Impasse entre Rússia e Ucrânia freia recuperação do mercado

Bolsa cai e dólar sobe, apesar de ganho da Petrobras com mega-aumento dos combustíveis

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São Paulo

A ausência de avanços nas negociações entre Rússia e Ucrânia e sinais mais fortes de que a inflação pode causar ainda mais estragos na economia global levaram mercados financeiros do Ocidente a oscilar em uma região negativa nesta quinta-feira (10).

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, recuou 0,21%, aos 113.663 pontos. Com a baixa nesta quinta, o mercado acionário doméstico perdeu parte do avanço de 2,5% da véspera, atribuído a uma onda global de otimismo gerada por aparentes progressos nos diálogos para o fim da guerra.

Nesta quinta, porém, o primeiro encontro dos chanceleres Serguei Lavrov (Rússia) e Dmitro Kuleba (Ucrânia) terminou sem acordo.

Indicando preocupação de investidores com as aplicações financeiras mais arriscadas, o dólar fechou com ligeira alta de 0,11%, a R$ 5,0170. Na máxima do dia, a moeda chegou a subir mais de 1%, a R$ 5,0760.

Homem passa fumando diante de painel eletrônico em casa de câmbio em São Petersburgo, na Rússia
Homem fumando diante de painel eletrônico em casa de câmbio em São Petersburgo, na Rússia - Anton Vaganov - 10.mar.2022/Reuters

Bolsas europeias também tiveram um dia negativo. Londres, Paris e Frankfurt, as mais importantes da região, perderam 1,27%, 2,83% e 2,93%, respectivamente.

Nos Estados Unidos, o principal indicador do mercado de ações, o S&P 500, recuou 0,43%. O índice Dow Jones, que reúne as companhias americanas de maior valor, perdeu 0,34%. A queda mais acentuada estava concentrada nas empresas de tecnologia de maior potencial de crescimento listadas na Nasdaq, que caiu 0,95%.

Além da ausência de notícias positivas sobre a guerra na Ucrânia, dados do governo americano divulgados nesta quinta demonstraram que a inflação anual no país renovou a maior alta em 40 anos, subindo 7,9%.

Sem uma trégua na guerra e a consequente manutenção da escalada na valorização do petróleo, os próximos relatórios sobre a inflação podem apresentar avanços ainda maiores no custo de vida do consumidor americano.

Um contexto inflacionário agravado pelo conflito na Europa tende a pressionar ainda mais o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a aumentar a taxa de juros do país a partir da próxima reunião do seu comitê de política monetária, marcada para os próximos dias 15 e 16 de março.

A depender do tamanho e da velocidade do crescimento da taxa –hoje praticamente zerada–, mercados de ações em todo o mundo tendem a perder capital para os títulos do Tesouro americano, considerados a aplicação mais segura do mercado mundial.

No centro da pressão inflacionária está o petróleo, cujo preço do barril do tipo Brent recuava 1,85% no início da noite desta quinta, a US$ 109,08 (R$ 550,93), após ter avançado a US$ 118 pela manhã.

"Os investidores estão oscilando entre esperança e medo ligados a um possível cessar-fogo ou algum tipo de resultado positivo [na Ucrânia]", disse Mike Mussio, presidente da FBB Capital Partners, ao The Wall Street Journal.

Na quarta-feira (9), expectativas sobre o aumento da oferta de petróleo ajudaram a derrubar o preço da commodity. Na ocasião, os Emirados Árabes Unidos sinalizaram apoio a um aumento da produção.

O embaixador do país em Washington, Yousuf Al Otaiba, afirmou que é a favor de um aumento na produção. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também disse que os Emirados Árabes estavam dando suporte ao acréscimo.

Horas depois, o ministro da Energia dos Emirados Árabes Unidos, Suhail al-Mazrouei, disse no Twitter que o país acredita "no valor que a Opep+ traz para o mercado de petróleo", em referência ao cartel formado pelos países produtores do qual os Emirados Árabes Unidos fazem parte.

Desde o avanço das tropas russas em território ucraniano, em 24 de fevereiro, a cotação do petróleo já subiu 12,59%.

A pressão sobre o preço foi ampliada pela decisão do presidente Joe Biden de determinar o banimento das importações da matéria-prima produzida na Rússia, que é um dos maiores exportadores globais.

Na última terça-feira (8), quando ocorreu a confirmação do embargo americano, o barril do Brent fechou valendo US$ 127,98, aproximando-se do recorde de US$ 147,50 de julho de 2008.

Não é só a guerra que vem acelerando o preço do petróleo. Desde o final do ano passado, a Opep e seus aliados se recusam a atender os pedidos do Ocidente por um aumento mais rápido na oferta da matéria-prima.

A necessidade de crescimento da produção já se apresentava como algo urgente devido ao crescimento da demanda após a reabertura econômica possibilitada pelo avanço da vacinação contra a Covid-19. Somente neste ano, a alta acumulada é de 40,25%, mais da metade desse avanço (24,51%) já tinha acontecido antes do início da guerra.

Petrobras sobe com anúncio de mega-aumento nos combustíveis

Ações da Petrobras subiram nesta quinta após a companhia ter anunciado mais cedo reajustes nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias. As altas entram em vigor na sexta-feira (11).

Os papéis preferenciais (que não dão direito a voto, mas têm preferência no recebimento de dividendos) saltaram 3,50%. As ações ordinárias (com direito a voto) avançaram 2,80%.

Pressionada pelo avanço das cotações do petróleo com a guerra entre Rússia e Ucrânia, a empresa controlada pelo governo federal elevará a gasolina em 18,8% para as distribuidoras. Para o diesel, o aumento é ainda maior, de 24,9%. O valor subirá quase R$ 1 por litro, de R$ 3,61 para R$ 4,51. O gás de cozinha terá reajuste de 16,1%.

A disparada do preço do petróleo no mercado internacional reforçou o temor de investidores sobre o debate político quanto à paridade internacional de preços da Petrobras.

Na última segunda-feira (7), as ações da companhia afundaram mais de 7% após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter criticado o sistema que equipara o valor dos combustíveis no Brasil à flutuação da cotação da matéria-prima e do dólar.

O tombo na Bolsa levou a Petrobras a perder R$ 34,7 bilhões em valor de mercado em um único dia.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o novo preço a ser praticado pela Petrobras ainda tem cerca de 10% de defasagem na gasolina e que isso não deverá ser corrigido no curto prazo.

Ainda no setor de commodities, a Vale subiu 3,30%, sinalizando recuperação parcial dos tombos recentes provocados por expectativas negativas quanto a intervenções da China para esfriar os preços do mercado de commodities metálicas.

A Embraer afundou 14,93%, liderando as baixas na Bolsa. A queda ocorreu um dia depois de a companhia ter informado lucro líquido de R$ 11,1 milhões no quarto trimestre, revertendo prejuízo de R$ 7,7 milhões sofrido um ano antes.

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