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Fed eleva juros e sinaliza batalha agressiva contra inflação

Banco central dos EUA aponta incerteza econômica por causa da guerra na Ucrânia e da crise de saúde

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Washington e São Paulo

O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou nesta quarta-feira (16) os juros em 0,25 ponto percentual, para um intervalo entre 0,25% e 0,5% ao ano, marcando o fim da política monetária voltada ao enfrentamento da desaceleração econômica provocada pela pandemia de coronavírus.

Agora, a autoridade se volta às incertezas geradas pela guerra na Ucrânia e à necessidade de apertar o acesso ao crédito para que o país enfrente a inflação mais alta em 40 anos.

O Fed também projetou que a taxa básica deve atingir um intervalo entre 1,75% e 2% até o fim do ano, o que vai encarecer os custos de empréstimos no país.

Fachada do Fed, em Washington - Saul Loeb/AFP

O comunicado do Fomc, sigla em inglês para o comitê de política monetária do Fed, deixou de lado a referência direta à pandemia de coronavírus. Em vez disso, citou a guerra na Ucrânia como fator de "pressão ascendente adicional sobre a inflação" e de peso sobre a atividade econômica.

Essa é a primeira vez que o conselho decide subir os juros de referência dos Estados Unidos desde 2018.

A medida tem potencial para tirar liquidez dos mercados de ações e elevar as taxas de câmbio em países de economia emergente, como é o caso do Brasil.

O mercado, porém, reagiu de forma positiva ao pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell, ao avaliar que a autoridade monetária mantém o cuidado de evitar solavancos inesperados na condução do processo de retirada de estímulos ao mercado.

No Brasil, o Copom decidiu nesta quarta elevar a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 11,75% ao ano.

O Ibovespa avançou 1,98%, a 111.112 pontos, recuperando-se parcialmente de quatro quedas consecutivas. O dólar comercial recuou 1,31%, a R$ 5,0920.

Apesar da elevação dos juros nos Estados Unidos resultar em uma potencial fuga de dólares de economias emergentes rumo aos títulos do Tesouro americano, esse movimento não deverá ocorrer no curto prazo, segundo Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

"O nosso diferencial [relação entre nossa taxa Selic e a inflação doméstica, comparada ao exterior] ainda é atrativo e esse comportamento mais favorável do dólar pode continuar no curto prazo", diz.

Em março de 2020, o Fed optou por injetar liquidez no mercado por meio da redução do custo dos empréstimos e da compra de títulos, principalmente os imobiliários.

A medida amenizou o resfriamento econômico provocado pelas restrições de circulação impostas para desacelerar as infecções pelo coronavírus. ​

Neste mês, além de dar início ao ciclo de altas dos juros, o banco central americano encerrou o seu programa de compra de títulos após um processo de redução gradual dessas aquisições iniciado no ano passado.

Conhecido como "tapering", o processo evitou que a retirada abrupta de liquidez provocasse oscilações mais fortes no mercado de ações americano e mundial.

O balanço patrimonial do Fed mais que dobrou durante a pandemia devido à compra de trilhões de dólares em Treasuries (Tesouro) e títulos lastreados em hipotecas.

Jerome Powell, presidente do Fed, disse que, na próxima reunião, espera começar a reduzir esse balanço, que é de quase US$ 9 trilhões.

O banco central fornecerá mais detalhes sobre os parâmetros do plano quando divulgar, daqui três semanas, a ata da reunião desta quarta-feira, disse Powell.

Diminuir a carteira ajudará a apertar a política monetária e as condições financeiras, complementando o movimento do banco central em direção a taxas de juros mais altas com o objetivo de trazer a inflação de volta ao controle, afirmou o presidente do Fed.

Em uma sessão que já se apresentava positiva desde as primeiras horas do dia devido a avanços nas negociações sobre um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, o mercado acionário em Nova York foi impulsionado após o anúncio do Fed.

O S&P 500, indicador de referência do mercado americano, fechou com forte alta, de 2,24%.

A principal reação positiva ao Fed, porém, veio da Nasdaq, que pulou 3,77%. É nesse mercado, dominado por médias empresas do setor de tecnologia que dependem de crédito para crescer, que variações nos juros costumam ter maior impacto.

O índice Dow Jones, composto por três dezenas de empresas de grande valor e com menor dependência de empréstimos, subiu 1,55%.

Projeções apontam aperto mais forte na política monetária

A trajetória da taxa de juros mostrada nas novas projeções dos formuladores de política monetária do Fed veio mais dura do que o esperado.

Isso reflete a preocupação do banco central americano com a inflação, que se moveu mais rapidamente e ameaçou se tornar mais persistente do que o estimado.

Autoridades do Fed revisaram fortemente suas projeções para as taxas de juros para este ano, em comparação com a reunião realizada há três meses, quando previam três aumentos de taxa de 0,25 ponto percentual em 2022, seguidos por mais cinco em 2023 e 2024.

Os formuladores de política monetária dos Estados Unidos agora esperam mais seis aumentos em 2022, além do movimento de março.

"Serão sete aumentos [da taxa de juros], contando com a de hoje", explica Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Mesmo com os aumentos de juros mais rígidos agora projetados, a inflação deve permanecer acima da meta de 2% do Fed, ficando em 4,1% neste ano e caindo apenas para 2,3% até 2024.

O crescimento econômico previsto é de 2,8% para este ano, uma queda acentuada ante a taxa de 4,0% projetada em dezembro.

A taxa de desemprego deve cair para 3,5% neste ano e aí permanecer no próximo, mas deve subir ligeiramente para 3,6% em 2024.

Com Reuters e Financial Times

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