A 'Super Quarta' nos mercados, inflação acelera em todas as rendas e o que importa na economia

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'Super Quarta' sem surpresas

No dia conhecido pelo mercado financeiro como "Super Quarta", com as decisões de política monetária do Fed e do Banco Central, as autoridades cumpriram com as expectativas dos analistas.

No Brasil, o Copom do Banco Central manteve o plano anunciado na última reunião de reduzir o ritmo do aperto monetário e aumentou a Selic em 1 ponto percentual (p.p.), para 11,75% ao ano.

Para o próximo encontro, a autarquia já encomendou uma nova alta de mesmo tamanho (1 p.p.) para a taxa básica de juros.

O que explica: a alta nos juros é uma ferramenta do BC para esfriar a atividade econômica e, assim, tentar colocar a inflação na meta pré-definida (3,5% para este ano e 3,25% para 2023). Essa foi a nona alta consecutiva, e o Brasil só perde para a Rússia em juros reais.

Na reunião desta quarta, a maior parte dos esforços do BC esteve voltada para a pressão de preços de 2023, já que a política monetária tem efeito defasado na atividade econômica.

Em números: na última pesquisa Focus, em que o BC capta as projeções do mercado, a mediana da inflação deste ano saltou para 6,45% (bem acima do teto de 5%). Para 2023, as estimativas para o IPCA estão em 3,70%.

Nos EUA, o Federal Reserve também não surpreendeu e subiu as taxas de juros referenciais em 0,25 p.p., para um intervalo entre 0,25% e 0,5%. Entenda aqui como isso afeta o Brasil.

  • Os membros do comitê projetaram que as taxas chegarão ao fim do ano num intervalo entre 1,75% e 2%, o que significa nova alta de 0,25 p.p. em cada uma das próximas seis reuniões de 2022.
  • Por lá, o Fed trabalha para combater a maior inflação vista em 40 anos.

Opinião | Vinicius Torres Freire: arrocho dos juros vai mais longe, diz BC, que dá recado a Bolsonaro.


Como ficam os investimentos?

A alta na Selic não muda a visão dos especialistas para os bons retornos dos títulos de renda fixa, mas o avanço nas projeções de inflação reduz o rendimento real desses ativos em relação à última vez que o BC subiu os juros, em fevereiro.

Entenda: o rendimento real projeta o retorno anual dos ativos com o desconto da inflação –neste caso, estimada em 6,45% ao ano. O levantamento é do buscador financeiro Yubb.

  • A poupança, queridinha dos brasileiros, passa a ter um rendimento real negativo projetado de 0,26% ao ano. Em fevereiro, estava positivo em 0,75% ao ano.
  • Na ponta positiva estão as debêntures incentivadas, com retorno real de 6,42% ao ano. Esses papéis, que na prática são empréstimos do investidor às empresas, devem ser analisados com cuidado.

Fique de olho: para que o investidor não seja surpreendido com uma nova escalada da inflação, os analistas destacam os títulos públicos negociados no Tesouro Direto atrelados ao IPCA. Os papéis Tesouro IPCA com vencimento para 2026 tinham rendimento de 5,62% (além da variação da inflação) nesta quarta.

Nas Bolsas: a alta da taxa básica de juros tende a naturalmente afugentar parte dos brasileiros do mercado acionário, considerado mais arriscado. Mas os especialistas também veem potencial de ganhos nesse campo, principalmente com um investimento voltado ao longo prazo.

Nesta quarta, a decisão sem surpresas do Fed aliviou as Bolsas americanas e o otimismo chegou aos ativos brasileiros. Impulsionado também por boas notícias da China, o Ibovespa fechou em alta de 1,98%, a 111.112 pontos, e o dólar caiu 1,31%, a R$ 5,09.


Ninguém escapa da inflação

Ninguém passou ileso à aceleração da inflação em fevereiro no Brasil. A alta de preços no mês, que foi a maior desde 2016, atingiu ricos, pobres e a classe média, indica levantamento do Ipea.

Em números: as famílias de renda alta observaram a maior aceleração de preços, saindo de 0,34% em janeiro para 1,07% em fevereiro. A segunda maior foi para aqueles com renda muito baixa, passando de 0,63% para 1%.

O que explica: a inflação do mês de fevereiro foi marcada pelo reajuste das mensalidades escolares e pela carestia dos alimentos. Enquanto a primeira afeta os mais ricos, a alta no preço da comida pesa mais sobre o orçamento das famílias com menor renda.

No acumulado de 12 meses, a inflação atinge com maior força os mais pobres, com alta de 10,9%.

Mais custos, mais dívidas: uma em cada três famílias brasileiras tem dívidas atrasadas, e a alta da inflação é apontada como o principal motivo para que essas despesas não sejam pagas em dia, segundo sondagem do FGV Ibre.

Nas famílias com renda de até R$ 2.100, a inadimplência chega a 58%. O percentual reflete um cenário de alta dos custos somada à queda na renda dos trabalhadores.

Geladeira de carnes trancada com cadeado e corrente em loja do Dia
Geladeira de carnes trancada com cadeado e corrente em loja do Dia - Rubens Cavallari/Folhapress

Efeitos da inflação: o avanço dos preços da carne tornou a proteína tão preciosa no país que um supermercado da rede Dia em São Paulo trancou a geladeira com o produto usando corrente e cadeado.

Empresas também atingidas: a inflação das matérias primas foi apontada por 47% das companhias brasileiras como a maior dificuldade enfrentada por elas neste começo de ano.


Setor de serviços abaixo do esperado

O volume do setor de serviços recuou 0,1% em janeiro em relação a dezembro, informou o IBGE nesta quarta.

O resultado veio abaixo da projeção do mercado, que era de avanço de 0,3%.

Em números: o segmento segue 7% acima do patamar de fevereiro de 2020, o último mês antes da pandemia. As maiores perdas no mês vieram dos serviços de informação e comunicação (-4,7%), que subiram bastante na pandemia, mas agora recuam pelo segundo mês consecutivo.

Por que importa: o setor de serviços é o maior empregador do país e envolve uma grande variedade de negócios: de bares e restaurantes a instituições financeiras, de tecnologia e de ensino.

Os serviços prestados às famílias, mais prejudicados durante as restrições de circulação na pandemia, recuaram 1,4% em janeiro e agora estão 13,2% abaixo do pré-crise. Estão nesse grupo bares, restaurantes e hotéis.


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