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O que sobe junto com os combustíveis
Juros, preços das passagens de avião, de viagens por app, e o custo de praticamente tudo que é transportado por caminhão no Brasil. Tudo isso e mais um pouco já subiu ou deve aumentar com o reajuste dos combustíveis e do gás de cozinha anunciado pela Petrobras na última quinta.
Entenda: a decisão da estatal veio diante da pressão de acionistas por reajustes e o receio de desabastecimento manifestado por integrantes da companhia e por políticos do Nordeste.
Juros: pressionada também pela divulgação da inflação de fevereiro, a taxa DI (Depósitos Interbancários) de curto prazo –para janeiro de 2023– encerrou a sexta (11) em 13,2% ao ano. Uma alta de 0,29 ponto percentual em relação ao fechamento da quarta (9).
No chão: a Uber anunciou que vai elevar os preços das viagens a partir desta semana em 6,5%, de forma temporária, e também prometeu um pacote de R$ 100 milhões. A 99 disse que vai aumentar em 5% o km rodado no ganho do motorista.
- A categoria, porém, teme que os auxílios oferecidos pelos apps sejam insuficientes.
- Apesar de ameaças feitas na quinta (10), o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) diz não ver risco de paralisação de caminhoneiros no país por causa do mega-aumento no preço do diesel.
No ar: o querosene de aviação também aumentou com a disparada das cotações internacionais do petróleo, e, por isso, Gol, Latam e Azul preparam aumento no valor das passagens aéreas ainda para este mês de março.
Mais sobre mega-aumento da Petrobras:
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Um semestre com inflação de dois dígitos
O Brasil está há um semestre com inflação ao consumidor acumulada acima de 10%. Em fevereiro, o IPCA teve alta de 1,01%, atingindo 10,54% na soma de 12 meses, informou o IBGE na sexta (11).
O resultado veio acima da projeção do mercado, que esperava alta de 0,95%.
Em números: a alta em fevereiro foi puxada pelo segmento de educação, com variação de 5,61% e impacto de 0,31 p.p. (ponto percentual). O mês é marcado pelo reajuste das mensalidades escolares.
Todos os nove grupos pesquisados registraram aumento de preços, com destaque também para o de alimentos e bebidas, com alta de 1,28% e impacto de 0,27 p.p.
O que explica: o início do ano foi de prejuízos no campo causados por condições climáticas adversas. No Sul, teve seca, no Sudeste, excesso de chuvas. Fenômenos como esses se tornaram mais frequentes e intensos com a mudança climática.
O que mais subiu: as perdas do campo chegaram às prateleiras dos supermercados. Destaque para a disparada de alimentos como batata-inglesa (23,49%) e cenoura (55,41%) só no mês passado.
Deve piorar: o mega-aumento da Petrobras e os impactos da guerra nos preços das commodities devem pressionar a inflação a partir de março e fizeram analistas subirem suas estimativas para o IPCA em 2022.
Os preços de alimentos e matérias-primas para rações podem subir entre 8% e 20% no mundo todo por causa do conflito na Ucrânia, alertou a FAO, agência de alimentos e agricultura da ONU.
Dólar deve continuar em queda?
O real deve seguir se valorizando nas próximas semanas com os impactos econômicos gerados pela guerra na Ucrânia. Essa é a análise de gestores de fundos ouvidos pela Folha.
O que explica: a valorização de commodities de energia, agrícolas e metálicas aliada a um ciclo de alta nos juros cada vez mais agressivo para frear o avanço da inflação aumentam a atratividade do mercado brasileiro para os gringos.
- A Bolsa brasileira tem forte presença de empresas ligadas a materiais básicos e também de bancos, que veem sua rentabilidade crescer com a alta da Selic.
- Os estrangeiros também podem ganhar dinheiro tomando crédito em países com juros baixos e financiando empresas ou o governo brasileiro a taxas mais atrativas.
- Como há mais gente vendendo dólar para comprar real, a cotação da moeda americana no país cai.
Em números: os estrangeiros entraram com R$ 67,5 bilhões no mercado de ações brasileiro neste ano até 2 de março, segundo dados da B3. Em todo o ano de 2021, o saldo foi de R$ 102,3 bilhões.
Mais sobre a Bolsa:
A alta nos combustíveis e o aumento da inflação atingem em cheio diferentes setores, como o varejo e a aviação, mas carteira com ativos descorrelacionados só precisa de calibragem, sem grandes mudanças, afirma o colunista Marcos de Vasconcellos.
Fertilizante caro e difícil de achar
Está difícil (e bem caro) para os produtores brasileiros comprarem fertilizante. Os preços do insumo já haviam disparado com os nós logísticos provocados pela pandemia, e a invasão russa à Ucrânia prejudicou ainda mais a oferta de adubo no Brasil.
O que explica: o país importa 85% dos fertilizantes que consome e depende de 95% do potássio que vem de fora. Rússia e Belarus (que apoia o regime de Vladimir Putin) respondem por mais de um terço dos fertilizantes utilizados no Brasil.
Em números: o preço de importação do MAP, fosfatado muito utilizado no Brasil, teve alta de 35% entre 10 de fevereiro e 10 de março. A ureia teve aumento médio de 50%. Os dados são da Argus, uma das maiores agências de preços do mundo.
Por que importa: de acordo com a Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), as empresas têm estoques para três meses de vendas, o que garantiria a safrinha de milho.
Mas para o plantio de itens do segundo semestre essenciais para o agro brasileiro, como soja, arroz, feijão e parte do milho, a oferta do insumo está arriscada. As culturas de soja, milho e cana de açúcar consomem 72% dos fertilizantes usados no país.
De olho no futuro: enquanto procura garantir a oferta no curto prazo, o governo lançou na sexta o Plano Nacional de Fertilizantes, que tem entre os objetivos reduzir o peso das importações dos atuais 85% para cerca de 60% em 30 anos.
Para atingir essa meta, o governo planeja mudanças no arcabouço regulatório e tributário, bem como a concessão de subsídios e financiamentos públicos.
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