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Inflação nos EUA acelera em março para máxima em 16 anos e meio

O índice de preços ao consumidor saltou 1,2% no mês passado

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Colby Smith Eric Platt Lauren Fedor
Washington e Nova York | Financial Times

O índice de preços ao consumidor ultrapassou os 8% nos Estados Unidos em março, sua maior marca desde 1981, depois de uma disparada nos custos da energia e alimentos, o que manteve a pressão sobre o Federal Reserve por medidas agressivas de combate à inflação.

O índice de preços ao consumidor subiu em 8,5% no mês passado, ante o mês em 2021, marginalmente acima das expectativas de Wall Street, anunciou o Serviço de Estatísticas do Trabalho do governo americano na terça-feira (12). A alta ante o mês anterior foi de 1,2%, a maior desde setembro de 2005 e uma forte aceleração ante o 0,85% registrado em março.

Com a exclusão de itens voláteis como os combustíveis e os alimentos, o IPC subjacente subiu em 0,3% em março. Foi sua alta mais lenta desde setembro, mas ainda assim se traduz em uma inflação anual de 6,5%.

Cliente reabastece um veículo em posto de gasolina Mobil em Beverly Boulevard em West Hollywood, Califórnia - Bing Guan - 10.mar.2022/Reuters

Lael Brainard, presidente de uma das unidades regionais do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, e que aguarda confirmação do Senado para assumir como vice-chairman da instituição, advertiu quanto a riscos de alta da inflação, mencionando a invasão russa à Ucrânia –que está alimentando a alta nos preços do combustível e da comida– e novos lockdowns da Covid-19 na China, que podem agravar os problemas nas cadeias mundiais de suprimentos.

"A economia agora já passou por diversos desses choques inflacionários causados por eventos externos", ela disse em um evento organizado pelo The Wall Street Journal. "Temos visto grande resiliência, mas também inflação muito alta".

Foi a primeira leitura de inflação que incluiu um mês inteiro do impacto da guerra na Urânia, que obscureceu significativamente as perspectivas mundiais. A Rússia é um dos maiores exportadores mundiais de energia, e Rússia e Ucrânia são grandes fornecedores de trigo e outros grãos.

A moderação do IPC "subjacente" levou a uma alta nos títulos do Tesouro americano e nos mercados de overnight, com a redução das apostas dos operadores quanto ao tamanho e ritmo dos aumentos de taxas de juros previstos para este ano.

No entanto, os mercados continuam a projetar uma alta da taxa de juros de referência do Fed para 2,42% até o final de 2022, ante uma previsão de 2,59% mais cedo no mesmo dia, mas muito acima dos atuais 0,25% a 0,50%.

O governo Biden na segunda-feira imputou a culpa pela alta de preços à guerra, e a secretária da imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que a leitura do IPC seria "extremamente elevada devido ao aumento de preços de Putin".

Mas Joe Manchin, senador democrata moderado da Virgínia Ocidental, disse nesta terça-feira que "o Federal Reserve e o governo não agiram com a rapidez necessária e os dados de hoje são um retrato oportuno das consequências que o país inteiro está sofrendo".

Ele acrescentou que era "um desserviço ao povo americano agir como se a inflação fosse um fenômeno novo".

Manchin, que bloqueou a aprovação de planos abrangentes de gastos sociais de Biden, afirmando que eles seriam inflacionários, disse que colocar os preços "sob controle exigiria ações mais agressivas" do Fed, e uma mudança na política de energia do Congresso.

"Todo mundo está preocupado com a inflação", disse Vincent Reinhart, antigo funcionário importante do Fed e hoje economista chefe do banco Mellon. "É a questão número um nas pesquisas de opinião. Está ocupando toda a banda do Fed no momento".

Os números sublinharam o efeito dos voláteis preços das commodities, e a alta do petróleo respondeu por mais de metade do crescimento do IPC em março. Ao longo dos últimos 12 meses, os preços da gasolina nos postos subiram em 48%, o que inclui 18,3% de aumento de fevereiro para março.

Para além dos preços da energia, os preços dos serviços básicos também tiveram aceleração de sua alta em março, avançando em 0,6% ante o mês anterior, ou 4,7% anuais. É a maior alta mensal desde agosto de 1992.

Mas havia sinais de que os preços estavam se desacelerando em outras áreas. Os preços dos carros usados, que estão em disparada desde que a pandemia do coronavírus levou muitos americanos a evitar o uso dos transportes coletivos, caíram em 3,8% em março. O custo de compra deum veículo novo subiu em 0,2% ante o mês anterior, uma alta inferior à registrada em fevereiro.

Preocupações de que a inflação fincará raízes mais profundas na maior economia do planeta levaram o banco central dos Estados Unidos nas últimas semanas a adotar uma postura mais agressiva de aperto da política monetária.

O Fed agora está preparado para elevar as taxas de juros em 0,5% na próxima reunião de seu comitê de política monetária, em maio, o dobro do aumento decretado em março, em um esforço para conduzir sua taxa de juros de referência a um nível mais "neutro", que nem ajude e nem restrinja o crescimento até o final do ano.

As autoridades previram que a taxa de juros deve ser de 2,4% no final de 2022, o que implica em pelo menos mais um aumento de 0,5%, além de quatro aumentos de 0,25% em 2022.

O banco central também deve começar em breve a reduzir seu balanço de US$ 9 trilhões, com reduções que devem chegar a US$ 95 bilhões por mês dentro de três meses.

Brainard disse que o processo pode começar já em junho e, combinado aos aumentos de juros, deve levar a postura do Fed a uma posição mais "neutra, com o tempo".

Os preços dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos subiram na terça-feira, o que levou o rendimento do título de referência de 10 anos a uma queda de 0,06%, para 2,72%. As ações, que inicialmente tinham se recuperado com a divulgação dos números, voltaram a cair, e o índice S&P 500 mostrou queda de 0,3% em uma sessão volátil.

Tradução de Paulo Migliacci

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