Descrição de chapéu PIB

Disciplina fiscal e atuação do Estado são caminhos para ampliar investimentos, dizem especialistas

Folha e FGV-Ibre promoveram evento nesta quinta-feira (28) para debater incentivo a investimentos

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São Paulo

A recuperação da economia brasileira em 2021, que resultou em um crescimento de 4,6% do PIB (Produto Interno Bruto) no período, teve influência importante do nível de investimentos realizados no país.

A taxa de investimento em relação ao PIB alcançou a marca de 19,2% no ano passado, acima dos 16,6% de 2020 e da média de 15,2% no intervalo entre 2016 e 2019, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).

Embora aspectos metodológicos tenham dado alguma contribuição para o resultado do ano passado, os juros baixos e a forte alta nos preços das commodities tiveram peso mais relevante para a decisão de grandes empresas de desengavetar projetos e retomar novas frentes de investimento.

Obras  da ponte de Xambioá, no Tocantins
Obras da ponte de Xambioá, no Tocantins - Tarcísio Gomes de Freitas/Twitter

Já para 2022, especialistas avaliam que faltam as condicionantes necessárias para que o processo de investimento siga em expansão no país.

Os juros bem mais altos do que aqueles que vinham sendo praticados nos últimos meses e um crescimento fraco da atividade econômica, somados às incertezas eleitorais, devem diminuir o ímpeto do setor privado em iniciar grandes projetos no curto prazo de forma estrutural.

O caminho para que o país consiga sustentar uma trajetória mais consistente de crescimento dos investimentos, contudo, divide a opinião de economistas.

Em evento promovido na manhã desta quinta-feira (28) pela Folha e pelo FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), diferentes visões foram apontadas como alternativa para aumentar o nível de investimentos, com consequentes reflexos positivos para o PIB potencial brasileiro. O evento foi mediado por Fernando Canzian, repórter especial da Folha.

Visões divergentes

Pesquisador associado do FGV-Ibre e colunista da Folha, Samuel Pessoa defendeu a ideia de que é preciso que o governo priorize a política fiscal.

Segundo ele, somente com as contas públicas em ordem é que então seria possível passar a vislumbrar uma trajetória mais sustentável para a taxa de investimento e para o crescimento potencial da economia.

Para estimular o capital privado a buscar novos projetos de investimento, trazendo a reboque uma atuação complementar a ser desempenhada pelo setor público, é preciso que a rentabilidade-alvo mirada pelas empresas também suba, afirmou Pessoa. "E a rentabilidade [das empresas] sobe se fizermos reformas que aumentem a eficiência da economia".

Também pesquisador associado do FGV-Ibre, Gilberto Borça divergiu do colega.

Para ele, antes mesmo de uma consolidação fiscal, o mais desejável seria que o setor público injetasse um maior volume de recursos destinados a financiar grandes projetos de infraestrutura.

O aquecimento da atividade econômica provocado pela política de governo, por sua vez, acarretaria em um maior crescimento do PIB, abrindo espaço para fazer o ajuste necessário das contas públicas, assinalou Borça.

"Acelerar o investimento para que o crescimento potencial também se acelere é fundamental", afirmou.

Ele lembrou que, a despeito de uma série de reformas de caráter macro e microeconômicas promovidas durante os últimos anos, como a trabalhista e a da Previdência, o almejado crescimento econômico ainda não chegou.

"Desde a crise de 2015 e 2016 que a gente não consegue acelerar essa trajetória de crescimento", disse o acadêmico, que durante sua fala citou o conceito da "histerese", segundo a qual um desempenho fraco da economia no curto prazo pode passar a afetar também as perspectivas de crescimento de um país em horizontes mais longos de tempo.

Já para Pessoa, a escolha pela rota de priorizar o aumento do investimento, em detrimento a um equilíbrio fiscal prévio, traria como consequência de médio prazo uma inflação mais pressionada e juros mais altos, com desvalorização do câmbio e impactos negativos para a atividade econômica e o emprego.

"Se olharmos a experiência brasileira, a construção da estabilidade fiscal precede os ciclos de crescimento e o aumento do investimento público", afirmou Pessoa.

Ele fez menção ao trabalho de equilíbrio das contas públicas no segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que, conforme o pesquisador, foi o responsável por abrir espaço para o crescimento que veio nos anos seguintes.

Educação e inovação

Coordenador do Cemec-Fipe (Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), Carlos Antonio Rocca compartilhou da visão apresentada por Samuel Pessoa.

Para Rocca, é preciso antes de tudo de uma visão de médio e longo prazo para tentar atacar as deficiências estruturais que o país carrega já tem bastante tempo.

Dados do IFI (Instituto Fiscal Independente) citados por Rocca indicam que o crescimento potencial do PIB brasileiro na próxima década é de módicos 1,7% ao ano.

"Temos milhões de pessoas com problemas sérios de pobreza, e ao longo dessa década, com esse crescimento [projetado], não vai mudar de modo significativo o quadro", afirmou o especialista do Cemec-Fipe.

Uma maior abertura da economia local para aumentar a concorrência, mas sobretudo o investimento em educação, de modo a desenvolver políticas de inovação que levem a um ganho de produtividade mais à frente, foi o caminho apontado pelo coordenador para que o país consiga avançar na pauta de investimentos de maneira perene.

Rocca acrescentou que a manutenção da taxa de juros em patamares baixos é outra condição necessária, sem a qual não será possível avançar em uma agenda de evolução dos investimentos na região.

"O investimento privado só vai acontecer à medida que a taxa de retorno seja superior ao custo de capital. Então, manter os juros baixos é fundamental para estimular o investimento privado", afirmou.

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