Empresas oferecem shows, food trucks e atrativos para equipe voltar ao escritório

Companhias de tecnologia querem que funcionários fiquem felizes ou, no mínimo, menos irritados com retorno

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Daisuke Wakabayashi Erin Griffith Kate Conger
San Francisco

Quando os funcionários do Google voltaram para os escritórios quase vazios este mês, foram instruídos a relaxar. O tempo de escritório deve ser "não apenas produtivo, mas também divertido". Explore um pouco o local. Não marque reuniões consecutivas. Além disso, não deixe de assistir ao show privado de Lizzo, uma das estrelas pop mais badaladas do país.

Se isso não bastasse, a empresa também está planejando "eventos pop-up" que contarão com "a dupla favorita de todo Googler: comida e brindes". Mas os funcionários do Google em Boulder, no Colorado, ainda eram lembrados do que estavam perdendo quando a empresa lhes deu mouse pads com a imagem de um gato de olhar triste. Embaixo do bichano havia um apelo: "Você não vai RTO, certo?"

RTO, sigla em inglês de "retorno ao escritório", é uma abreviação nascida da pandemia. É um reconhecimento de como a Covid-19 forçou muitas empresas a abandonar prédios de escritórios e cubículos vazios. A pandemia provou que estar no escritório não significa necessariamente maior produtividade, e algumas empresas continuam prosperando sem encontros pessoais.

As empresas de tecnologia que esperam que seus funcionários fiquem felizes (ou menos irritados) com o retorno ao trabalho estão oferecendo shows, food trucks e outras vantagens - Chelsea Beck/The New York Times

Agora, após dois anos de videoconferências e bate-papos no Slack, muitas empresas estão ansiosas para trazer os funcionários de volta para suas mesas. No entanto, eles talvez não estejam tão ansiosos por um retorno aos deslocamentos matinais, banheiros comunitários e roupas que não sejam esportivas.

Assim, as empresas de tecnologia com dinheiro para queimar e escritórios para preencher estão adotando uma série de atrações, enquanto deixam claro que, em muitos casos, é obrigatório ir ao escritório pelo menos alguns dias por semana.

Lizzo se apresentará para os funcionários do Google este mês em um anfiteatro perto da sede da empresa em Mountain View, na Califórnia. Quando a Microsoft reabriu seus escritórios em Redmond, estado de Washington, no final de fevereiro, os funcionários foram brindados com música de bandas locais, degustação de cerveja e vinho, e até aulas para fazer terrários.

Para marcar sua primeira semana oficial de volta ao escritório, a fabricante de chips Qualcomm realizou um happy hour com seu CEO, Cristiano Amon, nos escritórios em San Diego para vários milhares de funcionários, com comida, bebida e camisetas grátis. A empresa também começou a oferecer eventos semanais, como barracas de lanches nas terças-feiras e aulas de ginástica em grupo nas quartas.

"Essas comemorações e regalias são um reconhecimento por parte das empresas de que sabem que os funcionários não querem voltar ao escritório, certamente não com a mesma frequência de antes", disse Adam Galinsky, professor da escola de administração da Universidade Columbia. Pelo menos por enquanto, ele acrescentou, as empresas estão optando pela cenoura em vez da vara: recompensar os trabalhadores por entrarem no escritório em vez de puni-los por ficar em casa.

Antes da crise da Covid, as maiores empresas de tecnologia comprometeram bilhões de dólares para erguer escritórios que são maravilhas da arquitetura e troféus de sucesso financeiro. Esses escritórios reluzentes, repletos de comodidades e vantagens, são uma prova da antiga crença de que a colaboração pessoal ainda é melhor para estimular a criatividade, inspirar inovação e incutir um senso comum de propósito.

Mas para muitos funcionários que desfrutaram a liberdade de trabalhar remotamente, o retorno ao escritório —não importa o quão chique seja— traz um toque de pavor de fim de verão e volta às aulas. Poucos, ao que parece, estão interessados em voltar cinco dias por semana.

Balões na empresa de software Clio, no Canadá, para receber funcionários com boas vindas na volta ao escritório - Alana Paterson - 8.abr.22/The New York Times

No Memegen, um site interno da empresa onde os funcionários do Google compartilham memes, uma das postagens mais populares era uma foto de um refeitório da empresa com a legenda: "RTO é simplesmente esbarrar uns nos outros e dizer 'Precisamos almoçar juntos', até que um dos dois saia do Google".

Nick Bloom, professor de economia na Universidade Stanford que pesquisa 5.000 trabalhadores todos os meses, disse que a maioria queria voltar ao escritório duas ou três vezes por semana. Um terço não quer voltar ao escritório e prefere permanecer remoto.

Apenas eliminando o trajeto até o escritório, disse Bloom, o trabalhador médio economizará uma hora por dia, então "você pode ver por que os funcionários não vão começar a trabalhar por bagels grátis ou jogar pingue-pongue". A principal atração para ir ao escritório, de acordo com as pesquisas, é que os funcionários querem ver os colegas pessoalmente.

Após vários adiamentos, o Google iniciou sua agenda de trabalho híbrida em 4 de abril, exigindo que a maioria dos empregados nos EUA comparecesse aos escritórios alguns dias por semana. A Apple começou a facilitar a volta dos funcionários ao escritório na semana passada, na expectativa de que eles estejam presentes uma vez por semana, em princípio.

Quando os empregados da Microsoft retornaram aos escritórios, em fevereiro, como parte de um horário de trabalho híbrido, foram recebidos com "eventos de apreciação" e jogos de gramado, como xadrez humano. Havia aulas de cestaria e pintura em tela. O pub do campus se transformou em um jardim de cerveja, vinho e coquetéis sem álcool.

E, claro, havia comida e bebida grátis: pizzas, sanduíches e cafés especiais. A Microsoft pagou por food trucks com ofertas como frango frito, comida mexicana, grega, coreana e churrasco. Ao contrário de outras empresas de tecnologia, a Microsoft espera que os funcionários paguem por sua própria comida no escritório. Um funcionário ficou maravilhado com o sorteio de comida grátis.

O desafio para as empresas, disse Bloom, é equilibrar a flexibilidade de permitir que os trabalhadores definam seus próprios horários com uma abordagem mais firme de forçá-los a comparecer em dias específicos para maximizar a utilidade do tempo de escritório.

Ele disse que as empresas devem se concentrar em uma abordagem correta para o trabalho híbrido, em vez de desperdiçar tempo e esforço para agradar os funcionários com incentivos como shows privados.
"Os empregados não vão comparecer regularmente só pelas frescuras", disse Bloom. "O que você vai fazer a seguir? Contratar Justin Bieber e depois Katy Perry?"

Adaptando-se ao ambiente de trabalho mais restrito da Apple, seus funcionários disseram que não esperavam –nem tinham ouvido falar– de nenhuma comemoração pelo retorno ao escritório. Em princípio, a Apple está pedindo que os empregados compareçam uma vez por semana. No final de maio, a companhia vai exigir que eles estejam presentes segunda, terça e quinta.

Funcionários da Clio são recebidos com festa; empresas com dinheiro em caixa gastam para atrair profissionais após home office da pandemia - Alana Paterson - 8.abr.22/The New York Times

Quando a Apple anunciou seu plano de retorno ao escritório no ano passado, antes que um novo surto de Covid forçasse um atraso, mais de mil funcionários assinaram uma carta pedindo que a administração fosse mais aberta a acordos de trabalho flexíveis. Foi uma rara demonstração de discordância da base da empresa, que historicamente foi menos inclinada a desafiar os executivos sobre questões de trabalho.

Mas, enquanto as empresas de tecnologia lutam para oferecer aos funcionários maior flexibilidade de trabalho, também estão reduzindo algumas vantagens no escritório. A Meta, antes conhecida como Facebook, disse aos funcionários no mês passado que ia cortar serviços gratuitos como lavanderia e lavagem a seco.

O Google, como algumas outras empresas, disse que aprovou solicitações de milhares de funcionários para trabalhar remotamente ou ser transferidos para um escritório diferente. Mas, se os funcionários se mudarem para um local mais barato, o Google vai cortar os salários, argumentando que sempre levou em consideração onde uma pessoa foi contratada para definir a remuneração.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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