Descrição de chapéu Banco Central

Entenda o que é swap, operação que o BC usa para segurar o dólar

Autoridade monetária vendeu US$ 500 mi para controlar volatilidade da moeda

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Brasília

Diante do terceiro dia de altas significativas do dólar frente ao real, o Banco Central vendeu nesta terça (26) US$ 500 milhões em um tipo de contrato chamado swap, que tem como objetivo controlar a volatilidade da moeda.

Quando o BC oferta um contrato de swap, isso equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. A autoridade monetária busca, dessa forma, assegurar que há oferta para atender a um aumento de procura pela moeda estrangeira. Com isso, ele tenta evitar que essa demanda eleve as cotações e acirre a volatilidade no câmbio.

Cédulas de cem dólares - Yuriko Nakao - 2.ago.2011/Reuters

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, destaca que a realização de leilões faz parte da rotina do BC, mas que o leilão à vista de swap cambial é promovido quando a autoridade monetária tem a intenção de conter altas mais expressivas da moeda.

Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos, diz também que os leilões extraordinários costumam ser realizados em dias mais "tensos" da política ou da economia. "É óbvio que o BC não vai ficar esperando o momento mais tenso, ele consegue ir controlando aos poucos para fazer até um movimento suave da moeda, seja na subida ou na queda", afirmou.

O leilão desta terça, segundo ele, foi usado pelo BC para tentar conter a disparada no preço da moeda americana, que "desce de escada e sobe de elevador" no Brasil. "O Banco Central entrou atuando para segurar um pouco a oscilação da moeda", disse.

A operação ocorreu depois de o dólar tocar a cotação de R$ 5 na manhã desta terça, porém seu efeito não foi significativo. Após o anúncio da intervenção do BC, a moeda americana registrou queda, mas continuou pressionada e voltou a mostrar tração. Na máxima do dia, chegou a R$ 4,9996 e fechou cotada a R$ 4,9901, patamar que não era atingido desde 18 de março.

Nesta terça, o BC fez leilão extraordinário de 10 mil contratos de swap cambial tradicional. Todos os contratos ofertados foram vendidos, sendo 3.250 com vencimento em 1º de dezembro de 2022 e 6.750 para 3 de abril de 2023.

Na última sexta-feira (22), o BC vendeu US$ 571 milhões no mercado à vista de câmbio, na primeira operação do tipo neste ano.

Na ocasião, o dólar havia disparado 4,04%, subindo a R$ 4,8060, o maior valor desde o fim de março e a mais forte alta percentual diária desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020.

Por que a cotação do dólar está tendendo a subir?

O dólar ainda assim segue em níveis elevados, entre outros motivos, por causa da perspectiva de um aumento de juros mais agressivo por parte do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos). Quando os juros dos EUA se elevam, acabam atraindo investidores de outros países, e essa saída de dólares do Brasil faz a cotação subir.

Outro fator que tem feito subir o preço do dólar é o medo de novas medidas restritivas na China devido ao avanço da Covid-19: a perspectiva de um abalo maior na economia global leva o mercado a procurar ativos mais seguros, como a moeda americana ou títulos do governo americano.

Ações e títulos ligados a economias emergentes, como o Brasil, são vistos por investidores estrangeiros como ativos arriscados. Divisas emergentes pares do real, como os pesos mexicano, chileno e colombiano, entretanto, têm sentido os efeitos em ritmo mais comportado.

Isso porque não são apenas fatores externos que são motivo de preocupação, de acordo com os especialistas. Quartaroli destacou a tensão entre o governo e o Judiciário após o presidente Jair Bolsonaro (PL) desafiar o STF (Supremo Tribunal Federal) e conceder indulto da graça ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).

"Se compararmos o real com as demais moedas emergentes, ele está se destacando de forma negativa. Os ruídos políticos internos acabam afetando a imagem do nosso país, gerando uma crise institucional, que é malvista aos olhos dos investidores estrangeiros", disse.

Swap é como abrir uma nova porta de saída numa festa lotada

"A gente vê uma retirada de fluxo de capital de curto prazo por conta dessa incerteza e desse ruído político", complementou.

Segundo Carvalho, esse investidor que tende a comprar dólares para retirar dinheiro do Brasil busca lucros imediatos. "Ele não quer dinheiro para construir uma empresa, fazer um projeto de longo prazo, é um dinheiro especulativo que vai flutuando entre os mercados."

E o leilão de swap cambial é uma forma de o BC dar saída a esse investidor. "Imagina que você tem uma festa lotada e a saída é uma portinha. Quando o BC vende, ele abre outra porta para o pessoal sair mais rápido. O que esse investidor precisa para sair? Comprar dólar. E o que o BC faz? Vende dólar para ele", ilustrou. ​

Na pesquisa Focus divulgada na manhã desta terça, após quase um mês sem publicação devido à greve dos servidores do BC, a projeção mediana do mercado para a taxa de câmbio apontou o dólar a R$ 5 no fim tanto de 2022 quanto de 2023.

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