Fusão da brMalls com a Aliansce deve criar maior rede de shoppings do Brasil

Se concretizado, acordo resultará em empresa de R$ 13,4 bilhões e pode dar início a onda de fusões no setor

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São Paulo

​Após uma série de idas e vindas, a fusão da administradora de shopping centers brMalls com a concorrente Aliansce Sonae está prestes a ser concluída. Se concretizado, o negócio criará a maior rede de shoppings do Brasil, com 69 empreendimentos, avaliada em cerca de R$ 13,4 bilhões.

Em reunião nesta quinta-feira (28), o conselho de administração da brMalls aprovou a celebração de acordo de combinação dos negócios entre a companhia e a Aliansce. O negócio prevê que as ações da brMalls sejam incorporadas pela Aliansce.

Entre os centros comerciais administrados pela brMalls estão os shoppings Metrô Santa Cruz, Jardim Sul e Mooca Plaza Shopping, em São Paulo. Entre os administrados pela Aliansce estão o Parque D. Pedro e o Plaza Sul.

"O conselho de administração, por maioria, aprovou a celebração do protocolo [de incorporação] e recomenda aos seus acionistas a aprovação da operação", diz o comunicado divulgado pela brMalls nesta sexta-feira (29).

O documento diz que o negócio ainda será submetido à aprovação dos acionistas da brMalls em assembleia geral a ser convocada nos próximos dias.

Consumidores agurdam a abertura do Shopping Metrô Santa Cruz
Consumidores aguardam a abertura do Shopping Metrô Santa Cruz - Adriano Vizoni - 11.jun.2020/Folhapress

"Em relação aos méritos da operação, a administração da brMalls entende que a combinação de negócios proporcionará uma nova companhia com liderança comercial, ganhos de escala, captura de sinergias e maior capacidade de investimento", diz a brMalls.

Os termos econômicos da operação refletem aqueles constantes da terceira proposta de combinação de negócios com a brMalls, enviada pela Aliansce em 18 de abril.

Após ter duas ofertas anteriores rejeitadas, a Aliansce tornou pública no mês passado uma terceira proposta de combinação de negócios, que classificou como tendo uma "relação de troca mais favorável aos acionistas da brMalls".

Pela proposta, foram oferecidos aos acionistas da brMalls um pagamento em dinheiro no valor de R$ 1,25 bilhão, correspondente a R$ 1,50 por ação ordinária da brMalls, além de um pagamento com a entrega de 326,3 milhões de ações da Aliansce, representativas de 55,13% do capital social da companhia combinada.

De acordo com a brMalls, tais condições representam um aumento de cerca de 17,2% em comparação com a proposta original apresentada pela Aliansce em 4 de janeiro, considerando-se o preço de fechamento desta quinta.

"A Aliansce Sonae está convicta de que a combinação de negócios representa uma excelente oportunidade de criação de valor, que resultará em significativos ganhos aos acionistas de ambas as companhias e, em especial, que viabilizará, ainda mais, a transformação dos setores de varejo e shopping centers, por meio do fortalecimento da companhia combinada", diz a Aliansce.

Negócio pode indicar onda de fusões no setor

A união entre brMalls e Aliansce pode sinalizar uma onda de fusões no setor. Fontes ouvidas pela Folha apontam o interesse do Iguatemi, que está entre os cinco maiores grupos de shoppings do país, em controlar ativos nos quais têm parceria com a Brookfield, como o Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo, e em avançar em outros ativos do grupo canadense, como o Rio Sul, na capital fluminense.

Já outro grande concorrente, o Multiplan, estaria mais focado em desenvolver em terrenos adjacentes aos seus shoppings outros empreendimentos, como hotéis e clínicas. Mas não descartaria aquisições de redes menores, que façam sentido no seu portfólio, apurou a Folha.

Os shoppings foram um dos setores mais atingidos pela pandemia. Em 2020, ficaram o equivalente a oito meses fechados, contando os períodos de restrição. As novas ondas de contágio em 2021 também impactaram as operações. Em 2022, depois da alta da ômicron em janeiro, a pandemia parece sob controle.

Mas ainda há as pressões típicas de um ano eleitoral sobre a macroeconomia e indicadores econômicos ruins, como inflação, queda na renda e desemprego em alto patamar.

As redes ainda tentam descobrir novas âncoras para os seus empreendimentos. Os cinemas, âncoras tradicionais, continuam muito vazios, mesmo com o retorno das atividades presenciais, por conta da concorrência com o streaming. Já as grandes varejistas de moda, como Renner e C&A, ampliam suas vendas online e dependem menos dos centros de compras para sua expansão.

'Bons' lojistas serão realçados e, os 'maus', relegados

A concentração nos shoppings leva a uma outra ponta do negócio: a relação com os lojistas. Na opinião do consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, os lojistas de melhor performance podem sair ganhando com o acordo.

"Para os bons operadores, é muito positivo. Eles podem ser chamados a participar de outros shoppings do grupo, em condições atraentes", diz ele. "Por outro lado, aqueles que apresentarem um desempenho mediano ou uma performance baixa verão a porta se fechar à sua frente, no que se refere à presença em outros shoppings do grupo".

A Folha já destacou uma queda de braço entre representantes de lojas satélites (de até 200 m², menores do que as âncoras) e os shoppings no que se refere à correção dos aluguéis pelo IGP-M.

Se em um primeiro momento da pandemia, em 2020, com os shoppings fechados, as administradoras seguraram o reajuste anual e deram descontos sobre o aluguel, este ano a realidade é outra. O reajuste pelo IGP-M passou a ser adotado de forma integral, de acordo com o vencimento de cada contrato.

Segundo a Ablos –Associação Brasileira dos Lojistas Satélites, que soma cerca de 100 associados com 3.500 lojas no país, dependendo da data-base, o reajuste acumulado em dois anos supera os 45%.

"Essa união vai trazer mais informações sobre desempenhos de segmentos, de áreas geográficas, uma inteligência de mercado muito maior do que eles já tinham antes", diz Foganholo. "Isso é muito importante para que as administradoras possam, por exemplo, calibrar adequadamente o mix de lojas dos shoppings, privilegiar alguns segmentos em detrimento de outros".

​Criação de sinergias e ganhos de escala

Em comunicado, a Aliansce acrescentou que o negócio permitirá investimentos mais robustos para manter os ativos das companhias atualizados e o desenvolvimento da estratégia de negócios no ambiente "figital", combinação entre os ambientes físico e digital.

Segundo Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, o fechamento do acordo pode criar sinergias positivas para as duas empresas e criará um ganho de escala expressivo entre os shoppings administrados por ambas. "Porém, em nossa visão, o aceite já era esperado e já está incorporado no valor das ações", diz o analista.

Já o time de análise da Ativa Investimentos destaca que, devido ao tamanho da nova empresa, seu poder de barganha com fornecedores será muito maior, o que deverá reduzir custos de condomínio e, consequentemente, atrair mais lojistas.

"[Em teleconferência nesta sexta] ambas as diretorias mencionaram a intenção de que a companhia combinada permaneça no Novo Mercado, o mais alto nível de governança da Bolsa de Valores. Em termos de composição do conselho, a intenção é que o conselho seja composto por nove membros: dois indicados pela brMalls, quatro pela Aliansce Sonae e três independentes", dizem os analistas do Goldman Sachs.

As ações da brMalls fecharam a sessão em alta de 0,96%, enquanto as da Aliansce recuaram 0,14%.


Raio-X

brMalls
Início das operações: 1949
Lucro líquido em 2021: R$ 276,1 milhões
Shoppings: Jardim Sul, Mooca Plaza Shopping, Shopping Metrô Santa Cruz (SP); Center Shopping Uberlândia, Independência Shopping, Shopping Del Rey (MG); Catuaí Shopping, Shopping Curitiba (PR)

Aliansce Sonae
Início das operações: 2019 (fusão entre a Aliansce Shopping Centers e a Sonae Sierra Brasil)
Lucro líquido em 2021: R$ 274,8 milhões
Shoppings: Parque D. Pedro Shopping, Plaza Sul Shopping, Santana Parque Shopping, Shopping Campo Limpo (SP); Bangu Shopping, Boulevard Shopping Campos, Carioca Shopping, Caxias Shopping (RJ); Boulevard Shopping Belém, Parque Shopping Belém (PA)

Com Reuters

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