Descrição de chapéu PIB

PIB retoma pré-pandemia, mas reação é desigual e deve perder força em 2022

Parte de serviços, indústria e consumo seguem abaixo do pré-crise

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São Paulo e Rio de Janeiro

Depois de amargar tombo histórico com a chegada da pandemia em 2020, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro teve alta de 4,6% em 2021, retomando o patamar pré-coronavírus, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A reação, contudo, ainda é desigual: nem todos os componentes do indicador completaram essa recuperação.

Pela ótica da oferta, nos quase dois anos de pandemia, destacaram-se os subsetores de serviços de informação e comunicação, quase 18% acima do quarto trimestre de 2019, antes da Covid-19, além da indústria de construção (8,4%) e os serviços de transportes (5,6%).

No cômputo geral, o PIB ficou em nível 0,5% superior ao do final de 2019. À época, o indicador ainda tentava se desfazer das perdas geradas pela recessão de 2015 e 2016.

Fila para saque do auxílio emergencial em 2021, na avenida Sapopemba. (São Paulo) - Jardiel Carvalho/Folhapress

Na outra ponta dos segmentos, a dos que ficaram abaixo do patamar pré-pandemia, está a indústria de transformação, com uma contração de 3%.

Estão cerca de 1,5% abaixo do nível pré-crise a administração pública, as indústrias extrativas e de eletricidade, água e esgoto, e as outras atividades de serviços, que reúnem aquelas que dependem de aglomerações e contato social (restaurantes e turismo, por exemplo).

Pelos componentes da demanda, o consumo das famílias, motor da economia, também não voltou ainda ao patamar de 2019.

"Há uma recuperação heterogênea entre os setores. Isso está relacionado com a pandemia, que provocou mudanças de hábitos", afirma o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

Entre os grandes setores pesquisados pelo lado da oferta, a alta de 4,6% do PIB foi acompanhada pelos avanços de 4,7% em serviços e de 4,5% na indústria, após as perdas de 4,3% e 3,4% em 2020, respectivamente.

A agropecuária, que havia crescido 3,8% no ano anterior, recuou 0,2%, sob influência do clima adverso.

Pelo lado da demanda, houve crescimento de 17,2% nos investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), após baixa de 0,5% no ano anterior. Já o consumo das famílias avançou 3,6% em 2021, após queda de 5,4% em 2020.

Perda de fôlego em 2022

Em 2022, as previsões de analistas indicam perda de fôlego para o PIB, em um contexto de juros elevados, inflação persistente e possíveis impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Segundo economistas, a tendência é de estagnação do indicador neste ano. Em outras palavras, a previsão é de PIB próximo de 0% no acumulado até dezembro.

A mediana das projeções do mercado sinaliza avanço de 0,30% em 2022, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na quarta-feira (2) pelo BC (Banco Central).

"O cenário para 2022 é de estagnação, com inflação ainda alta e renda baixa. A política monetária também deve pesar, desacelerando a atividade", diz o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos.

"Ainda é complicado falar dos efeitos da guerra, mas um dos possíveis reflexos é a diminuição do crescimento global", completa.

O economista Lucas Maynard, do banco Santander, avalia que os serviços presenciais ainda têm espaço para crescer no Brasil ao longo do primeiro semestre de 2022, na esteira da reabertura de atividades.

"Os efeitos da reabertura não se encerraram em 2021", diz.

Contudo, a partir da segunda metade deste ano, o quadro tende a ficar mais complicado para o PIB, em razão do impacto mais forte dos juros elevados, aponta Maynard.

"A política monetária contracionista deve impactar, especialmente no segundo semestre."

Em boa medida, a alta de 4,6% do PIB em 2021 foi associada à base fragilizada de comparação com o ano inicial da pandemia e aos efeitos da reabertura da economia.

O resultado ficou próximo das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 4,5%.

"Boa parte do crescimento em 2021 se deve ao carrego estatístico. Além disso, houve impacto da reabertura da economia. Esses foram os dois fatores principais", afirma o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles.

"Tivemos ainda o efeito positivo do forte crescimento da economia global", acrescenta.

A XP diz que dados de alta frequência para o PIB do primeiro trimestre de 2022 apontam para elevação de 0,4%, mas a avaliação é que a economia brasileira deverá perder força nos próximos trimestres, refletindo fatores como aperto da política monetária, níveis de renda deprimidos e elevação das incertezas no ambiente econômico global. Por isso, a projeção para o resultado do ano ainda é de estabilidade.

Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total, diz que mantém a projeção de pequena contração em 2022, em torno de 0,5%, com o aperto monetário afetando negativamente o consumo das famílias e os investimentos.

O Bank of America espera crescimento de 0,5% neste ano, mas vê chances de um resultado maior. O Goldman Sachs projeta expansão de 0,8%.

Alta após fase inicial da pandemia

O crescimento de 4,6%, em 2021, é o maior desde 2010 (7,5%). O dado veio após queda de 3,9% em 2020, a mais intensa da série histórica do IBGE, com dados desde 1996.

"A distribuição deste crescimento foi desigual entre os setores e seus principais eixos consistiram em ramos de serviços, notadamente de informação e comunicação e de transporte, e na indústria de construção", comentou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

O IBGE também informou que, no quarto trimestre do ano passado, o PIB avançou 0,5% frente aos três meses imediatamente anteriores.

Nesse recorte, o resultado surpreendeu analistas, já que a mediana do mercado sinalizava elevação de 0,1%.

No quarto trimestre, entre os grandes setores, o destaque veio de serviços, com alta de 0,5%, segundo o IBGE. A agropecuária, com menos peso no PIB, subiu 5,8%. Já a indústria encolheu 1,2%.

Conforme o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, os dados de serviços vieram melhores do que o esperado no quarto trimestre. A LCA projetava PIB de 0,1% no período.

Mesmo com o resultado positivo, o PIB ainda ficou 2,8% abaixo do pico da série histórica, registrado no primeiro trimestre de 2014.

Já o PIB per capita alcançou R$ 40.688 no ano passado, um avanço de 3,9%. O indicador, contudo, segue abaixo do pré-pandemia, segundo o IBGE.

O PIB per capita considera o valor da produção ou da renda dividido pela população.

"O bolo cresceu, mas a população cresceu também. Ele deveria ter sido um pouco maior para a distribuição ficar igual [ao que era em 2019]", disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

"O crescimento populacional fez com que o PIB per capita não se recuperasse dos efeitos da pandemia, como aconteceu com o PIB como um todo."

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