Descrição de chapéu Financial Times Rússia

Biden proíbe importação de petróleo da Rússia como sanção à guerra na Ucrânia

Presidente dos EUA fez o anúncio nesta terça-feira (8)

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Financial Times

O presidente americano, Joe Biden, anunciou nesta terça (8) a proibição das importações de petróleo, gás e carvão russo para os EUA. O movimento ocorre à medida que Washington intensifica as sanções econômicas a Moscou após a invasão da Ucrânia.

Além dos EUA, o Reino Unido também anunciou que encerrará as importações de petróleo da Rússia. A União Europeia, no entanto, não seguiu os aliados e, em vez barrar as importações de gás russo, deve reduzi-la em dois terços no prazo de um ano.

O presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington - Casa Branca via AFP

"O petróleo russo não será mais aceitável nos portos dos EUA e o povo americano dará outro golpe poderoso à máquina de guerra de [Vladimir] Putin", disse Biden, falando da Casa Branca.

A decisão dos EUA abre uma nova frente nos esforços para isolar a Rússia da economia global, após sanções impostas aos principais bancos do país, altos funcionários do governo e oligarcas, bem como ao seu banco central.

Mas a proibição das importações dos EUA e do Reino Unido será muito menos disruptiva para os mercados globais do que um embargo internacional completo, uma vez que apenas uma pequena proporção de embarques russos vai para esses dois mercados.

Para a UE, Moscou fornece 40% do gás do bloco e um quarto de seu petróleo bruto. Bruxelas pretende importar mais gás natural liquefeito, aumentar a quantidade de energia eólica e solar, produzir biogás e reduzir a demanda isolando as casas e pedindo às pessoas que diminuam seu aquecimento central.

A proibição veio após dias de debate interno no governo Biden e entre os EUA e aliados ocidentais sobre os prós e contras de proibir a energia russa para punir o presidente Vladimir Putin, dado o risco de desencadear um novo choque nos mercados globais de energia.

Os preços da gasolina dos EUA subiram rapidamente nos últimos meses. Na terça-feira, a média nacional bateu um recorde de US$ 4,17 por galão, de acordo com a AAA, uma associação de automóveis.

O governo do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que eliminaria gradualmente a importação de petróleo russo até o final do ano.

Kwasi Kwarteng, secretário de negócios britânico, disse que o governo organizaria uma "transição ordenada" para reduzir as importações russas de petróleo. Mas Rishi Sunak, chanceler do Reino Unido, disse em uma reunião de gabinete que os consumidores pagariam um preço pela proibição, particularmente as famílias de baixa renda.

O Reino Unido é menos dependente da Rússia do que grande parte da Europa continental —os suprimentos russos compõem 8% das importações globais de petróleo do Reino Unido. Espera-se que Johnson faça uma declaração ainda esta semana sobre a redução das importações britânicas de gás russo.

Até agora, a Alemanha resistiu a qualquer proibição da UE de comprar petróleo bruto russo. O chanceler Olaf Scholz disse na segunda-feira que preferiu aplicar uma pressão "sustentável" sobre Moscou, sem impor um custo muito grande aos consumidores alemães. O desenvolvimento de alternativas à energia russa, disse ele, "não pode ser feito da noite para o dia".

Já Biden disse: "Estamos avançando nesta proibição entendendo que muitos de nossos aliados e parceiros europeus podem não estar em posição de se juntar a nós. Mas estamos trabalhando em estreita colaboração com a Europa e nossos parceiros para desenvolver uma estratégia de longo prazo para reduzir sua dependência da energia russa também."

A Rússia —maior exportadora mundial de produtos brutos e petrolíferos— enviou quase 8 milhões de barris por dia aos mercados globais no final do ano passado, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Cerca de 60% das exportações de petróleo da Rússia vão para a Europa, incluindo cerca de 2% para o Reino Unido, enquanto 8% vão para os EUA. A China representa cerca de 20%.

Biden vinha enfrentando forte pressão de membros do Congresso, tanto republicanos quanto democratas, para avançar com uma proibição de importação de petróleo russo, mas vinha resistindo na tentativa de manter o fluxo de energia em todo o mundo e evitar que os preços da gasolina subissem acentuadamente em casa.

O presidente dos EUA advertiu que a "defesa da liberdade" traria custos para a América também na forma de preços mais altos, mas disse às empresas de energia dos EUA para não tirarem proveito dos aumentos. "A agressão da Rússia está nos custando a todos e não é hora de lucrar ou arrancar preços", disse Biden.

A Casa Branca disse que os americanos também seriam proibidos de "financiar ou permitir empresas estrangeiras" que estão investindo na produção de energia russa. Um alto funcionário da administração Biden disse que os EUA estavam proibindo novas compras de petróleo bruto imediatamente e permitindo 45 dias para encerrar os contratos existentes.

Alexander Novak, vice-primeiro-ministro da Rússia, alertou na segunda-feira que uma possível proibição poderia fazer com que os preços do petróleo mais do que dobrassem, para US$ 300 o barril. Ele também disse que a Rússia tinha a opção de desligar o fornecimento de gás para a Europa através do gasoduto original Nord Stream, mas optou por não fazê-lo até agora porque "ninguém se beneficiará disso".

O anúncio da proibição de importações rendeu elogios a Biden no Congresso americano. Jeanne Shaheen, senadora democrata de New Hampshire, disse que foi a "decisão certa". "Os EUA prometeram responsabilizar Putin por qualquer violação da soberania da Ucrânia, e isso é resultado das ações de Putin", disse ela. Os republicanos disseram que a mudança deve ser acompanhada de movimentos para aumentar a produção doméstica de energia dos EUA.

O barril do Brent, tipo mais negociado e referência mundial para o valor da matéria-prima, chegou a passar dos US$ 130 (R$ 662) logo após a fala de Biden, mas cedeu nas horas seguintes. No final da tarde, a commodity subia 5,52%, a US$ 128,73 (R$ 655,19). ​

Os preços do petróleo já vinham subindo nos últimos dias, uma vez que muitos grandes consumidores boicotaram o petróleo russo mesmo antes do anúncio de qualquer proibição oficial de importação de petróleo bruto. Brent e West Texas Intermediate terminaram 2021 em menos de US$ 80 o barril.

Mohammed Barkindo, secretário-geral do grupo de produtores da Opep, alertou que não haveria como preencher a lacuna deixada pelo petróleo russo em caso de embargo total.

"Não há capacidade no mundo no momento que possa substituir 7 milhões de barris de exportação", disse ele na conferência de energia Ceraweek, em Houston (EUA), na segunda-feira.

Reportagem adicional de Aime Williams e Kiran Stacey em Washington

James Politi , Myles McCormick , Jim Pickard e Andy Bounds
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