Gestores apontam boas oportunidades na Bolsa com volta das atividades

Ações de empresas mais dependentes da economia doméstica estão com preços abaixo da média, avaliam especialistas

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São Paulo

O avanço da vacinação entre jovens e adultos e a redução no número de internações e mortes por causa da Covid reforça o cenário de que 2022 deve apresentar alguma recuperação na economia.

Nesse sentido, mesmo com as perspectivas de um crescimento baixo da economia do país para este ano, gestores de fundos avaliam que existem boas oportunidades na Bolsa de Valores em ações de empresas que se beneficiam do ciclo de retomada das atividades e do retorno a uma rotina mais próxima à pré-pandêmica.

Em especial, no caso de negócios de consumo e varejo, que tiveram em 2021 resultados até melhores do que em 2019, antes dos impactos da pandemia. É o caso dos administradoras de shoppings e redes de vestuário, por exemplo.

pessoas caminhando centro São Paulo prédio Bolsa de Valores
Pessoas caminham em frente ao prédio da Bolsa de Valores brasileira, a B3, no centro de São Paulo - Amanda Perobelli - 9.mar.2021/Reuters

Fundador e diretor de investimentos da gestora de recursos Hix Capital, Rodrigo Heilberg diz que tem carregado no portfólio dos fundos ações de empresas como Iguatemi e grupo SBF, controlador da Centauro.

Dados divulgados no final de janeiro, assinala o gestor, mostraram que os shoppings da rede Iguatemi reportaram recorde de vendas no quarto trimestre de 2021, com um volume de R$ 4,7 bilhões que representou um crescimento de 30,6% na comparação com o mesmo período de 2020 e de 11,8% ante igual intervalo em 2019. "Com as vendas fortes, os aluguéis estão em níveis robustos", afirma o gestor.

Heilberg diz que a alta recente do Ibovespa nos primeiros meses do ano foi sustentada principalmente pela entrada de fluxo estrangeiro no mercado local. O Ibovespa, principal índice acionário do mercado local, acumula uma alta de aproximadamente 13,6% no ano, até sexta.

Só que os investidores internacionais, afirma o gestor, costumam alocar os recursos destinados à Bolsa brasileira majoritariamente em papéis de grandes empresas exportadoras de commodities ou de bancos.

"Vemos muitas oportunidades interessantes em setores focados no mercado doméstico que ficaram para trás", afirma o fundador da Hix.

Ele acrescenta que o segmento agrícola, por meio de posições nas empresas Boa Safra, Brasil Agro e Vittia, e de energia, via Light e Eneva, também compõem a carteira dos fundos.

Sócio fundador e gestor da GTI Administração de Recursos, André Gordon aponta BR Malls, Vulcabras e Pão de Açúcar entre as ações no portfólio que espera que se beneficiem não somente do ambiente de normalização das atividades, bem como das estratégias próprias de crescimento das empresas.

"O Pão de Açúcar vem se reestruturando nos últimos anos, vendeu alguns ativos não essenciais como os pontos do Extra, vai voltar a investir na sua principal marca e hoje vale cerca de um terço do que deveria", afirma o gestor da GTI.

Além dos nomes de caráter mais doméstico, Gordon diz que gosta neste momento de papéis relacionados à dinâmica de crescimento em escala global.

É o caso, por exemplo, da produtora de componentes automotivos Iochpe-Maxion, que tem boa parte da receita oriunda do exterior, bem como das exportadoras de commodities Vale, Petrobras, Gerdau e Suzano.

"O Itaú Unibanco, que apresentou números bastante sólidos em 2021 e que deve voltar a entregar um resultado robusto neste ano, também é uma posição importante nos nossos fundos", acrescenta o gestor da GTI.

Sócio fundador da Apex Capital, Paulo Weickert diz que tanto o Itaú como o BB (Banco do Brasil) e o BTG Pactual apresentaram resultados fortes no quarto trimestre, acima do consenso de mercado, se destacando frente aos pares na última temporada de balanços.

Apesar do baixo crescimento econômico esperado para o ano e a consequente desaceleração na concessão de crédito, Weickert afirma que os juros de volta aos dois dígitos vão compensar parte desse impacto negativo nos balanços dos bancos.

"A gente acha que a Bolsa está barata e que têm várias oportunidades", afirma o sócio da Apex, que aponta Iguatemi, Lojas Renner, Arezzo e Locamerica entre as ações nas carteiras dos fundos mais bem posicionadas para tirar melhor proveito da retomada das atividades à frente.

Gestor da Neo Investimentos, Augusto Lange diz que, dentro do setor financeiro, prefere os papéis de seguradoras aos dos bancos.

"As seguradoras tiveram um aumento expressivo da sinistralidade pelas internações hospitalares e pelo número de mortes. Isso tende a arrefecer ao longo dos próximos meses se não tivermos nenhum repique da pandemia", afirma Lange, lembrando que os bancos precisam lidar com a redução na demanda por crédito frente a uma economia que não cresce e com a crescente concorrência trazida pelas fintechs.

Ele diz também gostar de empresas do ramo de vestuário, pelo impacto positivo gerado pela volta às atividades presenciais e o fluxo às lojas. Também pesam a favor uma possível descompressão nos custos das matérias-primas por causa da valorização do real e da desaceleração na inflação de insumos.

Já entre os segmentos da Bolsa que olha com uma cautela um pouco maior, o gestor da Neo aponta as empresas do ramo imobiliário.

A alta dos juros e dos financiamentos, afirma Lange, tende a provocar uma redução na demanda por parte dos compradores, com prováveis resultados trimestrais fracos das incorporadoras ao longo do ano.

"Assim como já foi no ano passado, a volatilidade deve continuar presente na Bolsa brasileira em 2022, mas pode ser algo que venha a agregar valor, porque começam a aparecer assimetrias nos preços das ações em relação ao que entendemos que a empresa possa valer", diz Isabel Lemos, gestora da Fator Administração de Recursos.

Ela ressalta, no entanto, que a estratégia de investimento em ações requer um horizonte de médio e longo prazo, de forma a suportar os solavancos que certamente irão ocorrer, mas sem perder de vista a expectativa de geração de caixa e de lucro das empresas para os próximos anos.

"Vimos que ações do setor de varejo tiveram uma performance fraca por conta das restrições impostas pela pandemia, mas algumas foram demasiadamente pressionadas", afirma Isabel, lembrando que nomes como Magazine Luiza, Via e Westwing passaram por uma brusca reprecificação por parte dos investidores ao longo dos últimos meses.

"Existem oportunidades no mercado brasileiro, mas vai ter volatilidade. Não é céu de brigadeiro", diz a gestora.

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