Numa sinergia ocasional entre o ‘dito’ início do ano brasileiro e o resultado do PIB divulgado nesta sexta (4) pelo IBGE, o aumento de 4,6% consolida uma variação positiva aos patamares pré-pandêmicos com esperanças de uma tempestade que passa, ao menos por aqui. A alta foi carregada pelos setores de serviços (4,7%) e indústria (4,5%). E à agropecuária coube o recuo de -0,2%.
A variação positiva carrega, por um lado, o otimismo da retomada a partir da expansão da cobertura vacinal, sobretudo no segundo semestre, mas contrapõe-se com a trajetória errática dos primeiros meses de 2021. A piora do quadro epidemiológico no início do ano, a crise hídrica, as consequências da forçada desaceleração em 2020 e instabilidades internas colocam os 4,6% como resultado de uma média de extremos, em que os resultados positivos se acumulam no último trimestre à exceção da indústria, que apresentou recuo de 1,2% neste período, enquanto PIB, agropecuária e serviços aumentarem 0,5%, 5,8% e 0,5%, respectivamente no quarto trimestre de 2021.
Preocupam, nesse sentido, a retomada pouco acelerada da indústria e os patamares ainda baixos de investimento se comparados há uma década, confirmando as preocupantes análises de produtividade que associam-se a uma taxa ainda relativamente alta de desemprego. Impactando a renda dos brasileiros, já castigada pela alta da inflação que se mantém.
A permanência dos resultados positivos em 2021, ao mesmo tempo que traz a ideia de tempos menos turbulentos, é afetada pelas possíveis consequências do conflito entre Rússia e Ucrânia. Se a alta inflacionária já impacta o resultado econômico brasileiro desde 2020, a tensão entre os países afeta a distribuição de energia, o preço das commodities e, no limite, tem potencial de reduzir o PIB global, o que pode afetar assimetricamente países em desenvolvimento. Carro-chefe nas contas públicas brasileiras, é o setor externo o mais rápido e intensamente afetado pela reconfiguração econômica global.
Por outro lado, pela ótica fiscal, o preço do petróleo subindo e a inflação em alta acabam impactando positivamente as contas públicas, conferindo uma espécie de alívio das contas públicas. Como o "carnaval não-carnaval" dos últimos dias, a sensação de alívio é entre insustentável e prejudicial a longo prazo, já que reconhecidos os efeitos deletérios da inflação à trajetória de crescimento e desenvolvimento.
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