Descrição de chapéu Folhainvest Rússia

Dólar cai a R$ 4,83 e Bolsa tem melhor resultado em sete meses

Mercado brasileiro aproveita entrada de recursos estrangeiros

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São Paulo

O dólar caiu pelo sétimo dia seguido nesta quinta-feira (24), renovando a sua cotação mínima desde o início da pandemia de Covid-19 há dois anos. Já a Bolsa de Valores brasileira alcançou o seu melhor resultado em sete meses.

A moeda americana fechou em queda de 0,20%, a R$ 4,8330. Esse é agora o menor valor da divisa desde 13 de março de 2020, dois dias após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado a disseminação global do novo coronavírus.

No decorrer da sessão desta quinta, o dólar chegou a mergulhar 1,61%, a R$ 4,7650. Na véspera, havia afundado 1,44%, a R$ 4,8430.

A forte alta da Bolsa, que segue atrativa aos investidores estrangeiros, foi um fator importante para a manutenção da queda da taxa de câmbio.

O Ibovespa saltou 1,36%, a 119,052 pontos. Também na sua sétima alta consecutiva, o indicador de referência para o mercado acionário do país atingiu o seu maior valor desde 1º de setembro de 2021.

Notas de dólar - Dado Ruvic - 14.fev.2022/Reuters

Foi em setembro do ano passado que a Bolsa iniciou um prolongado período de queda devido às incertezas provocadas pelo avanço da inflação global, pelas ameaças de ruptura democrática no Brasil devido às manifestações de caráter golpista promovidas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), e por preocupações sobre o equilíbrio das contas públicas no ano eleitoral de 2022.

Nesta quinta, porém, foi o cenário internacional favorável às commodities, apesar da correção do preço do petróleo, o maior responsável pelo salto da Bolsa. As principais exportadoras brasileiras na composição do Ibovespa, Vale e Petrobras, subiram 0,54% e 1,15%, nessa ordem.

Apesar de ter peso inferior ao do segmento de commodities no Ibovespa, o setor voltado ao consumidor discricionário (venda no varejo de bens de consumo não essenciais) subiu 4,47% e foi um dos mais relevantes para o desempenho positivo do índice nesta quinta. As ações do Magazine Luiza saltaram 10%.

Se por um lado os juros elevados estão entre os responsáveis pela entrada de dólares no Brasil, por outro, a percepção de investidores de que o aperto ao crédito pode estar chegando ao limite foi um dos motivos para os ganhos do varejo nesta sessão, segundo João Beck, economista e sócio da BRA.

"A curva de juros começou a cair bastante desde ontem, aumentando um pouco mais a percepção de que os juros já subiram demais", disse.

Curva é como é chamada a variação das taxas de juros dos contratos futuros DI (Depósitos Interbancários). A taxa DI é negociada apenas entre bancos, para o acerto diário de caixa, mas serve de referência para todo o mercado de crédito. A taxa para janeiro de 2024, por exemplo, caiu de 12,64% para 12,30% nesta quinta.

Com foco no exterior, o mercado financeiro vem dando pouca importância para a disputa eleitoral brasileira, a ponto de, segundo analistas, ter ignorado a nova pesquisa do Datafolha sobre a eleição presidencial de outubro divulgada nesta tarde.

A consulta a 2.556 eleitores em 181 cidades apontou Jair Bolsonaro (PL) recuperando um pouco de fôlego na corrida para o Palácio do Planalto, chegando a 26% de intenções de voto na disputa, liderada pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, com 43%.

"A melhora da Bolsa reflete o cenário externo, juros e a entrada de capital estrangeiro", comentou Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos. "O mercado não precifica mais como era antes, muito positivamente para Bolsonaro e muito negativamente para Lula", disse

"Não acredito que a pesquisa tenha feito preço. A Bolsa não necessariamente caiu nas [pesquisas] em que ele [Bolsonaro] apareceu pior", comentou Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

No contexto mais amplo deste ano, juros elevados, ações com potencial de valorização na Bolsa e o impulso dado pela guerra na Ucrânia na valorização do petróleo continuam a favorecer a entrada de investimentos de estrangeiros no país.

Esse grupo é responsável por 53% das movimentações financeiras na Bolsa. Desde o início do ano até a última terça-feira (22), o saldo das operações realizadas por eles estava em R$ 84 bilhões. Isso representa 82% do saldo de R$ 102,3 bilhões de todo o ano de 2021, que teve o recorde da série histórica.

O fluxo de capital do exterior vem contribuindo para que o real apresente a maior valorização frente à divisa americana, quando o comparado a outras 23 moedas de países emergentes. O retorno à vista da divisa brasileira, acumulado em 2022, é de 15,5%.

Entre os principais atrativos do Brasil para o exterior estão as ações das empresas de matérias-primas e, entre elas, o petróleo ganhou ainda mais importância com a ameaça de escassez provocada pela guerra da Ucrânia.

A Rússia é uma das principais exportadoras de petróleo e gás natural. A entrada da matéria-prima produzida pelo país já foi banida dos Estados Unidos e o prolongamento do conflito pode resultar em punições semelhantes aos russos por países da União Europeia.

Ao final desta tarde de quinta, o barril do petróleo Brent estava cotado a US$ 117,98 (R$ 567,02), em queda de 2,98%, após um ganho de 5,30% na véspera.

Desde o início da guerra, há um mês, o valor da commodity já subiu mais de 20% e passou a rondar os patamares mais elevados em 14 anos.

A alta do petróleo vinha contribuindo para tornar a renda fixa brasileira mais atraente.

Ao comunicar a elevação da taxa básica de juros (Selic) para 11,75% ao ano, na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) sinalizou a possibilidade de elevações ainda mais agressivas dos juros em um cenário de alta do petróleo.

Analistas apontam que, diante dessa colocação do Copom, a taxa Selic deverá fechar 2022 em torno dos 13%.

O Brasil possui hoje um dos diferenciais de juros mais vantajosos do mundo. Investidores fazem essa classificação ao comparar os juros reais oferecidos por cada país. Essa relação diz respeito à diferença entre a taxa de referência para o crédito e a expectativa de inflação, estimada em 7% para este ano, segundo consulta do Banco Central.

Marco Mecchi, gestor de macro e renda fixa da AZ Quest, afirma que são os juros reais o principal atrativo do Brasil para os dólares de estrangeiros.

"Não é só a taxa de juros nominal, que são esses cerca de 12,75% que o país irá buscar, mas principalmente por conta desse diferencial de juros reais, considerando uma inflação em torno de 7%", comentou. "Vamos ter juros reais em torno de 6% [ao ano], enquanto os Estados Unidos vão continuar com juros negativos, mesmo subindo a taxa deles", disse.

Os juros americanos começaram a subir neste mês. A elevação de 0,25 ponto percentual, colocando a taxa de referência em um intervalo entre 0,25% e 0,50% ao ano, ainda representa pouco perto da inflação anual que neste momento está na casa dos 7%.

No mercado de ações dos Estados Unidos nesta quinta, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 1,02%, 1,43% e 1,93%, respectivamente.

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