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Gleisi acena para o mercado e Lula chama elite de escravista

Em jantar com empresários, presidente do PT ressalta perfil articulador de ex-presidente

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São Paulo

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), foi "sabatinada" na noite de segunda-feira (4) sobre a agenda econômica de um eventual governo Lula. Em jantar com cerca de 30 empresários, no Morumbi, zona nobre de São Paulo, ela descreveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um hábil negociador político.

No jantar oferecido pelo presidente do Esfera Brasil, João Camargo, Gleisi disse também que, qualquer que seja seu ministro, a condução da economia em um governo petista será de Lula.

O Esfera Brasil é um grupo formado por empresários e se define como um think tank apartidário. Além de Camargo, entre os presentes estavam Cândido Pinheiro (Hapvida), Flávio Rocha (Riachuelo) e Eugênio Mattar (Localiza).

A presidente do PT também disse que, caso eleito, Lula manterá o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelo menos até 2024, quando se encerra o mandato dele na autarquia.

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Gleisi Hoffmann discursa após ser reeleita presidente nacional do PT, em São Paulo - Jardiel Carvalho - 24.nov.2019/Folhapress

O assunto veio à baila no momento em que ela citava a série histórica de superavit primário, de 2003 a 2014, como uma prova de responsabilidade fiscal nas gestões petistas. Um dos comensais ressaltou, porém, que, no governo Lula, o BC era presidido pelo banqueiro Henrique Meirelles.

Em resposta, Gleisi disse que hoje o Brasil tem Campos Neto à frente do BC e que ele será mantido.

Exaltando a experiência do ex-presidente, ela minimizou ameaças à governabilidade em um novo governo Lula. A empresários do porte de Eugênio Mattar, Cândido Pinheiro e Abílio Diniz, a presidente do PT lembrou as palavras do ex-governador e potencial vice, Geraldo Alckmin, que disse que Lula representa a própria democracia.

Segundo participantes do encontro, que durou cerca de duas horas e meia, Gleisi afirmou que, dentre todas as lideranças políticas brasileiras, Lula é o mais capacitado para articulação com diferentes setores da sociedade, inclusive no Congresso.

A presidente do PT disse que Lula conhece a máquina pública e, como que para minimizar o medo de sobressaltos institucionais, admitiu que o PT não ganhará todas no Congresso. Mas que "governabilidade não vai faltar, não".

Questionada, Gleisi descartou a intenção de controle de preços dos combustíveis, mas defendeu a revisão da política tarifária, atrelada aos EUA, bem como a aplicação de lucros da Petrobras. Ela também disse que o PT é contra a privatização da Petrobras e da Eletrobras.

Quando um dos participantes disse que a relação entre empregador e empregado nem deveria ser regulamentada em lei, Gleisi argumentou que a reforma trabalhista foi apresentada como uma solução contra o desemprego, mas não foi boa nem para o Brasil nem para o trabalhador.

Ao ouvir críticas ao governo Dilma, ela ponderou que a ex-presidente enfrentou dificuldades no Congresso no final de seu governo.

Ainda segundo participantes, o empresário Flávio Rocha perguntou por que Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL) não caminhavam para o centro. Ao microfone, a presidente do PT disse que tem fracassado a tentativa de fortalecimento de uma terceira via na corrida presidencial, hoje protagonizada por dois projetos opostos.

Gleisi foi acompanhada pelo economista Gabriel Galípolo, de 39 anos, ex-presidente do Fator. Hoje um dos conselheiros de Lula, Galípolo foi apresentado pela presidente do PT como um amigo na nova geração de economistas, a quem poderia pedir socorro durante o jantar. A ajuda veio no debate sobre o teto de gastos.

Ao pregar a revisão do teto de gastos, o economista —também conselheiro da Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo)— disse que os investimentos foram expulsos do Orçamento, faltando recursos para reposição de depreciação no setor de infraestrutura.

O economista disse duvidar que qualquer um dos presentes compre ações de uma empresa que consuma todo o seu orçamento apenas com custeio.

Lula define 'pobre no Orçamento e rico no Imposto de Renda' como lema

Dez horas depois do jantar em que sua capacidade de diálogo foi exaltada, o ex-presidente Lula lembrou ter instituído o conselho econômico social para definição de políticas públicas em seu governo.

"Duvido que tenha presidente na história do Brasil que recebeu mais empresário que eu. Gostava de receber, discutir e ouvir", disse.

Em entrevista a uma rádio do Paraná, Lula defendeu um estado forte e indutor do desenvolvimento. "O milagre que fiz no Brasil foi colocar o povo pobre no orçamento da economia. Por isso, que eu digo todo dia que para resolver o problema do Brasil tem que colocar o povo pobre no orçamento da prefeitura, do estado e da União. E os ricos no Imposto de Renda."

Lula pregou o que chamou de justiça tributária, com os ricos pagando mais impostos. Ele disse também que a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) pôs fim a um sistema quase escravista.

"Por isso que aqui em São Paulo os empresários odeiam tanto o Getúlio Vargas. Porque ele tirou o trabalhador de um sistema de semiescravidão."

Lula defendeu o fortalecimento dos sindicatos e a evolução do empresariado brasileiro.

Mais tarde, o petista disse que a elite brasileira é escravista. Ele definiu "pobre no Orçamento e rico no Imposto de Renda" como lema de campanha. "Queríamos a reforma da CLT para aprimorá-la. Mas o que eles fizeram? Tiraram, colocando a culpa no custo Brasil."

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