Bolsa cai 2% e dólar sobe com pessimismo sobre Ucrânia e juros nos EUA

Investidores pesam inflação e possíveis sanções à Rússia após mortes em Butcha

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São Paulo

Preocupações com o agravamento do conflito na Ucrânia, após a revelação de centenas de corpos de civis levantar suspeitas sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia, e a possibilidade de uma alta de juros mais agressiva do que o esperado nos Estados Unidos empurraram os principais mercados mundiais para o negativo nesta terça-feira (5).

A possibilidade cada vez mais concreta de um conflito prolongado cria expectativas sobre a escassez da oferta de insumos para a produção de energia, agravando a inflação global.

O dólar fechou em alta de 1,12%, a R$ 4,6610, um dia após ter atingido a menor cotação em mais de dois anos. A Bolsa de Valores brasileira caiu pelo segundo dia. O índice de referência Ibovespa encerrou em baixa de 1,97%, a 118.885 pontos.

Nota de um dólar americano - Dado Ruvic/Reuters

Dólar em alta e Bolsa em queda costumam indicar que investidores estão evitando aplicações de risco, como é o caso do mercado de ações, e preferindo ativos considerados mais seguros. Papéis ligados ao dólar, principalmente os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, costumam ser os preferidos em momentos de preocupação.

Nesta terça, os juros desses títulos tiveram um dia de alta, o que reforça que há pessimismo no mercado diante das ameaças inflacionárias trazidas pela guerra.

No mês passado, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou os juros de referência do país pela primeira vez desde 2018. A medida tenta frear a maior inflação em quatro décadas. Novos aumentos ocorrerão neste ano. O mercado tenta adivinhar o tamanho e a velocidade desses ajustes.

Nesta quarta-feira (6), a autoridade monetária americana divulgará a ata da sua última reunião. Além de pistas sobre os juros, investidores também aguardam detalhes sobre o ritmo de redução do balanço patrimonial do órgão.

Durante a pandemia, uma das estratégias do Fed para amenizar o resfriamento econômico foi injetar liquidez no mercado por meio da compra mensal de cerca de US$ 120 bilhões (R$ 554 bilhões) em títulos imobiliários e do Tesouro. Esse programa foi encerrado neste ano.

Agora, a autoridade também deverá iniciar a redução da sua carteira de títulos, que acumula cerca de US$ 9 trilhões (R$ 41 trilhões). "A expectativa principal é um detalhamento desses números para que, já em maio, o Banco Central comece a permitir que títulos que hoje fazem parte dos seus ativos vençam", comentou André Muller, economista da AZ Quest.

"O mercado está se adequando à realidade. Havia nas últimas duas semanas uma expectativa de que as tensões geopolíticas fossem se resolver mais tranquilamente e que o processo de alta de juros nos Estados Unidos já tivesse incorporado às expectativas dos investidores", comentou Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

"Há um debate muito forte entre os alocadores de recursos sobre até qual nível a taxa de juros americana terá de subir para estancar o processo inflacionário", comentou Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group.

No mercado de ações americano, o índice S&P 500, referência da Bolsa de Nova York, caiu 1,26%. O indicador da Nasdaq, que concentra empresas mais vulneráveis a apertos no crédito, perdeu 2,26%. O Dow Jones cedeu 0,80%.

As Bolsas de Paris e Frankfurt fecharam com quedas de 1,28%, e 0,65%, nessa ordem. Londres subiu 0,73%.

Na Ásia, os mercados da China não abriram nesta terça devido a um feriado. No Japão, a Bolsa de Tóquio subiu 0,19%.

No mercado de commodities, o preço do barril do petróleo Brent caía 2,02%, a US$ 105,36 (R$ 486,43), no final da tarde desta terça.

A commodity chegou a subir nas primeiras horas do dia, enquanto investidores pesavam o impacto de eventuais novas sanções à Rússia após acusações de que as tropas do país assassinaram civis ucranianos na cidade de Butcha.

A Rússia é um dos principais países exportadores de petróleo e gás natural e sua produção já foi banida dos Estados Unidos. Países europeus são dependentes do suprimento russo para a geração de energia, mesmo assim, a Europa avalia proibir importações de carvão dos russos, reportou o The Wall Street Journal nesta terça.

Vale e Petrobras têm dia de perdas

Ações dos setores de commodities e financeiro ficaram entre as principais baixas na Bolsa de Valores brasileira desta terça-feira, com destaque para as fortes quedas da Vale e do Itaú, que perderam 2,89% e 2,02%, respectivamente. A Petrobras caiu 0,95%.

Analistas atribuíram as baixas à crescente expectativa de investidores sobre um cenário de agravamento da guerra, alta da inflação global e aceleração do aperto monetário nos Estados Unidos. O cenário pessimista para a renda variável acabou servindo de estímulo para a venda de papéis valorizados.

"O mau humor externo respingou aqui e isso acabou levando a uma certa realização de lucros. O Ibovespa ainda sobe 14% neste ano, então, tem bastante gordura", disse Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.

Ruídos domésticos, como a ameaça de greve de servidores federais e a desistência do empresário Adriano Pires de assumir a presidência da Petrobras, podem ter prejudicado ainda mais uma sessão que já seria negativa devido ao noticiário do exterior, segundo Moliterno.

Oscilações nos papéis da estatal petrolífera são esperadas pelo mercado enquanto a dança das cadeiras na direção da companhia estiver em foco, mas a aposta mais frequente do mercado é de que os indicados pelo governo continuarão a executar um trabalho técnico, mantendo a política de paridade de preços dos combustíveis com o exterior.

Em paralelo, a ampliação do lockdown para conter a Covid-19 em Xangai reduziu as expectativas de investidores sobre a demanda pelo minério de ferro, prejudicando as ações da Vale, disse Borsoi, da Nova Futura.

Autoridades da China decidiram aplicar restrições de circulação a todos os 26 milhões de moradores do centro financeiro do país.

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