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PIB inflação

PIB volta ao tamanho de 2019, mas consumo das famílias e renda por cabeça ficam para trás

Renda per capita é ainda parecida com a de 2018 e quase 8% menor que a de 2013

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

A economia brasileira recuperou o que perdeu em 2020, ano da recessão da epidemia. Quer dizer, o tamanho da produção ou da renda, do PIB (Produto Interno Bruto), é um pouco maior do que em 2019, 0,56%, para ser preciso. Mas, quando se leva em consideração o tamanho da população, que aumentou, ainda há retrocesso em relação ao ano anterior ao da explosão da Covid.

Isto quer dizer que a renda (PIB) per capita é menor do que em 2019. Pior ainda, o nível de consumo das famílias retrocedeu bem mais —ainda está em um nível similar ao de 2018, que já era ruim. É um dos motivos do mal-estar social piorado —ou melhor, uma explicação em números desse mal-estar.

Essa tristeza já era sentida na carne pela maioria dos brasileiros e já estava insinuada nas estatísticas de salários. A massa de rendimentos do trabalho caiu de 2020 para 2021. Os trabalhos que aparecem são na maioria ruins, inseguros, precários e pagam pouco. A alta da inflação fez o resto do serviço, comendo poder de compra.

Vendedor de carnes em feira de rua no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes - 2.set.2021/Reuters

As projeções para este ano não são melhores. Segundo os economistas do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, a massa salarial deve cair mais 1% neste ano. A taxa de inflação será ainda muito alta até meados do ano (de 9% ao ano), o número de pessoas empregadas vai crescer pouco e os salários, na média, devem cair mais de 3%.

O crescimento do PIB deve ser lento por causa da alta forte das taxas de juros, incertezas por causa da eleição e, agora, por causa dos efeitos da guerra na Ucrânia.

Nesse ambiente de insegurança, de falta de perspectiva, de juros altos, as empresas devem jogar na retranca, suspendendo investimentos, que foram a fonte de crescimento de 2021. De positivo, o preço das mercadorias que o Brasil exporta, commodities (cerca de 70% das vendas), está em alta; governos dos estados vão gastar mais (com mais investimento e reajuste de salários de funcionários); o governo cortou imposto sobre a indústria, talvez faça mais algum favor fiscal (subsídio para combustíveis ou outro, com aumento de dívida).

O pessoal do Bradesco, até otimista, na média, prevê alta de 0,5% do PIB neste 2022. Na média das previsões privadas compiladas pelo Banco Central (no Boletim Focus), a previsão é de alta de 0,3% do PIB. É praticamente nada; em termos per capita, outro retrocesso. O PIB per capita em 2021 ainda era cerca de 7,7% menor que o de 2013, último ano antes da série de desastres.

Se o consumo das famílias não acompanhou o PIB, de onde veio esse crescimento de 2021?

De investimento, a despesa em novas instalações produtivas, casas, máquinas, equipamentos, softwares. A taxa de investimento em 2021 foi a maior desde 2014, antes do desastre recessivo (taxa de investimento: quanto do PIB foi destinado a aumentar a capacidade produtiva). No entanto, esse número parece um pouco inflado por tecnicalidades estatísticas. Ainda assim, não foi fraco.

O PIB cresceu 4,6% em 2021 (caíra 3,9% em 2020). No último trimestre do ano passado, aumentou 0,5% em relação ao trimestre anterior (julho a setembro). Foi até melhor do que o esperado e interrompeu dois trimestres seguidos de queda. Mas não é, obviamente, grande coisa (é uma coisinha).

Se, até o final de 2022, a economia continuar produzindo no mesmo ritmo do final de 2021, o PIB será uns 0,3% maior (isto é, o crescimento de 2022 será de 0,3% se não houver crescimento de um trimestre para outro em 2022). Levando em consideração um crescimento de 0,7% da população, quer dizer que por cabeça, na média, vamos empobrecer de novo ou, na prática, ficar mais ou menos na mesma.

É preciso também lembrar que a economia, o PIB, recuperou apenas o que perdeu em 2020 e mais um tico. Não recuperou o que deixou de crescer no biênio 2020-21. Isto é, o que teria crescido nestes dois anos se mantida a tendência recente.

Como saber "o que teria crescido"? É uma espécie de chute razoável, um chute informado. Depois da grande recessão de 2015-2016, a economia crescia cerca de 1,5% ao ano até a epidemia. Era pouco, mas bem melhor do que mais uma recessão horrível. Em suma, o saldo da queda de 2020 e da recuperação de 2021 ainda é negativo —o PIB poderia estar pelo menos 2,5% maior do que era em 2019.

Caso o PIB passe a crescer 2,5% ao ano a partir de 2023, apenas em 2027 a renda per capita voltaria ao nível de 2013. É um desastre inédito na história da República. Para que seja atenuado, seria preciso haver mudanças muito profundas e rápidas na economia brasileira. A disposição para tal revolução não parece à vista.

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