Descrição de chapéu Financial Times

Bolsa dos EUA virou um cassino, diz Warren Buffett

Americanos na pandemia recorreram ao mercado de ações para apostar na ascensão ou queda de empresas como Apple e Tesla

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Eric Platt
Omaha (Nebraska)

Warren Buffett disse neste sábado (30) que os mercados financeiros dos Estados Unidos se tornaram praticamente "um cassino", à medida que milhões de novos operadores inundaram o sistema financeiro durante a pandemia.

O bilionário e executivo-chefe da Berkshire Hathaway, falou em Omaha para milhares de acionistas presentes na reunião anual da empresa e acrescentou que a atividade "incomum" foi "incentivada por Wall Street, porque o dinheiro está no giro das ações".

Participantes tiram fotos com foto em tamanho real de Warren Buffett
Participantes tiram fotos com foto em tamanho real de Warren Buffett - Chandan Khanna - 29.abr.22/AFP


Os comentários se referem a uma mudança drástica na forma como as pessoas em todo o mundo estão interagindo com suas finanças. Os americanos abriram milhões de contas de corretagem desde o início da pandemia, com muitos recorrendo aos mercados de ações para apostar na rápida ascensão ou queda de empresas, como Apple e Tesla.

Buffett e o vice-presidente da Berkshire, Charlie Munger, atribuíram o ritmo acelerado das negociações e o fato de muitos detentores de algumas ações não serem investidores de longo prazo à capacidade da empresa de fazer suas próprias grandes apostas este ano.

No primeiro trimestre, a companhia gastou US$ 51,1 bilhões (R$ 252,43 bilhões) comprando ações, incluindo grandes apostas nas petroleiras Chevron e Occidental Petroleum. Buffett disse que é "incrível" que a Berkshire tenha conseguido comprar mais de 14% da Occidental em questão de semanas.

"Mas empresas grandes nos EUA tornaram-se fichas de pôquer e as pessoas estavam comprando e vendendo em dois ou três dias", disse ele, referindo-se aos derivativos que se tornaram o instrumento preferido de muitos novos day traders no mercado. "Wall Street ganha dinheiro de uma forma ou de outra, pegando as migalhas que caem da mesa do capitalismo."

Há sinais de que grande parte do entusiasmo que elevou as ações nos Estados Unidos a recordes no ano passado evaporou. A negociação de ações baratas entrou em colapso e a quantidade de empréstimos que os investidores estão fazendo para negociar caiu, de acordo com a agência reguladora americana Finra.

Munger mirou especificamente a Robinhood, corretora online que conduziu muitos americanos aos mercados financeiros, mas cuja avaliação caiu de quase US$ 60 bilhões em agosto passado para US$ 8,5 bilhões (R$ 41,99 bilhões) na semana passada, com a desaceleração da atividade comercial.

"Apostas de curto prazo e grandes comissões... foi nojento", disse ele. "Agora está se desenrolando. Deus está ficando justo."

Neste sábado, foi a primeira vez desde 2019 que os acionistas da Berkshire tiveram a chance de ouvir pessoalmente o investidor bilionário e a alta administração da empresa.

Havia perguntas antes da reunião anual, chamada de "Woodstock dos capitalistas", sobre se a pandemia afetaria os níveis de participação. Gerentes de várias subsidiárias da Berkshire disseram que o público no centro de convenções em Omaha na sexta-feira (29), dia em que os acionistas puderam comprar roupas íntimas Fruit of the Loom ou produtos domésticos com desconto no The Pampered Chef, foi menor.

Mas quando Buffett abriu a reunião, com sua habitual frase de uma palavra, "Ok", a plateia no CHI Health Center se levantou.

Os investidores têm várias horas pela frente antes de ouvirem o resultado dos negócios reais do dia –se os acionistas conseguiram apresentar propostas que exigiriam que a Berkshire divulgasse o impacto ambiental de suas dezenas de subsidiárias ou se eles dividirão o título de presidente e executivo-chefe.

Analistas esperam que as propostas falhem, dada a propriedade por Buffett de ações de alta classe com direito a voto.

Warren Buffett chega em carrinho para encontro da Berkshire Hathaway
Warren Buffett chega em carrinho para encontro da Berkshire Hathaway - Scott Morgan/Reuters


A empresa informou no sábado que seus lucros operacionais mudaram pouco em relação ao ano anterior, com a força de sua ferrovia BNSF e unidades fabris compensando a queda acentuada na lucratividade de seus negócios de seguros.

No geral, o lucro líquido caiu mais da metade em relação ao ano anterior, para US$ 5,5 bilhões (R$ 27,17 bilhões). A queda deveu-se principalmente a mudanças no valor de seus investimentos, o que Buffett lamenta como uma métrica "geralmente sem sentido", já que seu portfólio de ações chegou a US$ 390 bilhões (R$ 1,92 trilhão) em valor.

Buffett foi questionado sobre o surto recente de compra de ações depois de lamentar a falta de investimentos atraentes em sua carta anual aos investidores, em fevereiro. Ele disse que durante a liquidação do mercado este ano "algumas ações ficaram muito interessantes para nós e também gastamos muito dinheiro".

Mas ele acrescentou que o clima na sede da empresa se tornou mais "letárgico", principalmente em comparação com o ritmo registrado entre meados de fevereiro e meados de março, quando a empresa gastou mais de US$ 40 bilhões (R$ 197,6 bilhões) em ações.

A Berkshire reduziu uma parte considerável de seu caixa para fazer esses negócios, com o valor de suas posses em dinheiro e títulos do Tesouro caindo para US$ 106 bilhões (R$ 523,64 bilhões), o nível mais baixo desde 2018.

Buffett disse que a empresa sempre manteria uma quantia considerável de dinheiro à mão, já que suas operações de seguros precisam estar prontas para grandes sinistros em caso de catástrofe. Ele acrescentou que queria que a Berkshire Hathaway estivesse "em posição de operar se a economia parar, e isso sempre pode acontecer".

"Tínhamos muito dinheiro em 20 de março", disse ele, referindo-se aos dias em que o S&P 500 atingiu seus níveis mais baixos da pandemia. "Mas não estivemos muito longe de ter algo como uma repetição de 2008, ou até pior."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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