Descrição de chapéu Financial Times Rússia

Preço de commodities vai a pico desde 2008 por causa de guerra na Ucrânia

Nos EUA, preços do petróleo atingiram o maior nível desde 2008 nesta quinta

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Neil Hume Tom Wilson Emiko Terazono
Londres | Financial Times

Os preços globais das commodities estão a caminho da maior alta semanal em mais de 50 anos e os preços do gás natural na Europa atingiram um novo recorde, enquanto a guerra na Ucrânia desencadeia "movimentos excepcionais" nas matérias-primas, do petróleo ao trigo.

O índice S&P GSCI, um amplo barômetro do preço das matérias-primas globais, saltou 18% nesta semana, deixando-o a caminho do aumento mais forte registrado desde 1970, segundo dados da Refinitiv. Está agora no seu nível mais alto desde 2008.

Plantação de trigo em campo da região de Stavropol, na Rússia - Eduard Korniyenko - 7.jul.2016/Reuters

Os preços do petróleo nos Estados Unidos atingiram o maior nível desde 2008 nesta quinta-feira (3). Tudo, de trigo a alumínio e carvão, também disparou, em um movimento que terá efeitos profundos sobre as empresas e os consumidores globais.

"Os acontecimentos na Rússia e na Ucrânia estão desencadeando movimentos excepcionais nos preços das commodities, que podem ter implicações estruturais no fornecimento de longo prazo (...) mas também acreditamos que há ameaças críveis de destruição da demanda à medida que os preços das commodities derretem", disse Dominic O'Kane, analista do JPMorgan.

O West Texas Intermediate, referência do petróleo nos EUA, subiu 6%, para mais de US$ 116 o barril, enquanto o alumínio continuou sua marcha implacável, batendo outro recorde. O trigo estava sendo negociado em níveis vistos pela última vez em 2008.

Na Europa, os preços do gás natural no atacado chegaram a quase 200 euros por megawatt-hora, enquanto o carvão térmico —usado em usinas de energia— ultrapassou US$ 400 a tonelada. Os enormes ganhos vão aumentar ainda mais a inflação que os bancos centrais estão lutando para controlar, elevando o custo de vida em todo o mundo.

A Rússia é um dos principais fornecedores globais de petróleo, gás, metais e grãos. As sanções ocidentais a Moscou evitaram diretamente os recursos naturais, o que, em teoria, os deixa disponíveis para o comércio, mas bancos, seguradoras, companhias de navegação e parceiros comerciais estão efetivamente boicotando o país para reduzir o risco legal e para a reputação.

"Está ficando mais claro que o conflito Rússia-Ucrânia está tendo impacto na demanda por petróleo russo", disse Warren Patterson, analista do ING. "Os compradores estão cada vez mais relutantes em se comprometer." O petróleo Brent subiu 3%, para US$ 116,28 o barril. A Rússia exporta 5 milhões de barris de petróleo por dia —cerca de 5% da oferta global.

Em consequência da autossanção, os traders estão lutando para encontrar outras fontes de oferta em mercados que já estão apertados devido ao aumento da demanda, à medida que as economias dispararam após o relaxamento das restrições da pandemia. Isso está derrubando os fluxos de comércio estabelecidos em registro e alimentando ainda mais as pressões inflacionárias.

"Essa alta vai alimentar uma torrente de pressões inflacionárias à medida que os blocos de construção da economia global ficam cada vez mais caros", disse Ehsan Khoman, chefe de pesquisa de mercados emergentes do MUFG. "Acreditamos que as commodities estão agora marchando para níveis em que a destruição da demanda —por meio de preços ainda mais altos— se tornará predominante."

Com as exportações da Ucrânia e da Rússia praticamente paralisadas, o trigo disparou, com os futuros de Chicago nos níveis mais altos desde 2008, quando um aumento nos preços dos grãos desencadeou protestos e tumultos na África, Ásia e América Latina.

Os preços do trigo subiram quase 40% este mês. A Rússia e a Ucrânia respondem por pouco menos de 30% das exportações globais de trigo, enviando o grão para países do Oriente Médio, norte da África e Ásia.

Todos os portos de carga da Ucrânia estão fechados e, embora os portos russos do Mar Negro estejam abertos, o tráfego de navios praticamente parou. Com muitos agricultores ucranianos recrutados para lutar e fertilizantes e pesticidas em falta, há preocupações com a safra deste ano, já que o plantio de primavera do país normalmente começa no próximo mês.

A guerra na Ucrânia também abalou o mercado de carvão, com os preços de referência do carvão na Ásia subindo acima de US$ 400 a tonelada.

"Os compradores em mercados como Europa, Japão, Coreia do Sul e China estão lutando para lidar com sua exposição à oferta russa", disse Rory Simington, analista da Wood Mackenzie.

No início desta semana, as empresas de transporte MSC e Maersk, que lidam com remessas para a produtora russa de alumínio Rusal, suspenderam as reservas de carga de e para o país.

Reportagem adicional de Nic Fildes, em Sydney

Traduzido por Luiz Roberto M. Gonçalves

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