Descrição de chapéu
PIB inflação

Verdadeiro ganho para o PIB está nas ações que pavimentarão o futuro

Crescimento estrutural e prudência fiscal contribuirão para abandonar padrão do voo de galinha

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Camila Abdelmalack

Economista-chefe da Veedha Investimentos

A economia brasileira cresceu 4,6% em 2021, após a contração de 3,9% com reflexos da pandemia em 2020. De súbito, aos olhos do leitor, pode parecer bom, mas na lente acurada dos analistas a verdade é que o PIB (Produto Interno Bruto) não é visto com muito otimismo já que a base de comparação é fraca.

Resgatamos da memória que existiram muitos "freios", além dos obstáculos herdados da pandemia, que fizeram com que o PIB não tenha sido tão positivo quanto poderia às vistas do mercado: 1) inflação mais forte que o previsto e disseminada na economia; 2) câmbio desvalorizado; 3) efeitos da crise hídrica e energética.

A reabertura da economia permitiu a volta dos segmentos mais afetados, especialmente o setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB brasileiro. Serviços e indústria deslancharam em 2021 pela base fraca de 2020. Já o setor agropecuário não parte de base baixa, pois foi o segmento menos impactado durante a pandemia.

Pessoas caminham por rua comercial em São Paulo - Nelson Almeida - 30.dez.2021/AFP

Fotografia não é filme e os números consolidados para 2021 não contam toda história. Mas eu vou contar: o desempenho trimestral da atividade econômica fornece alguns diagnósticos para 2022.

As restrições de oferta e o aumento da inflação são as principais razões por trás da frustração com o desempenho da atividade no período recente. Esses são os pilares da estagflação projetada pelos analistas para 2022.

As incertezas acerca da normalização no fornecimento de insumos somadas à elevação dos custos —com energia e transporte— continuam a prejudicar o setor industrial. Por sua vez, a inflação persistentemente alta limita o poder de consumo das famílias e, dessa forma, explica a expectativa de perda de ímpeto do setor de serviços ao longo desse ano. Qualquer solavanco repentino, na agropecuária, intensificará ainda uma maior contração.

A despeito dos efeitos negativos, os investimentos em infraestrutura na gestão do ministro Tarcísio de Freitas, somados ao aumento das transferências de renda pelo governo federal, são as apostas do ministro Paulo Guedes para sustentar a economia neste ano.

"Não acreditem nas previsões de que o Brasil não vai crescer. O Brasil vai crescer e eles vão errar de novo", disse Guedes, em referências aos economistas que projetam uma estabilização ou uma queda da economia brasileira em 2022.

As reformas estruturantes estão seguindo seu curso, telecomunicações, gás natural, petróleo, saneamento e cabotagem. Guedes disse que o Brasil tem R$ 828 bilhões de investimentos contratados para os próximos anos e atrairá mais R$ 300 bilhões ainda neste governo.

Esse ganho não sairá na fotografia do PIB de 2022, mas poderá ser revelado na película dos próximos anos. E mais: esse movimento pode ainda impulsionar a capacidade de crescimento da base no longo prazo. Ou seja, elevar a projeção para o crescimento estrutural do país, ao redor de 1,5%.

Crescimento estrutural e prudência fiscal são os elementos irredutíveis que contribuirão para o Brasil abandonar o padrão do voo de galinha. Eu diria que, com PIB de zero ou de 1% em 2022, o verdadeiro ganho está nas ações que pavimentarão o caminho futuro para um crescimento sustentável que dê suporte a emprego, renda e maior nível de bem-estar da população. Até porque, no mundo digital, não há mais filme para revelar —da mesma forma que o acúmulo de equívocos econômicos não deve se repetir.

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