Novo presidente da Fiesp critica Bolsonaro, em contraste com Skaf

Josué Gomes defende que entidade tenha postura apartidária

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São Paulo

O novo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes, criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) e defendeu que a entidade tenha uma posição apartidária neste ano eleitoral.

A postura contrasta com a de seu antecessor, Paulo Skaf —que, entre outras ações, encabeçou a campanha "não vou pagar o pato", que culminou na adesão da entidade à campanha pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, além de ter declarado publicamente apoio a Bolsonaro.

Homem de terno escuro e máscara clara, em frente a um microfone
Josué Gomes, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) - Divulgação

Já Josué, em conversa com jornalistas nesta quinta (17), afirmou que o presidente será lembrado pelos livros de história como um governo que produziu múltiplos ataques às instituições —às urnas, à vacina, à imprensa.

"Mas, se ele eventualmente se eleger, torço para que ele faça diferente", complementou.

Filho do ex-vice-presidente José Alencar, que esteve ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos seus dois mandatos (entre os anos de 2003 e 2010), Josué também diz que não vai adotar na Fiesp qualquer direcionamento político, e que teve o cuidado de se desfiliar do seu partido, o PMDB, no final do ano passado, antes de assumir o seu mandato, que se encerra em dezembro de 2025.

Questionado se tem simpatia pela candidatura de Lula, o empresário, dono da indústria têxtil Coteminas, esquivou-se.

"Eu não contribuo em nada dando minha opinião pessoal sobre quem eu prefiro [como candidato à Presidência da República], isso não tem nenhum impacto na minha condição como presidente da Fiesp", diz ele, que já foi apontado nos bastidores como possível vice-presidente de Lula ou até mesmo como o virtual ministro da Economia do petista.

"Alguns acham que, por ter sido candidato ao Senado por Minas Gerais [em 2014, quando perdeu a disputa para o ex-governador Antonio Anastasia, do PSDB], que eu sou político", disse. Segundo ele, a votação que obteve –ficou em segundo na disputa, com 40,2%, contra 56,7% de Anastasia– se deveu à força do nome do pai.

"Não sou candidato nem à reeleição na Fiesp, nem a um cargo público nesses próximos quatro anos", afirmou, defendendo, inclusive, um mandato menor do que quatro anos para a presidência da entidade.

dois homens brancos, de terno, apertam as mãos, e são aplaudidos por um terceiro, também de terno
Evento do fim do mandato de Paulo Skaf na Fiesp, em dezembro de 2021, após 17 anos. Na foto, Skaf (de terno azul) dá um aperto de mãos no novo titular da federação, Josué Gomes, aplaudido por Rafael Cervone, novo presidente da Ciesp. - Jardiel Carvalho/Folhapress

Acerca da instabilidade econômica em ano eleitoral, uma vez que empresários falam abertamente sobre ter "um plano Lula e outro Bolsonaro" para 2023, dependendo de quem ganhe as eleições, Josué diz que os temores não fazem sentido.

"O empresário não tem que ter medo de quem vai ganhar a eleição. É preciso confiar na capacidade de escolha do povo brasileiro. O país não vai acabar, vai continuar", diz ele. "As instituições no Brasil são fortes, mesmo que estejam sob ataque."

Ele também classificou como barbaridade o Brasil perder protagonismo mundial na temática de economia verde e disse que "o Brasil parou de pensar, de ousar, e se habitou à mediocridade".

Segundo ele, a prioridade da Fiesp sob a nova gestão é o apoio à educação, uma "emergência nacional".

Outras metas são ajudar as 40 mil pequenas e médias indústrias paulistas a aumentarem a sua produtividade e chegarem ao grau de digitalização, apoiá-las na inovação, e aumentar as exportações de produtos de maior valor agregado, com foco na descarbonização.

A entidade, que reúne atualmente 130 sindicatos do setor industrial —30% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial—, pretende buscar sistemas de financiamento para permitir que as empresas possam aumentar o seu ganho de produtividade entre 20% e 30%, e com isso bancar o investimento.

"Essas linhas já existem, estão disponíveis. O empresário, coitado, está sem tempo de buscá-las. Está vendendo o almoço, para comprar a janta", afirma.

'Com carga tributária menor, Ford teria ficado no país'

Para Josué, a expressão "política industrial" já foi muito criticada como sinônimo de protecionismo, mas os empresários não querem isso. "Não é fechamento de mercado ou subsídio. Mas sim um direcionamento do estado para as políticas que fazem sentido, com um estado planejador", diz.

Ele dá como exemplo o setor automobilístico que, há dez anos, produzia 3,8 milhões de veículos. Agora, a projeção da indústria para 2035 é 4,2 milhões de unidades. "Serão 25 anos sem crescer. Como aceitar isso?", questiona, lembrando o alto peso da carga tributária sobre o automóvel.

"Se em vez de oferecer incentivo, o governo tivesse baixado a carga tributária para todo o setor automobilístico, talvez a Ford ainda estivesse aí".

Josué Gomes diz que já está discutindo a questão da reforma tributária com o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas acredita que a mudança não sai nos próximos meses.

Isso porque não existe consenso de propostas nem mesmo entre os empresários. "A gente não pode diminuir a carga tributária da indústria, aumentando a de outro segmento", diz.

"O caminho é reduzir a alíquota, para promover um aumento da arrecadação. Temos que convencer a Faria Lima de que isso é possível", diz, referindo-se ao centro do mercado financeiro do país.

De acordo com o executivo, a economista Vanessa Rahal Canado foi contratada como consultora para ajudar a estruturar um consenso de reforma tributária entre os empresários.

"Me parece que a melhor opção [de reforma de tributária] é a adoção do IVA [Imposto sobre Valor Agregado], que todo mundo usa. O que eu não sei se vai funcionar é um IVA com uma única alíquota, que aumente muito a carga tributária do agronegócio, da construção, para diminuir a da indústria. O estado tem que calibrar a alíquota para baixo. Isso vai provocar o aumento da atividade econômica e da arrecadação."

Segundo ele, Paulo Guedes está defendendo o rebaixamento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). "É o melhor caminho? Não necessariamente. Mas eu aprovo. Se houver rebaixe do IPI, o imposto deveria ser eliminado logo."

A reforma tributária é o foco do maior diálogo com o governo federal, mas Josué também defende a reforma administrativa que, segundo ele, não saiu até agora porque "o governo não quer".

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