Descrição de chapéu Financial Times mudança climática

Chefe da BlackRock diz que guerra na Ucrânia marca fim da globalização

Larry Fink alerta sobre inflação, enquanto empresas reconfiguram cadeias de suprimentos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brooke Masters
Nova York | Financial Times

A invasão da Ucrânia pela Rússia vai remodelar a economia mundial e aumentar ainda mais a inflação, levando as empresas a se afastarem de suas cadeias de suprimentos globais, alertou o presidente-executivo da BlackRock, Larry Fink.

"A invasão russa da Ucrânia pôs fim à globalização que experimentamos nas últimas três décadas", escreveu Fink em sua carta anual aos acionistas da BlackRock, que administra US$ 10 trilhões (R$ 48 trilhões) como a maior gestora de ativos do mundo.

Embora o resultado imediato tenha sido o isolamento total da Rússia dos mercados de capitais, Fink previu que "empresas e governos também estarão examinando de forma mais ampla sua dependência de outros países. Isso pode levar as empresas a colocar mais de suas operações no país sede ou próximo, resultando na retirada mais rápida de alguns países".

Larry Fink, CEO da BlackRock, participa do Yahoo Finance All Markets Summit em Nova York - Lucas Jackson - 8.fev.2017/Reuters

"Uma reorientação em larga escala das cadeias de suprimentos será inerentemente inflacionária", escreveu Fink, em uma carta de dez páginas que também abordou o efeito da invasão russa na transição energética e nas criptomoedas, e que atualizou os investidores sobre as linhas de negócios da BlackRock e a reabertura de seus escritórios principais.

A carta não mencionava nenhum país específico que seria prejudicado pelas mudanças, mas Fink escreveu que "México, Brasil, Estados Unidos ou centros de manufatura no Sudeste Asiático poderão se beneficiar". Outros investidores argumentaram que o último grupo poderia substituir a China, onde a BlackRock lançou no ano passado um conjunto de produtos de investimento de varejo.

Fink defende que as empresas nas quais a BlackRock investe atuem mais em relação às mudanças climáticas. Sua carta previa que a invasão russa afetaria a transição para uma energia mais limpa.
Inicialmente, a busca por alternativas ao petróleo e ao gás natural russos "inevitavelmente retardará o progresso do mundo na direção de [emissões] zero líquidas no curto prazo", escreveu ele.

"Em longo prazo, acredito que os acontecimentos recentes realmente vão acelerar a mudança para fontes de energia mais verdes", porque os preços mais altos dos combustíveis fósseis tornariam uma gama mais ampla de energias renováveis financeiramente competitivas, escreveu ele.

Embora os ativistas climáticos queiram que os investidores cancelem totalmente os combustíveis fósseis, Fink rejeitou essa abordagem, como fez em sua carta de janeiro aos executivos-chefes. "A BlackRock continua comprometida em ajudar os clientes a navegar na transição energética. Isso inclui continuar trabalhando com empresas de hidrocarbonetos", escreveu. "Para garantir a continuidade dos preços acessíveis da energia durante a transição, os combustíveis fósseis, como o gás natural, serão importantes como combustível de transição."

Em um de seus primeiros comentários sobre criptomoedas, Fink chamou a atenção para o "potencial impacto da guerra na Ucrânia na aceleração das moedas digitais". Um sistema global de pagamentos digitais cuidadosamente projetado pode melhorar a liquidação de transações internacionais, reduzindo o risco de lavagem de dinheiro e corrupção".

Ele disse aos investidores que, devido ao crescente interesse dos clientes, a BlackRock está estudando moedas digitais e a tecnologia subjacente.

Fink lamentou com seus acionistas o início difícil para os mercados financeiros este ano, no qual as ações da BlackRock caíram quase 20%. "Compartilho sua decepção com o desempenho de nossas ações neste ano. Mas já enfrentamos mercados desafiadores antes. E sempre conseguimos sair melhores e mais preparados do outro lado", escreveu.

Ele também observou que a empresa está saindo "do crescimento orgânico mais forte de sua história" em 2021, quando mercados dinâmicos e o crescente interesse por ativos alternativos e fundos negociados em bolsa trouxeram US$ 540 bilhões (R$ 2,5 trilhões) em entradas líquidas.

Olhando para o futuro, Fink deixou claro que a BlackRock quer que os funcionários voltem aos escritórios, mas não estará entre os empregadores que insistem em um retorno completo às normas pré-pandemia.

"Trabalhar juntos, colaborar e desenvolver nossos funcionários pessoalmente é essencial para o futuro da BlackRock", escreveu ele. "Existem certas conversas que não podem ser replicadas em uma videochamada. Perdemos o espaço, a criatividade e a conectividade emocional que vem de estarmos juntos pessoalmente."

"Ao mesmo tempo, reconhecemos que a pandemia redefiniu a relação entre empregadores e empregados. Para reter e atrair os melhores talentos diversificados da categoria, precisamos manter a flexibilidade de trabalhar em casa pelo menos parte do tempo", disse Fink.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.