Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Grandes marcas de luxo suspendem operações na Rússia

LVMH e Kering juntam-se a Hermès, Chanel e Richemont em meio a pressão de consumidores sobre a guerra na Ucrânia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leila Abboud
Paris | Reuters

Hermès, Chanel e Richemont, proprietária da Cartier, suspenderam temporariamente as operações na Rússia, citando desafios operacionais e preocupações com a equipe à medida que as consequências da invasão da Ucrânia se espalham.

A LVMH, maior grupo de luxo em vendas, e a Kering, proprietária da Gucci e vice-líder no ranking, fizeram anúncios semelhantes nesta sexta-feira (4), assim como a britânica Burberry.

Várias marcas ocidentais, incluindo Apple, Microsoft, Ikea e Nike, suspenderam as vendas na Rússia rapidamente, levando críticos a dizer que os grupos de luxo estavam ficando para trás, esperando até nove dias após o início da invasão.

Pessoas andam em frente a vitrine de loja da Hermès em Moscou, na Rússia - Sergei Karpukhin - 9.dez.2015/Reuters

Usuários de redes sociais e participantes da Paris Fashion Week pressionaram os grupos de luxo a agir, com alguns dizendo que era indecente manter boutiques abertas em Moscou enquanto bombas estavam caindo em Kiev.

Observadores da indústria também expressaram preocupação com relatos de consumidores correndo até boutiques de luxo na Rússia para comprar relógios e bolsas caros e tentar se proteger da inflação, acrescentando que esses bens podem até ser usados ​​para contrabandear dinheiro para fora do país e desrespeitar sanções rígidas.

Quando a Louis Vuitton, maior marca da LVMH, postou uma mensagem no Instagram dizendo que estava "profundamente tocada pela trágica situação que se desenrola na Ucrânia" e se comprometendo a doar 1 milhão de euros para refugiados, provocou uma avalanche de comentários negativos, que incluíam: "Fechem suas lojas na Rússia se vocês estão falando sério" e "Parem de vender na Rússia!".

A LVMH, que possui mais de 70 marcas, como Moët & Chandon e Christian Dior, tem cerca de 3.500 funcionários na Rússia e opera 120 lojas.

A marca francesa Hermès foi a primeira, dizendo que fecharia temporariamente as lojas na Rússia e pausaria todas as atividades comerciais a partir da noite de sexta-feira. A fabricante das bolsas Birkin não deu motivos para a decisão. Possui três lojas no país e cerca de 60 funcionários.

Horas depois, a Chanel anunciou um movimento semelhante, citando suas "preocupações crescentes com a situação atual, a crescente incerteza e a complexidade de operar".

"Não entregaremos mais na Rússia, fecharemos nossas boutiques e já suspendemos nosso ecommerce", afirmou a empresa em comunicado.

A Chanel irritou usuários de redes sociais na quinta-feira quando chamou a invasão da Ucrânia de "conflito" e disse que doaria 2 milhões de euros para organizações de ajuda a refugiados que operam nas fronteiras da Ucrânia. Seguidores exigiram que a marca, que emprega 300 pessoas e tem cinco boutiques na Rússia, parasse de vender por lá.

A Richemont, com sede na Suíça, proprietária da Cartier e da Van Cleef & Arpels, disse que suspendeu as atividades comerciais na Rússia em 3 de março, "dado o atual contexto global".

"Continuaremos a monitorar os desenvolvimentos e adaptar nossas medidas", acrescentou.

Embora as empresas não divulguem números específicos, os analistas estimam que a Rússia não é um mercado líder de luxo, apesar de abrigar uma classe oligarca que agora é alvo de sanções. O UBS calcula que LVMH, Hermès, Kering e Burberry obtêm menos de 1% da receita no mercado, mesmo levando em conta consumidores russos que compram no exterior. Na Richemont, que tem uma presença maior em joias, os compradores russos respondem por cerca de 2% das vendas.

O mercado de luxo russo é marginal em comparação com os EUA e a China, os dois maiores mercados do setor, onde a demanda cresceu independentemente da crise da Covid-19. "Em dólares, isso equivale a cerca de US$ 9 bilhões, com gastos chineses representando 6%, e americanos, 14%", escreveu Flavio Cereda, analista da Jefferies, em nota.

O fato levou alguns a questionar por que os grupos de luxo arriscariam o risco reputacional de continuar operando na Rússia quando o impacto comercial da pausa parecia administrável. Além disso, à medida que o impacto das sanções financeiras e da interrupção da cadeia de suprimentos se aprofunda, será mais difícil reabastecer as lojas na Rússia ou manter as operações de comércio eletrônico que exigem o cumprimento de pedidos do exterior.

Neri Karra, uma empreendedora que fundou uma marca de bolsa ética de mesmo nome e ensina práticas de negócios na Universidade de Oxford, disse que as marcas de luxo e moda têm que agir rapidamente.

Eles não têm mais o luxo de ficar em silêncio. Você não pode afirmar ser uma marca ética e sustentável e continuar vendendo na Rússia"

Neri Karra

dona de marca de bolsas

Tradução de Marcelo Azevedo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.