Multinacionais na Ucrânia temem ataques cibernéticos

Empresas implementam planos de contingência, mas descartam invasão russa

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Liz Alderman Melissa Eddy
The New York Times

Grandes empresas americanas e europeias que operam na Ucrânia disseram na sexta-feira (18) que têm planos de contingência prontos para o caso de uma invasão russa, mas até agora não ordenaram a realocação de funcionários.

Mesmo com os líderes ocidentais alertando que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, pode ordenar um ataque à Ucrânia, a maioria dos executivos das empresas multinacionais não acreditam que as tropas russas realmente seguirão com uma invasão terrestre, disse Anna Derevyanko, vice-diretora da Associação Empresarial Europeia.

Tanque russo deixa área de exercícios conjuntos com Belarus, temidos pelo Ocidente como prenúncio de uma invasão da Ucrânia
Tanque russo deixa área de exercícios conjuntos com Belarus, temidos pelo Ocidente como prenúncio de uma invasão da Ucrânia - Ministério da Defesa da Rússia - 17.fev.2022/AFP

"As empresas implementaram planos de contingência, mas não acreditam que algo terrível vá acontecer", disse Derevyanko, cuja associação inclui Nestlé, BASF, ArcelorMittal, Bayer e mais de mil empresas europeias que empregam mais de 2 milhões de pessoas na Ucrânia.

"Se você perguntar aos empresários, eles acreditam que uma invasão física é um cenário de baixo risco", acrescentou. "Não há sensação de pânico."

A perspectiva de ataques cibernéticos, por outro lado, é mais preocupante. Sites governamentais, bancos estatais e partes da infraestrutura do país sofreram invasões de hackers, que os ucranianos acreditam ser russos, tentando desativar computadores e roubar dados. Empresas europeias e americanas na Ucrânia veem os ataques digitais como uma das principais ameaças a enfrentar e se mobilizaram para fortalecer a segurança cibernética, disse Derevyanko.

A IT Ukraine Association, que inclui empresas de tecnologia locais e internacionais, como Sigma Software e a gigante de videogames Ubisoft, disse que a presença da indústria no país cresceu de forma constante desde a devastadora invasão russa da Crimeia em 2014.

As empresas do setor de tecnologia, hoje avaliadas em US$ 6,8 bilhões (R$ 35 bilhões), têm planos para garantir a segurança de seus funcionários em caso de "emergências" como parte de sua estratégia de negócios, informou a associação em um comunicado.

"As forças armadas da Ucrânia acumularam força, ganharam experiência de combate e estão prontas para defender o país e sua população", continuou o comunicado. Os planos de resposta das empresas de tecnologia, por sua vez, "visam proteger o talento e a continuidade de seus processos empresariais", disse.

Mais de 90% das firmas de tecnologia pesquisadas este mês avaliaram o risco de uma escalada do conflito como baixo a médio, acrescentou a associação, observando que nenhuma se preparou para uma realocação completa.

A Câmara de Comércio Americana na Ucrânia disse que seus 633 membros, que incluem 3M, Toyota e Citibank, continuaram fazendo negócios, mas tinham planos de contingência para continuar trabalhando em caso de emergência.

A maioria das empresas associadas fez seus planos há muito tempo, mas continua a atualizá-los e revisá-los, disse Andy Hunder, presidente da associação.

Derevyanko, da Associação Empresarial Europeia, disse que a Ucrânia conta com a continuidade do investimento estrangeiro para ajudar a manter a economia estável. Há multinacionais localizadas em todo o país no agronegócio, farmacêutica, tecnologia e logística.


A economia da Ucrânia só começou a se recuperar nos últimos anos de um golpe debilitante depois que Moscou anexou a Crimeia, em 2014, e rebeldes pró-Rússia tomaram partes da região leste de Donbass, na Ucrânia. Desde então, aliados ocidentais semearam a Ucrânia e empresas que operam lá com mais de US$ 48 bilhões (R$ 248 bilhões) em apoio econômico bilateral e multilateral.

Esta semana, os Estados Unidos se comprometeram a fortalecer a economia da Ucrânia, após uma declaração do Grupo dos 7 países industrializados que prometeram o mesmo.

"Por enquanto, as empresas estão dizendo que planejam continuar trabalhando como sempre", disse Derevyanko. Mas a situação ainda pode se complicar, especialmente se os principais portos e aeroportos forem bloqueados, prejudicando as exportações e causando mais um golpe na economia.

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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