer com que a inflação da comida volte a acelerar no mundo e, claro, nos Brasis. Os preços de trigo, milho e soja deram saltos nesta segunda-feira (28) em vários mercados dessas commodities, em Chicago e em Londres. Milho e soja mais caros também salgam o preço de rações, logo de carnes, e também de óleos.

Os preços do milho subiram mais de 5,5%; da soja, em torno de 3,5%; do trigo, quase 10%. A Rússia e a Ucrânia exportam cerca de 30% do trigo comprado no mercado mundial e pouco mais de 20% do milho.

As exportações desses dois países podem ser prejudicadas pelas ruínas causadas pela guerra, pelas dificuldades de financiamento provocadas pelas sanções ao sistema financeiro russo e pelo bloqueio dos portos da Ucrânia pela Marinha de guerra russa.

O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta segunda estar preocupado com a pressão inflacionária mundial devida à guerra.

Paulo Guedes, ministro da Economia, em Brasília - Pedro Ladeira - 25.fev.2022/Folhapress

"No caso da Ucrânia, a questão são os grãos; da Rússia, são os fertilizantes, no que diz respeito ao Brasil. Estamos preocupados com a inflação mundial. É muito mais o impacto na economia global, porque estamos começando a nos recuperar da pandemia. Então, não é nada bom para o mundo", afirmou em entrevista à TV Bloomberg, especializada em informações econômicas e financeiras.

A Rússia é o maior exportador mundial de fertilizantes. As sanções americanas contra bancos russos por ora excluem negócios com produtos agrícolas, assim como permitem transações relativas à produção e ao comércio de energia, entre outros. No entanto, também é possível que dificuldades de pagamentos e financiamentos do comércio desses produtos causem escassez, atrasos e altas de preços.

"O mundo está em desaceleração sincronizada. A inflação está crescendo em todo o mundo, e isso poderia agravar o futuro da economia global", continuou o ministro.

Segundo Guedes, a inflação brasileira é fruto, sobretudo, da inflação global, e usou os Estados Unidos como comparativo. "Não há pressão inflacionária. A inflação no Brasil passou de 3% para 10%. A inflação nos Estados Unidos foi de 0% a 7%. Então, basicamente é inflação global", disse.

A prévia da inflação oficial no Brasil teve variação de 0,58% em janeiro e segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses, com 10,20%, apontam dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). Nos Estados Unidos, a inflação chegou a 7,5%, a maior alta em 40 anos.

Já a inflação de alimentos no país chegou a 19,1% ao ano em fevereiro de 2021 (de "alimentos no domicílio", segundo o IPCA-15). Em janeiro, ainda crescia em ritmo veloz, mas desacelerara para 8,5% ao ano. Em fevereiro, voltou a acelerar, para 9,5%.

Em um ano, os preços do milho no mercado mundial aumentaram mais de 25%; o da soja, 17%; do trigo, 42%. No entanto, apenas em dois meses deste 2022, a cotação do milho subiu quase 18%. A da soja mais de 22%; a do trigo mais de 18%. A guerra teve influência maior nessa disparada.

O barril de petróleo (tipo Brent) foi cotado ontem a US$ 101,1, em alta de 3% no dia. Neste ano, a alta acumulada é de quase 30%.

A equipe de Guedes teme que o avanço nos preços internacionais do petróleo intensifique a busca do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do Congresso por iniciativas populistas e, na prática, ineficazes para tentar segurar os preços dos combustíveis.

Hoje, as medidas estão concentradas na desoneração dos tributos federais sobre o diesel e na mudança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A possibilidade de um pico de inflação no auge da campanha eleitoral havia impulsionado a decisão de Bolsonaro de patrocinar a PEC do corte de tributos sobre os combustíveis.

Os preços dessas commodities no Brasil refletem as condições do mercado mundial —​sejam grãos ou o petróleo vendido pela Petrobras e cotado por política declarada da estatal a valores de "paridade internacional". Uma valorização do real em relação ao dólar poderia conter a disparada da carestia de grãos básicos, carnes e combustíveis. Mas o modesto avanço da moeda brasileira neste ano fica muito atrás da inflação de commodities.

Paulo Guedes também negou que haja pressão fiscal, afirmou que o déficit primário brasileiro recuou de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 para 0,4% do PIB em 2021 e disse ainda que o gasto social está dentro do teto.

A expectativa da equipe econômica é de queda na inflação, segundo o ministro, que diz acreditar que o Brasil pode novamente "surpreender para o positivo". "Estou mais preocupado com vocês", comentou.

"O Fed [Federal Reserve] está bem atrás da curva, o BCE [Banco Central Europeu] também. Estou muito preocupado sobre vocês aqui, o Fed está dormindo no volante e a inflação global está chegando", disse. Na opinião de Guedes, ambos estão atrasados no combate à inflação.

O titular da Economia comentou o aumento do preço dos grãos em viagem a Nova York, nos Estados Unidos. Aproveitou o feriado de Carnaval para realizar contatos com bancos de investimento e investidores institucionais, em Nova York, nos Estados Unidos.

Ao ser questionado sobre a posição "neutra" do presidente Jair Bolsonaro sobre a guerra, o ministro ressaltou o posicionamento oficial do país.

"O Brasil, no Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas], votou duas vezes —e votaremos de novo—​ condenando a invasão da Ucrânia. Ao dizer isso, nós desejamos que, de forma pacífica, a situação seja resolvida o mais rápido possível", declarou.

No domingo (27), o presidente Bolsonaro defendeu que o Brasil permaneça neutro no conflito. "Nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências para cá", afirmou o presidente brasileiro durante entrevista coletiva em um hotel em Guarujá (SP).

Em discurso na Assembleia-Geral da ONU, nesta segunda (28), o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia. O embaixador Ronaldo Costa Filho pediu que os órgãos das Nações Unidas trabalhem conjuntamente em busca de soluções. "Estamos sob uma rápida escalada de tensões que pode colocar toda a humanidade em risco. Mas ainda temos tempo para parar isso."

No período da tarde, o Brasil voltou a criticar o risco de escalada de tensões em reunião do Conselho de Segurança.​ "As severas sanções podem trazer efeitos na economia global com consequências sentidas muito além da Rússia. Possivelmente, as populações nos países em desenvolvimento serão as que vão sofrer mais", disse João Genésio de Almeida Filho, representante permanente alterno do país na ONU

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.