Guedes diz que Europa retomou interesse em acordo com Mercosul

Para o ministro, as rupturas causadas pela Guerra da Ucrânia podem beneficiar o Brasil

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Washington

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que ouviu de representantes europeus que há maior interesse em avançar as conversas para fechar um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

"As conversas estão mais concretas e fluídas", disse Guedes, durante entrevista coletiva em Washington, nesta quinta (21). Como exemplo disso, ele comentou ter notado menor resistência de países como França e Bélgica a fechar parcerias com o Brasil.

Guedes veio a Washington participar das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, realizadas ao longo desta semana. Ele deve ficar na capital americana até esta sexta (22).

O ministro Paulo Guedes discursa em evento no dia 12 de abril - Washington Costa/ME

"Os países estão entendendo que o Brasil é uma peça-chave para a segurança alimentar e energética do mundo", afirmou Guedes, que classificou a situação atual como "momento mágico" e uma "rara janela de oportunidades" para o Brasil.

O ministro disse que as disrupções geradas pela guerra da Ucrânia fizeram com que mais países buscassem o Brasil como opção para fornecer comida e combustíveis, e que isso abre possibilidades ao país para crescer, por ter proximidade física com os EUA e Europa e, ao mesmo tempo, ser uma nação que costuma manter neutralidade internacional.

O acordo, que facilitaria ao Mercosul acesso ao mercado de 450 milhões de consumidores da UE, foi congelado pelo bloco desde que suas negociações foram concluídas, em meados de 2019. Para vigorar, o texto precisaria ser aprovado pelo Parlamento Europeu, pelo Conselho (que reúne os 27 líderes) e pelos Legislativos nacionais (e regionais, no caso da Bélgica, por exemplo).

Na França, por exemplo, tanto políticos ligados à defesa ambiental quanto ao agronegócio se posicionam contra o acerto. Um dos lados critica o desmatamento no Brasil, entre outras questões, enquanto o outro teme perder mercado.

Sobre a saída de representantes de cinco países de uma reunião do G20, realizada na quarta (20), em protesto contra a presença da Rússia no encontro, ele defendeu a postura de permanecer na sala, pelo fato de o Brasil ter tradição de defender o multilateralismo e instituições internacionais, como FMI e ONU.

Questionado sobre o reajuste aos servidores federais, Guedes disse que as coisas ainda estão sendo negociadas, pois é preciso definir onde os cortes serão feitos para viabilizar a alta. "Agora é hora das decisões políticas. Tudo sempre pode mudar até o dia do anúncio", afirmou.

Na semana passada, o governo federal decidiu conceder um reajuste de 5% para todos os servidores públicos federais a partir de 1º de julho, mesmo sem espaço suficiente no Orçamento —o que vai levar a um corte de verbas em outras áreas. A decisão foi confirmada pela Folha com integrantes da equipe econômica e do Palácio do Planalto.

O aumento vai contemplar também militares das Forças Armadas. O custo total da medida é estimado em R$ 7,9 bilhões em 2022, considerando seu alcance não só sobre o Executivo, mas também sobre carreiras do Judiciário, Legislativo, Ministério Público e Defensoria.

O Orçamento de 2022 só tem reservado o valor de R$ 1,7 bilhão para reajustes ou reestruturações de carreiras de servidores neste ano e, além disso, desde março estão sendo contingenciados recursos para respeitar a regra do teto de gastos (que impede o crescimento das despesas federais acima da inflação). Por isso, a decisão demanda que outras áreas percam recursos.

De acordo com integrantes do governo, a medida custa R$ 6,3 bilhões em 2022 somente para o Poder Executivo, e os recursos serão obtidos por meio de um corte linear nas despesas de custeio e investimentos dos ministérios (as chamadas discricionárias). Como já há um montante de R$ 1,7 bilhão reservado para os reajustes, a necessidade líquida de redução nas pastas será de R$ 4,6 bilhões.

A ideia é que a correção seja aplicada sobre a folha de salários do mês de junho, cujos pagamentos começam a cair na conta dos servidores em 1º de julho.

Juridicamente, o reajuste é considerado viável sem que haja risco para as pretensões de Bolsonaro de concorrer à reeleição. A lei eleitoral veda, nos 180 dias que antecedem o pleito, a revisão geral que exceda a recomposição do poder de compra —ou seja, a inflação oficial.

Sobre câmbio, o ministro disse que a cotação do dólar já atingiu seu teto máximo ("overshooting") e que agora ela varia de acordo com as novas ondas de investimento. Ele credita a queda da moeda ao aumento da entrada de fluxos estrangeiros no Brasil.

Também disse ser contra dar subsídios à gasolina, porque "gente rica que usa" e que tentar forçar a queda do preço dos alimentos não funcionaria. "Se fizer tabelamento, a comida some, o combustível some", afirmou.

O ministro também disse considerar que a pandemia virou uma endemia no Brasil. "A doença [Covid] foi abatida no Brasil. Está no mesmo nível de diabetes e doenças cardíacas", afirmou.

Em Washington, Guedes teve encontro com ministros de outros países, autoridades internacionais, empresários e investidores. Nesta quinta (21), ele foi a reuniões com representantes dos bancos JP Morgan e Itaú em Washington.

Na terça (19), Guedes deu uma entrevista ao Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, na sigla em inglês), na qual disse considerar que Bolsonaro visitou a Rússia em "um momento não apropriado". Também afirmou que o Brasil é contrário à invasão da Ucrânia, mas questiona as sanções aplicadas à economia russa.

Também na terça, o FMI divulgou suas projeções para a economia mundial. A entidade avalia que o Brasil deverá crescer 0,8% em 2022, 0,5% acima do que previa em janeiro. A melhora na perspectiva foi motivada pela alta dos preços de commodities, especialmente o petróleo.

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