Ataque da Rússia a usina nuclear derruba mercados na Europa, nos EUA e no Brasil

Dólar sobe com investidores buscando proteção após temor de catástrofe na Ucrânia

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São Paulo

Bolsas de todo o mundo desabaram nesta sexta-feira (4) após uma madrugada de tensão criada pela possibilidade de uma catástrofe nuclear em novo episódio de agravamento da guerra na Ucrânia.

As forças militares da Rússia tomaram a usina de Zaporíjia, a maior da Europa. O ataque gerou um incêndio no local. Antes do fogo ser controlado, houve temor de uma explosão com impacto potencialmente dez vezes maior do que o do acidente na usina nuclear de Tchernóbil, também na Ucrânia, em 1986.

Mulher caminha diante de painel que mostra símbolo do euro, em São Petersburgo, na Rússia
Mulher caminha diante de painel que mostra símbolo do euro, em São Petersburgo, na Rússia - Anton Vaganov - 28.fev.2022/Reuters

O presidente ucraniano Volodimir Zelenski declarou que uma eventual explosão na usina de Zaporíjia significaria o "fim de tudo, o fim da Europa".

Refletindo as preocupações de investidores com a crise, o Ibovespa caiu 0,60%, a 114.473 pontos. No fechamento semanal, porém, houve ganho de 1,18%. A valorização desde o início deste ano alcançou 9,21%.

O dólar comercial avançou 0,99% e terminou o dia valendo R$ 5,0780. Apesar do ganho diário, a moeda americana fechou a semana em queda de 1,49%. No acumulado de 2022, a desvalorização frente ao real é de 8,93%.

Bolsa e câmbio expressam a manutenção do interesse dos estrangeiros pelo Brasil e em outros mercados emergentes com potencial de crescimento, enquanto as principais bolsas globais devolvem ganhos acumulados durante a pandemia, quando foram largamente favorecidas por políticas de estímulo adotadas pelos bancos centrais de suas respectivas regiões.

No primeiro bimestre de 2022, o saldo de aplicações de instituições internacionais no mercado de ações brasileiro cresceu 130% na comparação com o mesmo período de 2021.

Os mercados de ações da Europa desabaram nesta sexta. O índice que acompanha as 50 principais empresas da região que tem o euro como moeda mergulhou 4,96%. A Bolsa de Londres despencou 3,48%. Em Paris, o tombo foi de 4,97%. Frankfurt afundou 4,41%.

Nos Estados Unidos, os principais indicadores também fecharam no vermelho. O S&P 500, referência para as ações negociadas em Nova York, perdeu 0,79%. Os índices Dow Jones e Nasdaq recuaram 0,53% e 1,66%, nessa ordem.

Além das preocupações com a guerra, investidores foram impactados por dados do governo que revelaram nesta sexta uma geração de empregos acima do esperado nos Estados Unidos. O aquecimento econômico reforça a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) poderá subir de forma agressiva os juros de referência no país.

Elevações de juros tendem a tirar capital do mercado de ações e direcioná-lo para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Essa categoria de ativo, apesar de entregar rendimentos modestos, é extremamente segura. Esse movimento de investidores, caso ocorra de forma intensa, também favorece a valorização global do dólar frente a outras moedas.

Um dos principais efeitos da escalada da crise na Ucrânia nesta sexta foi a disparada do petróleo. O barril do Brent, referência mundial, saltava 6,74% no início da noite, cotado a US$ 117,90 (R$ 598,36). Era o maior valor desde 8 de fevereiro de 2013, quando a commodity subiu a US$ 118,90.

Na Ásia, as bolsas de Tóquio, Hong kong e Xangai fecharam com quedas de 2,23%, 2,50% e 1,21%, respectivamente.

A aversão ao risco provocada pela tomada da usina ucraniana pressionou a alta diária global do dólar, que apresentou valorização na comparação com 20 moedas emergentes em uma lista de 24 divisas acompanhadas pela agência Bloomberg.

Com isso, a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro de 2021, também nesta sexta, ficou em segundo plano e teve pouco efeito sobre o mercado doméstico nesta sessão, segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, avalia que a chegada do final de semana aumentou a pressão sobre os ativos de risco, conduzindo assim o Ibovespa para um fechamento negativo, uma vez que, em um cenário de guerra, os acontecimentos dos próximos dias são imprevisíveis.

"A piora no sentimento de risco, após o incêndio na usina nuclear de Zaporíjia ​, leva a uma postura de maior cautela nos mercados", disse.

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