Descrição de chapéu Coronavírus Ásia

Covid na China e guerra derruba petróleo abaixo de US$ 100 e faz Bolsas recuarem

Surto reacende temor de quebra de cadeias de suprimentos; Bolsa de Hong Kong vai a menor índice desde 2008

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O temor de que uma nova onda de Covid-19 na China volte a tumultuar os mercados globais em meio a um contexto de guerra fez o petróleo despencar abaixo dos US$ 100 e Bolsas —inclusive a brasileira— recuarem pelo mundo nesta terça-feira (15).

A preocupação de investidores e analistas é que novos lockdowns no país asiático afetem o funcionamento de fábricas e gerem novas interrupções nas cadeias de suprimentos, que ainda não se recuperaram do choque com a crise sanitária de 2020.

Mulher ao lado de tela mostrando o Índice Hang Seng em Hong Kong, em 15 de março de 2022 - Dale de la Rey/AFP

O aumento de infecções na China ameaça as perspectivas para a segunda maior economia do mundo. Empresas do país listadas na Bolsa de Hong Kong atingiram os menores patamares desde 2008, afundando as ações chinesas para mínimas em 21 meses.

"Apesar dos dados de fevereiro [da economia da China] terem superado em muito as expectativas, cresce o receio com o futuro da economia chinesa frente ao salto do número de casos de ômicron e consequente reintrodução de lockdowns em regiões populosas em função da política de 'zero casos' de Pequim", aponta a equipe de análise da Guide Investimentos, em relatório.

Segundo analistas ouvidos pela agência Reuters, a crise na Ucrânia também pesava no sentimento, ressuscitando temores sobre o aumento das diferenças entre China e Estados Unidos. Nesta semana, os americanos levantaram preocupações sobre o alinhamento do país asiático com a Rússia, levando investidores globais a abandonar ações chinesas listadas no exterior.

Com isso, as ações na China caíram 5% nesta terça, levando as perdas anuais para perto de 20%.

O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 4,6%, para mínima desde 15 de junho de 2020, enquanto o índice de Xangai teve queda de 5,23%. O índice Hang Seng de Hong Kong caiu 5,7%, para mínima desde 12 de fevereiro de 2016, com o China Enterprises Index perdendo 6,6%, ​chegando ao menor nível desde 29 de outubro de 2008. Em direção oposta, em Tóquio, o principal índice de ações teve alta de 0,15%.

No Twitter, analistas de mercado falavam em carnificina, apontando que as ações chinesas listadas em Hong Kong tiveram seu pior dia desde a crise financeira global.

As notícias fizeram o preço do petróleo recuar, com a perspectiva dos investidores de que interrupções na cadeia de suprimentos possam esfriar a demanda global. As negociações de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia, por outro lado, diminuíram os temores de mais interrupções no fornecimento da commodity.

Neste cenário, o barril do petróleo voltou a operar abaixo da marca de US$ 100 (R$ 506,41) pela primeira vez desde fevereiro. Após a queda de 5,12% na véspera, o preço do petróleo registrava baixa de 8,25% nesta terça, negociado a US$ 98,50 (R$ 505).

No Brasil, o impacto foi sentido sobretudo pela desvalorização das commodities. O Ibovespa recuou 0,88%, aos 108.959 pontos.

O movimento puxou para baixo as ações da Petrobras, que marcaram perdas próximas de 2% na B3.

No câmbio, o dólar encerrou em alta de 0,80% frente ao real, cotado a R$ 5,1580 para venda. Desde segunda o real figura entre as moedas de pior desempenho global. Nesta terça, revezou com o peso colombiano o posto de maior queda diária entre os principais pares do dólar.

O recuo no mercado internacional não deve representar, contudo, algum alívio para os preços de todos os combustíveis no Brasil.

"Apesar da forte queda nos últimos dias, basta lembrar que não faz pouco tempo este mesmo contrato do Brent era cotado a US$ 139 (R$ 703,90)", diz André Perfeito, economista-chefe da Necton, que não espera por recuos no preço da commodity no âmbito doméstico por conta do movimento mais recente. "Há ainda alguma diferença entre os preços domésticos e externos."

A reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que decide nesta quarta-feira (16) o novo patamar da taxa básica de juros, a Selic, também aparece como um dos destaques no radar dos investidores. Para ex-diretores da autoridade monetária, uma alta de 1,5 ponto percentual, o que levaria a taxa de juros para 12,25% ao ano, não pode ser descartada.

O mercado, porém, esperava uma alta de 1 ponto percentual na reunião desta quarta.

Nos Estados Unidos, em que os principais índices acionários fecharam em queda na sessão passada, o dia foi de valorização dos papéis, em especial do setor de tecnologia.

O S&P 500 avançou 2,14%, enquanto o Nasdaq teve ganhos de 2,92% e o Dow Jones, de 1,82%.

A reunião do Federal Reserve (banco central dos EUA) nesta quarta-feira (16) e sinalizações da autoridade monetária sobre os planos para os juros americanos dividem com os conflitos no Leste Europeu as atenções dos investidores globais.

Preços do minério de ferro caem devido ao surto de Covid

Assim como aconteceu com o petróleo, os contratos futuros de minério de ferro negociados nas bolsas de Dalian e Cingapura caíram nesta terça-feira.

O impacto do surto de Covid na China —maior produtora de aço do mundo— se soma às preocupações dos traders com as consequências do conflito Rússia-Ucrânia.

Produtos siderúrgicos e outras matérias-primas também caíram. Os preços, no entanto, reduziram as perdas após a divulgação de indicadores econômicos chineses melhores do que o esperado, incluindo um aumento anual de 7,5% na produção industrial em janeiro a fevereiro.

O minério de ferro mais negociado encerrou as negociações diurnas em queda de 4,6%, a 756 iuanes (US$ 118,48) a tonelada, depois de atingir 742 iuanes no início da sessão. Na Bolsa de Cingapura, o contrato de abril do ingrediente siderúrgico caía mais de 6%, a US$ 137,65 dólares, por volta das 9h (horário de Brasília).

Onda de Covid pode atrapalhar cadeias globais

O aumento nas infecções registradas na China deve comprometer ainda mais as já desgastadas cadeias de suprimentos globais. Segundo o New York Times, autoridades chinesas estão impondo restrições a moradores, fechando fábricas e interrompendo o tráfego de caminhões.

O país adotou uma abordagem de tolerância zero, que estabelece bloqueios rigorosos e testes em massa. Como várias das maiores cidades industriais do país estão lutando contra surtos, essas medidas estão afetando as fábricas e as redes de transporte chinesas.

De acordo com o jornal americano, as medidas sanitárias estão interrompendo a produção de produtos acabados, como carros Toyota e Volkswagen, além de componentes como placas de circuito e cabos de computador.

Além disso, os custos de frete internacional, problema que contribuiu para a inflação global no ano passado, começaram a subir novamente. Navios estão enfrentando atrasos de pelo menos 12 horas nos portos chineses e poderão ter que esperar até duas semanas para sair.

Nesta segunda, a empresa gigante taiwanesa de eletrônica Foxconn, um dos principais fornecedores da Apple, suspendeu suas operações no centro tecnológico na cidade de Shenzhen, que foi confinada pelo governo chinês devido a uma nova onda de contaminação por Covid-19.

No entanto, analistas do banco JPMorgan disseram que a produção de iPhones não deve sofrer grandes implicações.

"Acreditamos que o impacto do bloqueio de Shenzhen na produção do iPhone deve ser limitado (aproximadamente 10%, no máximo, da produção global do iPhone), devido à baixa temporada e à pequena exposição da produção à Shenzhen", escreveu o analista Gokul Hariharan em relatório na segunda-feira.

Segundo o JPMorgan, a região de Shenzhen representa menos de 20% da capacidade total de produção do iPhone pela Foxconn, com a grande maioria das linhas de montagem localizadas em Zhengzhou, um centro industrial e de transporte.

O banco não projeta um novo movimento de formação de estoques em todo o setor devido a essas suspensões de produção, mas alerta que lockdowns na região de Xangai podem ser mais críticos.

O lockdown em Shenzhen, o Vale do Silício da China, também não terá um grande impacto na produção de semicondutores, disse o banco, embora ressalte que o fornecimento global de painéis LCD pode ser prejudicado.

Com Reuters, Financial Times e The New York Times

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.