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Bilionário chinês dono da Binance quer ampliar atuação no Brasil

Changpen Zhao comprou corretora no país e quer crescer ensinando brasileiro a ganhar dinheiro

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Brasília

O bilionário chinês Changpeng Zhao, 45, tem o logo da Binance, a maior bolsa de ativos digitais do mundo, tatuado no braço direito. Motivos não lhe faltam. Em menos de quatro anos, a companhia que ele fundou se tornou a maior potência das criptomoedas do planeta e desenvolve sistemas de negociação para mais de uma centena de transações comerciais digitais envolvendo moedas e até a venda de jogadores de futebol.

CZ, iniciais de seu nome e como ele gosta de ser chamado, já foi atendente no McDonald's, e, segundo a Bloomberg, acumula uma fortuna estimada em US$ 64,4 bilhões (o equivalente a R$ 323,2 bilhões na cotação desta sexta-feira, 18) —o que o torna o chinês mais rico e um dos 20 maiores bilionários do mundo.

Changpeng Zhao, fundador e CEO da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, posa para fotos após entrevista à Folha, no Hotel Royal Tulip Brasília
Changpeng Zhao, fundador e CEO da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, posa para fotos após entrevista à Folha, no Hotel Royal Tulip Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

O crescimento de sua fortuna, no entanto, ocorre na mesma velocidade das controvérsias envolvendo a empresa. Ao menos 13 países, incluindo o Brasil, questionam a forma de atuação da Binance, que estaria burlando regras locais de mercado. Pressionada, a empresa adquiriu uma corretora local como forma de se ajustar às normas no Brasil.

Sobre o país, o empresário diz enxergar potencial para o Brasil se transformar em um centro difusor de criptomoedas.

Muitos países se preocupam com o uso das criptomoedas para crimes. A Binance esteve envolvida em alguns casos. O que a empresa tem feito para tornar as transações digitais mais seguras? Existe um mal entendido de que as pessoas usam as criptos para atividades ilegais. Dentre todas as transações [financeiras] realizadas em 2021, somente 0,15% estavam relacionadas a fraudes [com moedas digitais], segundo um relatório publicado pelas Nações Unidas.

Em 2016, a Bitfinex sofreu um ataque de hackers e os criminosos foram bloqueados do sistema de negociação imediatamente após começarem a usar o dinheiro roubado [no mundo digital, as moedas têm uma espécie de rastreador]. É muito difícil praticar essas atividades ilegais em transações com blockchain [plataforma que sustenta essas transações] sem ser pego.

Então, por que a Binance demorou tanto a detectar a fraude praticada pelo empresário conhecido como "faraó do Bitcoin"? Se as autoridades disserem que algum agente pratica alguma dessas atividades, não negociamos mais. Neste caso trabalhamos diretamente com a polícia e eles foram imediatamente bloqueados.

Defende uma regulação mais dura? Podemos ajudar os empreendedores a aumentarem suas receitas globalmente. Patrocinamos times de futebol e o PSG, por exemplo, ampliou em US$ 1,2 bilhão sua renda. O time não teria contratado o [Lionel] Messi se não tivesse adotado os "fan tokens" [uma espécie de carteirinha virtual do clube que dá direito a várias atividades como comprar ingressos, participar de votações e adquirir brindes] para vender merchandising. Penso que a regulação deve encorajar esse tipo de coisa e bloquear os maus jogadores.

Comprar uma corretora no Brasil, que já tem licença para operar, foi o jeito mais fácil de atuar sob as regras brasileiras? Não sei se será mais rápida porque a aquisição depende da aprovação do Banco Central. Mas pretendemos adquirir outras empresas. Queremos ser globais sendo locais. Nosso time no Brasil conta com 70 pessoas e podemos chegar a 500 pessoas. Mas se a regulação brasileira banir as criptos, teremos de sair daqui.

O que explica seu interesse pelo Brasil? Está entre as dez maiores populações do mundo. Não vemos em termos de PIB. Estamos mais interessados em lugares com mais usuários de celulares [com acesso a internet]. Uma população dessa pode ser um hub [centro] de futuras fintechs no planeta.

Pouco após a invasão da Ucrânia pela Rússia, as duas moedas locais despencaram e o ouro, antes um ativo que as pessoas sempre buscaram em momentos de guerra, também caiu. O bitcoin e outras criptomoedas subiram. Elas já são mais seguras que ouro? A guerra mostrou que as moedas tradicionais não são estáveis porque dependem de decisões de uma pessoa ou de poucas. Numa situação de emergência, você não pode carregar ouro na mala. É pesado. Seria pego por detector de metais. O bitcoin cresceu porque não é associado a nenhum país, é uma forma mais neutra da tecnologia do dinheiro.

Por que a Binance não interrompeu os negócios com russos mesmo após as sanções? A Binance não faz as regras de quem deve ou não ser punido. A lista [de sanções] foi feita pelos EUA, por países europeus, pelo FBI, militares. É uma lista pública. Se eu bloqueasse quem não está na lista seria um roubo.

As criptomoedas vão substituir as cédulas nacionais? No futuro, sim, talvez em uma ou duas décadas. Não no curto prazo. Veja, a Uber não acabou com os táxis. Existe uma sobreposição. O mesmo ocorre com as criptos. Você não vai pagar um lanche, um café com criptomoedas. Mas vai levantar dinheiro globalmente para um fundo por moeda digital.

O BC do Brasil estuda lançar o real digital. Seria o primeiro passo na digitalização da economia? Hoje, do dinheiro que circula no mundo, alguns são digitais mas rodam pelo sistema bancário. A maior parte dessas transações são digitais, mas não em blockchain. El Salvador lançou uma moeda, mas ela é um bitcoin. Lançar uma moeda digital via BC é um progresso, mas usar um bitcoin, como El Salvador, é um grande passo.

As moedas digitais não pressupõem inflação. Valem o que valem. Uma moeda que possa ser emitida diversas vezes pelo BC gera inflação. E isso não existe no bitcoin. Não tem inflação no bitcoin.
Além disso, muitos reguladores têm diferentes restrições de controle de capital. Na China, um cidadão que movimenta mais de US$ 50 milhões fora do país é pego em lavagem de dinheiro.

Foi seu caso então? (risos) É por isso que muitos chineses não fazem muito dinheiro na China. Eu deixei o país quando tinha 12 anos. A sede da Binance é em Dubai [Emirados Árabes Unidos] e Paris [França].

Por que veio a Brasília? O senhor tem agenda no Banco Central… Só quero dizer que somos um grande player e apresentar como a indústria age no mundo. Muitos reguladores não têm experiência nesse tipo de moeda [digital] porque vêm de bancos. Ainda falta a comunicação para construir um modelo apropriado, que encoraje a inovação e a segurança.

O senhor posou para foto com o governador João Doria (PSDB), possível rival do presidente Jair Bolsonaro nas eleições deste ano. Isso não criou constrangimento? Procurei Doria porque estamos prospectando novos negócios em São Paulo. Não sei quem compete com quem aqui. Não nos envolvemos em política, não temos agenda política. Somos muito neutros.

O senhor é considerado o chinês mais rico do mundo. O seu casaco, no entanto, não me parece de grife e, aliás, é o mesmo que o senhor estava usando ontem com Doria. O senhor deve ter ao menos uma Ferrari na sua casa, não (risos)? Só tenho uma van daquelas grandes da Toyota. Só isso. É meu único carro. Comprei um imóvel em Dubai e até recentemente morava de aluguel em Singapura. Não gasto com artigos de luxo. Esse casaco comprei no aeroporto e não me custou mais que US$ 30. Resisto em usar a lavanderia dos hotéis porque, provavelmente, eu pagaria mais do que custou meu casaco para limpá-lo.

Dinheiro não é um fator determinante. Liberdade financeira é o mais importante. Posso dizer que consegui minha liberdade e quero usá-la para construir outras coisas. A Binance tem dinheiro suficiente para fazer o que for preciso, investir em outras empresas, gerar mais riqueza. Eu nunca tiro dinheiro da Binance. Nunca vendi minhas ações [ele detém 90% da empresa]. A empresa me permite fazer o que faço hoje.

Investe em criptomoedas? Todo o meu dinheiro [pessoal] está aplicado em criptomoedas, bitcoins (1%) e BNB (99%).

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