Com impulso da Petrobras, Bolsa fecha em alta de 0,54%

Alta do dólar sinaliza aversão a risco com guerra na Ucrânia reforçando inflação

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São Paulo

O mercado de ações dos Estados Unidos virou para o positivo na reta final para o encerramento dos negócios nesta quinta-feira (7) e, com isso, levantou as Bolsas de Valores das Américas.

O Brasil também ganhou fôlego, mas antes mesmo do impulso do exterior, conseguiu se afastar da ressaca global que durou a maior parte do dia devido à alta de 5,19% das principais ações da Petrobras. Investidores celebraram os nomes dos indicados para comandar a estatal.

O Ibovespa fechou em alta de 0,54%, a 118.862 pontos. Com esse resultado, o índice de referência da Bolsa de Valores brasileira teve desempenho superior ao dos mais importantes indicadores mundiais.

Em Nova York, o indicador de referência S&P 500 subiu 0,43%. O Dow Jones avançou 0,25%. O índice focado no setor de tecnologia americano Nasdaq teve ligeiro ganho de 0,06%.

Durante a maior parte do dia, os mercados trabalharam no negativo, na tentativa de digerir a divulgação, na véspera, da ata da reunião realizada em março pelo comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).

O documento reforçou a percepção de que a inflação global, ampliada pela guerra na Ucrânia, levará a uma alta mais agressiva dos juros e à redução de outros estímulos econômicos. Esse é um ambiente menos favorável aos investimentos mais arriscados, como os mercados de ações, principalmente os de países emergentes.

Notas de dólar americano sobre gráfico de ações
Notas de dólar americano sobre gráfico de ações - Dado Ruvic - 7.nov.2016/Reuters

A virada no mercado americano no final desta quinta foi um movimento técnico, em vez de ser desencadeado por uma notícia específica, disse o estrategista da Asbury Research, John Kosar, ao The Wall Street Journal.

O rali neste fim de tarde interrompeu uma liquidação de dois dias nos EUA, provocada por preocupações com o aperto monetário do Fed.

"Às vezes, o dinheiro se move primeiro, o mercado se move em segundo lugar, e só depois vem a manchete", disse Kosar. "O que acontecer nos próximos dias dirá aos investidores se esta foi uma reviravolta genuína ou apenas uma breve pausa [na queda]", acrescentou.

Na Europa, onde os mercados fecharam horas antes da virada em Nova York, não houve tempo para recuperação. A Bolsa de Londres caiu 0,47%. Paris perdeu 0,57%. Frankfurt recuou 0,52%. As quedas, porém, foram menores em relação à véspera.

Mais cedo, os mercados asiáticos tiveram perdas acentuadas. Além das pressões negativas da guerra na Europa e da elevação dos juros, essa região também lida com o repique da pandemia.

Tóquio perdeu 1,69%. Hong Kong caiu 1,23%. Na China continental, houve queda de 1,28% do índice que segue empresas de Xangai. Os 26 milhões de habitantes da cidade enfrentam restrições de circulação devido ao crescimento dos casos de Covid-19.

Dólar sobe diante de sinal de alta dos juros nos EUA

Em um cenário de maior aversão ao risco após a ata do Fed, o dólar ganhou força contra moedas valorizadas no último trimestre. O real figurou como a terceira divisa com o pior retorno à vista em relação à divisa americana, atrás apenas do peso chileno e do rand sul-africano, de acordo com ranking da Bloomberg com 24 países em desenvolvimento.

No mercado de câmbio brasileiro, o dólar comercial fechou cotado a R$ 4,7410 na venda, o que representa uma alta de 0,55% em relação ao dia anterior.

De acordo com a ata do banco central americano, alguns dos formuladores da política monetária discutiram realizar mais de um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa de juros ao longo deste ano, caso a inflação persista.

Em março, o Fed elevou os juros de referência do país pela primeira vez desde 2018. O aumento aplicado foi de 0,25 ponto percentual, para uma taxa que havia sido rebaixada para perto de zero no início da pandemia de Covid-19. A ata do encontro mostrou que um aumento de meio ponto chegou a ser considerado até mesmo em março.

Inicialmente, porém, analistas avaliavam que todas as altas neste ano seriam de 0,25 ponto percentual.

Juros mais altos nos Estados Unidos podem atrair para os títulos do Tesouro americano investidores internacionais que estão momentaneamente em mercados mais arriscados. A ameaça de fuga de capital valoriza o dólar porque investidores passam a antecipar uma possível escassez da moeda.

Os rendimentos dos títulos de referência do Tesouro dos Estados Unidos com vencimento em dez anos, referência para esse tipo de ativo, rondam o maior patamar desde março de 2019.

Além de continuar a elevar a taxa de crédito, a autoridade também deverá iniciar a redução da sua carteira de títulos, que acumula cerca de US$ 9 trilhões (R$ 41 trilhões).

Durante a pandemia, uma das estratégias do Fed para amenizar o resfriamento econômico foi injetar liquidez no mercado por meio da compra mensal de cerca de US$ 120 bilhões (R$ 554 bilhões) em títulos imobiliários e do Tesouro. Esse programa foi encerrado neste ano. Agora, para diminuir o seu balanço patrimonial, o banco permitirá que esses títulos vençam.

A ata aponta que o Fed discutiu reduzir o seu balanço em até US$ 95 bilhões por mês (R$ 446 bilhões) a partir do mês que vem, quando realizará a sua a próxima reunião.

Petrobras sobe com indicações para comando da empresa

No Brasil, a contaminação pelo mau humor externo foi parcialmente contida ao longo do dia pelos ganhos da Petrobras, cujo grande peso impediu que baixas nos demais setores afundassem o mercado doméstico.

As ações mais negociadas da Petrobras, que dão preferência no recebimento de dividendos, subiram 5,19% na B3, a Bolsa de Valores brasileira. A estatal exerceu a principal influência positiva sobre o Ibovespa.

Na noite desta quarta (6), o Ministério das Minas e Energia apresentou os nomes de José Mauro Ferreira Coelho para presidir a Petrobras e de Márcio Andrade Weber para comandar o Conselho de Administração da estatal.

Coelho já integra o conselho de uma estatal e passou pelo MME (Ministério de Minas e Energia). Weber faz parte do conselho de administração da própria petroleira.

Os nomes fazem parte de uma solução interna do governo, que não encontrou pessoas da iniciativa privada dispostas a ocupar os postos em meio à pressão do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre os preços de combustíveis.

No mercado, a expectativa é que os nomes sejam aprovados pela assembleia da Petrobras na próxima quarta (13), segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

"Com essas indicações o governo finaliza um período com os dois cargos máximos da companhia vagos. Isso diminui a dose de dúvida e a assimetria que pairavam sobre as ações da companhia nos últimos dias e contribuíam para que elas desempenhassem, às vezes, de forma diferente do movimento internacional do petróleo", comentou Arbetman.

O preço de referência para o petróleo bruto subia 0,26% no início da noite desta quinta, com o barril do Brent cotado a US$ 101,33 (R$ 475,85). O ligeiro ganho ocorre após uma queda de 5,22% na véspera, provocada pelo anúncio de novas liberações de estoques estratégicos de países para tentar amenizar a redução da oferta da Rússia, cujas exportações foram banidas dos Estados Unidos.

A Agência Internacional de Energia informou nesta quarta que seus países membros concordaram em liberar 120 milhões de barris de petróleo das suas reservas, com os Estados Unidos contribuindo com metade desse volume.

A parte oferecida pelo governo americano virá da retirada geral dos seus estoques estratégicos. O presidente Joe Biden já havia anunciado a liberação de 180 milhões de barris da reserva do país.

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