Descrição de chapéu Rússia

Brasil vê problemas no Swift, mas discorda de proposta da Rússia para pagamentos via Brics

Ministro de Putin sugeriu substituir sistema de pagamentos em meio às dificuldades impostas por sanções

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O governo brasileiro discorda da proposta feita pela Rússia de um sistema de pagamentos integrado entre os países dos Brics (grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

O ministro das finanças russo, Anton Siluanov, havia defendido a proposta ao dizer em reunião recente do grupo que a situação econômica global havia piorado bastante devido às sanções impostas em meio à guerra na Ucrânia.

Segundo ele, isso leva à necessidade de acelerar o trabalho na integração de sistemas de pagamentos e na criação de um mecanismo próprio de comunicação financeira no grupo, com ampliação do uso de moedas nacionais.

Bolsonaro e Putin conversam durante viagem do presidente brasileiro à Rússia, em fevereiro. - 16.fev.2022-Mikhail Klimentyev / Sputnik / AFP

"Isso nos leva à necessidade de acelerar o trabalho nas seguintes áreas: uso de moedas nacionais para operações de importação-exportação, a integração de sistemas de pagamentos e cartões, nosso próprio sistema de comunicação financeira e a criação pelos Brics de uma agência de avaliação de risco independente", disse Siluanov, conforme noticiou a agência de notícias Reuters.

Erivaldo Gomes, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Economia do Brasil, afirmou nesta quinta-feira (14) que o sistema de pagamentos usado hoje, o Swift, precisa passar por atualização –mas defendeu que a solução seja global, e não restrita a alguns países.

"Faz sentido a gente ter uma discussão sobre como estabelecer uma nova plataforma. O Brasil entende que isso deve ser em âmbito multilateral, global. Não uma solução específica de alguns países. Até para evitar a fragmentação", afirmou ao responder a um questionamento sobre o tema.

"A gente observa que [no Swift] um pagamento às vezes leva dois ou três dias para chegar ao sujeito do outro país. É um processo caro, burocrático, demorado, que não é compatível com as demandas da economia de hoje", complementou Gomes.

Segundo ele, o tema foi levantado pelos russos em recente reunião dos Brics, mas não está na agenda do grupo. "Nossa visão é que faz sentido uma solução global", reiterou o secretário.

As declarações são dadas às vésperas da viagem do ministro Paulo Guedes (Economia) aos Estados Unidos para participar de reuniões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.

Nos últimos dias, Guedes disse que guerras e sanções econômicas representam uma volta ao passado e defendeu a importância das instituições multilaterais para que seja mantido o grau de civilização alcançado pelo mundo. "Não podemos mergulhar em um passado de guerras físicas, de sanções econômicas, de interrupções de fluxos de comércio e investimentos", afirmou.

Os posicionamentos do Ministério da Economia são dados ao mesmo tempo em que o Brasil evita uma crítica direta à Rússia nas discussões diplomáticas sobre a guerra na Ucrânia. O Ministério das Relações Exteriores tem feito malabarismos retóricos para mostrar sua oposição a uma violação do direito internacional por Moscou sem responsabilizar diretamente o país comandando pelo presidente Vladimir Putin.

Fundada em 1973, a Swift (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias) não lida com nenhuma transferência ou fundos, mas seu sistema de mensagens, desenvolvido na década de 1970, fornece aos bancos um meio de comunicação considerado seguro e barato.

O Swift é uma cooperativa de bancos, que usam o sistema para enviar mensagens padronizadas sobre transferências de valores entre si e para clientes e ordens de compra e venda de ativos. Mais de 11.000 instituições financeiras, em mais de 200 países, usam o Swift, fazendo dele um mecanismo central para o sistema financeiro internacional.

No fim de fevereiro, os países ocidentais anunciaram que bancos russos seriam removidos do sistema de pagamentos Swift. O objetivo é "garantir que esses bancos sejam desconectados do sistema financeiro internacional e prejudicar sua capacidade de operar globalmente", disseram EUA, Reino Unido, Canadá e União Europeia em declaração conjunta da época.

Depois, a União Europeia definiu que sete instituições seriam excluídas do sistema em até dez dias, sendo elas o VTB (segundo maior credor da Rússia), além de Bank Otrkitie, Novikombank, Promsvyazbank, Bank Rossiya, Sovcombank e VEB.

A invasão da Ucrânia tornou a Rússia o país com o maior número de sanções econômicas na história, ultrapassando o Irã, segundo um levantamento da consultoria de risco Castellum.AI.

As medidas impostas por Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido, entre outros, envolvem o bloqueio de bens de autoridades como Putin e da elite financeira, restrições à concessão de vistos, proibição de importação e exportação de alguns setores e a própria exclusão de bancos do Swift (sistema de transações globais).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.