Petróleo e dólar caem com otimismo do mercado sobre guerra na Ucrânia

Bolsas globais saltam com redução de aversão a risco; Ibovespa sobe 2,43%

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São Paulo

Mercados globais reagiram com otimismo nesta quarta-feira (9) à adoção pela Rússia de um tom menos agressivo quanto aos seus objetivos com a invasão da Ucrânia. Além disso, expectativas sobre o aumento da oferta de petróleo ajudaram a derrubar o preço da commodity.

Refletindo a redução na aversão ao risco, o dólar perdeu valor diante de 17 moedas de países emergentes, considerando uma lista de 24 divisas.

Nota de rublo russo sobre cédula de dólar americano
Nota de rublo russo sobre cédula de dólar americano - Dado Ruvic - 24.fev.2022/Reuters

No mercado de câmbio do Brasil, o dólar fechou em queda de 0,77%, a R$ 5,010, o menor valor desde 23 de fevereiro —um dia antes das tropas russas entrarem em território ucraniano. Na cotação mínima do dia, o dólar havia recuado a R$ 4,9850. Entre emergentes, o real apresentou o oitavo melhor retorno à vista em relação à moeda americana.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores do Brasil, saltou 2,43%, a 113.900 pontos.

O petróleo Brent, que é o mais negociado, recuou 12,5%, a US$ 112,86 (R$ 565,29) —a maior queda diária desde abril de 2020. Na véspera, a commodity havia fechado cotada a US$ 127,98, uma alta acumulada de 15,86% em três dias. O preço da matéria-prima no período chegou perto da máxima de US$ 146,08 (R$ 748), registrada em 3 de julho de 2008.

A escalada do petróleo foi uma reação antecipada do mercado ao anúncio, na terça-feira (8), dos Estados Unidos e do Reino Unido de proibição de importação do petróleo da Rússia, uma das principais produtoras do mundo.

Além do otimismo desta quarta com as negociações acerca da guerra, o movimento de queda do petróleo foi influenciado pela sinalização dos Emirados Árabes Unidos de apoio a um aumento da produção da commodity.

O embaixador do país em Washington, Yousuf Al Otaiba, afirmou nesta quarta que é a favor de um aumento na produção. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também disse que os Emirados Árabes estavam dando suporte ao acréscimo.

Horas depois, o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail al-Mazrouei, disse no Twitter que o país acredita "no valor que a Opep+ traz para o mercado de petróleo", em referência ao cartel formado pelos países produtores do que os Emirados Árabes Unidos fazem parte.

Desde o final do ano passado, a Opep vem se recusando a atender os pedidos do Ocidente para que acelere o aumento a oferta da matéria-prima.

No contexto mais amplo da crise, avanços na negociação entre russos e ucranianos também impactaram a recuperação dos mercados.

Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, afirmou não estar nos planos de Moscou a derrubada do governo ucraniano. Ela também afirmou que os russos preferem atingir seu objetivo de assegurar a neutralidade da Ucrânia por meio de negociações.

Também demonstrando disposição para um desfecho diplomático, Ihor Zhovkva, vice-chefe de gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que aceitaria discutir a sua neutralidade, desde que tenha garantia de segurança e não precise ceder territórios. "Certamente estamos prontos para uma solução diplomática", disse Zhovkva, em entrevista à Bloomberg.

Um novo encontro entre representantes dos dois países deve ocorrer nesta quinta-feira (10).

Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 2,00%, 2,57% e 3,60%, respectivamente.

Na Europa, o indicador que acompanha as 50 maiores empresas da zona do euro disparou 7,44%. A Bolsa de Londres fechou com alta de 3,25%. Paris e Frankfurt saltaram 7,13% e 7,92%, nessa ordem.

Na Bolsa de Valores do Brasil, quedas de empresas do setor de materiais básicos impediam um desempenho ainda melhor da Ibovespa.

A Vale afundou 6,24%, liderando as perdas mais relevantes do mercado, em um movimento de investidores buscando realizar lucros obtidos com altas recentes diante de um cenário que poderá se tornar mais desafiador para as commodities metálicas, segundo Pedro Lang, chefe de renda variável da Valor Investimentos.

A Vale também tem investimentos no setor de níquel, cujo mercado global quase parou na quarta-feira (9) depois que os preços em alta levaram a principal bolsa de commodities da China a congelar a negociação de alguns de seus contratos mais ativos, segundo o Financial Times.

A Bolsa de Futuros de Xangai suspendeu a negociação de mais da metade dos contratos de níquel negociados na China continental depois que eles subiram o valor máximo permitido durante vários dias seguidos.

No início da sessão de quarta, o contrato de referência de níquel subiu 17%, para o equivalente a mais de US$ 42 mil a tonelada, depois que movimentos sem precedentes em Londres causaram uma paralisação das negociações.

O preço do níquel, que é usado nas baterias que alimentam os veículos elétricos, começou a subir no final de 2021 com a maior demanda das montadoras. Acelerou nas últimas semanas em meio a temores de que os suprimentos da Rússia fossem interrompidos

A Petrobras subiu 0,31%, após passar praticamente todo o dia no vermelho. A companhia controlada pelo governo federal não conseguiu valorização expressiva mesmo diante da possibilidade de lucros no curto prazo com a disparada da cotação do petróleo no mercado internacional.

Altas seguidas da commodity aumentaram a pressão política para que a Petrobras reveja a política de paridade internacional para a definição dos preços dos combustíveis no Brasil, cujo método de cálculo responde à variação da cotação do petróleo e do dólar, entre outros fatores.

​​Apesar das oscilações provocadas pela guerra, desde o final do ano passado há um movimento de valorização da moeda brasileira. Uma combinação de ações baratas na Bolsa, real desvalorizado em relação ao dólar e uma taxa de juros alta vem atraindo investidores estrangeiros ao mercado financeiro doméstico.

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