Descrição de chapéu Financial Times Guerra na Ucrânia Rússia

Investidores lutam para negociar ativos russos enquanto sanções atingem o país

Gestores de fundos estrangeiros detêm pelo menos US$ 150 bilhões em ações e títulos russos

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Philip Stafford Tommy Stubbington
Londres | Financial Times

Investidores globais com pelo menos US$ 150 bilhões em títulos russos em seus livros estão correndo para encontrar maneiras de realizar negócios depois que as sanções ocidentais congelaram o país fora do sistema financeiro global.

Os investidores estrangeiros detinham US$ 20 bilhões (R$ 103 bilhões) em dívidas em dólares da Rússia e títulos soberanos denominados em rublos no valor de US$ 41 bilhões (R$ 210 bilhões) no final de 2021, segundo dados do banco central russo. As participações em ações russas somavam US$ 86 bilhões (R$ 442 bilhões), segundo dados da Bolsa de Moscou.

Sede do banco central da Rússia em Moscou - Sergei Ilnitsky - 28.fev.2022/EFE

Mas a exclusão de muitos bancos russos da rede de pagamentos Swift significa que os investidores estrangeiros agora estão emperrados, sem saber ao certo como podem sair sem ser atingidos pelas novas sanções e sem encontrar contrapartes interessadas e capazes de comprar.

"Os mercados têm precificado um nível extremamente conservador em geral porque, francamente, os mercados apenas recuaram e disseram 'vamos esperar para ver o que acontece'", disse Rick Rieder, diretor de investimentos de renda fixa global na BlackRock, um dos maiores detentores ocidentais de dívida soberana russa, segundo dados da Bloomberg. "Não há muita negociação real acontecendo. Ninguém quer estar do outro lado."

No fim de semana, países ocidentais disseram que iriam barrar alguns bancos russos do Swift, a rede de mensagens que sustenta os pagamentos globais, enquanto também bloqueavam a capacidade do banco central de acessar US$ 630 bilhões em reservas estrangeiras. A partir de terça-feira (1), os Estados Unidos proibirão suas instituições financeiras de comprar novos títulos do governo russo.

A maioria das negociações parou. O banco central russo proibiu na segunda-feira que instituições estrangeiras vendessem títulos locais na Bolsa de Moscou e suspendeu a negociação de ações e derivativos na Bolsa durante todo o dia.

Enquanto isso, as bolsas de valores no exterior suspenderam a negociação de listagens das empresas mais conhecidas da Rússia. A Deutsche Börse, maior operadora de bolsa de valores da Alemanha, suspendeu a negociação de ações de 16 empresas russas, incluindo Aeroflot, Rosneft, Sberbank, VTB e VEB Finance.

As ações do banco russo VTB foram suspensas na terça na Bolsa de Valores de Londres, afetando a capacidade dos traders de vender as posições dos clientes.

O valor dos títulos listados em Londres, como Sberbank, TCS e Gazprom, despencou na segunda, mas muitos traders também evitaram voluntariamente fazer preços por medo das repercussões --preferindo esperar por mais orientações de seus departamentos de compliance.

A Nasdaq e a Bolsa de Valores de Nova York interromperam temporariamente as negociações em alguns grupos listados na Rússia enquanto buscam mais informações sobre o impacto das sanções após a invasão russa à Ucrânia.

As regulamentações dos EUA dão às bolsas o poder de suspender a negociação de ações e garantir que os investidores tenham total divulgação de qualquer informação relevante que possa afetar os preços das ações. Entre as empresas que a Nasdaq suspendeu estão Nexters, Yandex e Ozon Holdings.

Uma questão para corretores e investidores era se suas contrapartes comerciais seriam expulsas do sistema Swift. "Estou tendo que não negociar com a Rússia até obter uma lista", disse um operador de banco de investimento.

Alguns corretores estavam preocupados porque, mesmo que conseguissem fechar um acordo, havia pouca garantia de que seria liquidado e o ativo trocado por dinheiro. A maioria das transações internacionais são feitas em dólares americanos, e os bancos são responsáveis por gerenciar o risco cambial dessas transações.

"É tão confuso. Se você negocia algo e não consegue liquidá-lo, fica com a exposição", disse um trader de uma corretora americana.

Essas preocupações foram exacerbadas por preocupações de que os pagamentos de negociações e cupons de títulos seriam congelados em contas nos bancos custodiantes ou em depositárias internacionais de títulos, onde os negócios são liquidados e os saldos entre bancos centrais e bancos comerciais são atualizados.

As duas maiores depositárias, Euroclear e Clearstream da Bélgica, juntas detêm cerca de 50 trilhões de euros (R$ 288 trilhões) em ativos sob custódia para investidores globais, tornando-as um pilar do sistema financeiro. Os negócios geralmente são finalizados com a transferência de saldos entre contas de clientes mantidas na depositária ou entre as duas companhias de mercado.

Na noite de segunda, a Clearstream disse que o rublo não seria mais uma moeda de compensação qualificada, com efeito imediato.

Pessoas fazem fila para usar um caixa eletrônico em São Petersburgo no domingo (27/02) - Anton Vaganov/Reuters

A Euroclear disse que na terça desativaria o VTB, principal canal entre os clientes da Euroclear e da Clearstream, e interromperia as negociações denominadas em rublos que ocorrem fora da Rússia a partir de 3 de março. Ela também disse que não poderia aceitar fundos recebidos de seu outro banco correspondente, o grupo holandês ING. Correspondente bancário envolve um banco que presta serviços a outro, muitas vezes em outro país.

Alguns corretores depositaram suas esperanças em que a Euroclear encontrasse um novo banco em conformidade com as regulamentações da Rússia. No entanto, esse processo pode levar tempo.

"Configurar um novo relacionamento de banco correspondente pode levar meses. É um processo muito oneroso. Geralmente você é incentivado a visitar o local para a devida diligência ou explicar por que não o fez", disse Virginie O'Shea, fundadora da consultoria de mercado de capitais Firebrand Research.

Carsten Brzeski, chefe global de macro do ING, disse que a Rússia poderia combater o congelamento de ativos bancários adotando uma moratória nos pagamentos de dívidas corporativas. Na segunda, o presidente Vladimir Putin proibiu os russos de transferir moeda estrangeira para o exterior, dificultando o pagamento de passivos estrangeiros pelos bancos.

A BlackRock acredita que a Rússia poderá dar calote em seus títulos devido à incapacidade de fazer pagamentos às contas de investidores. "É a diferença entre a capacidade de pagar e o desejo de pagar", disse Rieder.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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