Descrição de chapéu Financial Times Meta Facebook

Dona do Facebook planeja moeda virtual para reengajar usuários

Grupo de rede social busca fontes alternativas de receita após queda de popularidade de seus principais produtos

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Hanna Murphy
San Francisco | Financial Times

A Meta, controladora do Facebook, elaborou planos para adotar moedas virtuais, tokens e serviços de empréstimo em seus aplicativos, enquanto persegue suas ambições financeiras apesar do colapso de um projeto para lançar uma criptomoeda.

A companhia, liderada pelo executivo-chefe Mark Zuckerberg, está buscando fontes alternativas de receita e novos recursos que possam atrair e reter usuários, à medida que a popularidade de seus principais produtos de redes sociais, como Facebook e Instagram, diminui —tendência que ameaça seu modelo de negócios baseado em anúncios, de US$ 118 bilhões por ano (R$ 560 bilhões).

O braço financeiro do Facebook, Meta Financial Technologies, vem explorando a criação de uma moeda virtual para o metaverso, que os funcionários apelidaram internamente de "Zuck Bucks", de acordo com várias pessoas familiarizadas com a iniciativa.

Logos do Facebook e da Meta em teclado de laptop - Dado Ruvic - 2.nov.2021/Reuters

É improvável que seja uma criptomoeda baseada no blockchain, disseram algumas dessas pessoas. Em vez disso, a Meta está inclinada a introduzir tokens no aplicativo que seriam controlados centralmente pela empresa, semelhantes aos usados em aplicativos de jogos, como a moeda robux no popular jogo infantil Roblox.

De acordo com memorandos da empresa e pessoas próximas aos planos, a Meta também está analisando a criação de "tokens sociais" ou "tokens de reputação", que poderão ser emitidos como recompensas por contribuições significativas em grupos do Facebook, por exemplo. Outro esforço é gerar "moedas de criador" que podem estar associadas a influenciadores específicos em seu aplicativo de compartilhamento de fotos Instagram.

A Meta também vem explorando serviços financeiros mais tradicionais, com foco em fornecer empréstimos a pequenas empresas com juros atraentes, segundo várias pessoas familiarizadas com a iniciativa. Embora nada esteja planejado imediatamente, a empresa já conversou com potenciais parceiros de crédito, disse uma das pessoas.

A maioria dos esforços está em fase inicial de discussão e pode mudar ou ser abandonada, embora seus planos de integrar NFTs (tokens não fungíveis) em seus aplicativos estejam mais avançados. Zuckerberg confirmou uma reportagem anterior do Financial Times de que o Instagram em breve começaria a ofercer suporte para NFTs.

De acordo com um memorando compartilhado internamente na semana passada, a Meta planeja lançar um piloto para postar e compartilhar NFTs no Facebook em meados de maio. Isso será "rapidamente seguido" pelo teste de um recurso que permitirá a participação em grupos do Facebook com base na propriedade de NFT e outro para cunhar ("minting" –termo usado para "criar") NFTs.

As NFTs poderão ser monetizadas por meio de "taxas e/ou anúncios" no futuro, de acordo com outro documento interno.

O Facebook se recusou a comentar.

A Meta perdeu mais de US$ 220 bilhões de seu valor de mercado em fevereiro, no dia em que revelou que os usuários estavam gastando cada vez mais tempo com rivais mais novos, como o aplicativo de vídeos curtos TikTok.

A empresa recentemente procurou encontrar outras fontes de receita e apoiar o comércio eletrônico na plataforma, investigando criptomoedas e tecnologia blockchain. Seus grandes rivais de tecnologia, como Google e Apple, têm sido mais cautelosos quanto a mergulhar no espaço nascente.

Mas a iniciativa foi prejudicada por contratempos e escrutínio regulatório. No início deste ano, o projeto global de criptomoeda que ela liderou, chamado "diem", foi cancelado, e seus ativos foram vendidos ao banco californiano Silvergate, depois que os reguladores dos EUA se recusaram a dar luz verde ao piloto, por preocupações com estabilidade monetária e concorrência.

Em meio às frustrações internas, a divisão financeira da Meta sofreu o que um ex-funcionário descreveu como um "êxodo em massa" de funcionários nos últimos seis meses. Seu diretor David Marcus saiu no final do ano passado, junto com os principais engenheiros, a equipe de compliance e quase toda a equipe jurídica.

Aqueles que permanecem estão analisando como criar ou suportar moedas digitais em seu metaverso —um mundo virtual cheio de avatares que Zuckerberg espera que eventualmente gere bilhões de dólares em comércio de bens e serviços digitais.

Os novos planos representam algo muito distante da diem e do sonho de criar uma criptomoeda. Os funcionários agora estão tentando encontrar a maneira menos regulamentada de oferecer uma moeda digital, disseram duas pessoas, com um token digital não baseado no blockchain parecendo a opção mais atraente.

Não seria a primeira vez que o Facebook introduz tal moeda em seu ecossistema. Lançou os Créditos do Facebook em 2009, uma moeda virtual que permitia aos usuários fazer compras no aplicativo, normalmente em jogos como Farmville. Isso representou 16% das receitas no momento de sua oferta pública inicial em 2012, de acordo com o banco Barclays, mas foi fechado em 2013 porque era muito caro para manter.

Em um memorando do final de janeiro, o novo chefe da divisão financeira da Meta, Stephane Kasriel, escreveu: "Estamos fazendo mudanças em nossa estratégia de produtos e roteiro... para que possamos priorizar a construção do metaverso e como serão os pagamentos e serviços financeiros nesse mundo digital".

Kasriel, que substituiu Marcus, disse que a empresa vai "acelerar" os investimentos para oferecer pagamentos no WhatsApp e no Messenger e "ajudar os criadores a monetizar sua atividade", por exemplo, por meio de NFTs.

Ele também sinalizou planos para fundir sua carteira para o Facebook Pay –seu atual sistema de pagamentos "peer-to-peer", que não usa a tecnologia blockchain– com a Novi, carteira de moeda digital que inicialmente deveria conter a moeda diem.

"A carteira oferecerá pagamentos, identidade e gerenciamento de ativos digitais dentro da [família de aplicativos e Reality Labs, seu braço de realidade virtual e aumentada] e, com o tempo, para outros aplicativos/sites", disse ele.

Enquanto alguns esforços da Meta estão focados em pagamentos digitais, outras iniciativas fazem parte de planos mais amplos de usar a tecnologia blockchain para adotar maior "descentralização" em suas plataformas, em meio a um crescente burburinho no Vale do Silício em torno do chamado movimento Web 3.0.

Os defensores da Web 3.0 geralmente procuram usar a tecnologia de contabilidade distribuída para permitir aos usuários maior controle e propriedade sobre seus dados e desintermediar os grandes grupos de tecnologia que geralmente monetizam esses dados como parte de seus modelos de negócios baseados em anúncios.

Mas a Meta parece estar adotando alguns ideais da Web 3.0. Ela está explorando se deve armazenar dados em um blockchain, como isso pode dar aos usuários mais controle de sua identidade digital e se sua identidade ou contas podem ser transferidas ou usadas em outras plataformas além dos aplicativos da Meta, de acordo com um documento de planejamento.

Enquanto isso, seus planos de recompensar os usuários por conteúdo confiável com tokens sociais podem permitir que a Meta recue como moderador de conteúdo central e dê às comunidades do Facebook maior poder para se automoderar, de acordo com o documento.

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