Quais são as opiniões políticas de Elon Musk, que quer comprar o Twitter?

Bilionário não se esquivou da ajuda do governo quando era boa para os negócios

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Jeremy W. Peters
Nova York | The New York Times

As opiniões surgiram, 280 caracteres de cada vez, sobre se era boa ou ruim a oferta de Elon Musk para comprar o Twitter por US$ 43 bilhões (R$ 202,7 bilhões) e fechar seu capital.

A visão política de cada pessoa normalmente ditava como ela se sentia: os conservadores (nos Estados Unidos, estão associados aos ideais do Partido Republicano e, de forma geral, defendem menos intervenção do Estado e menos proteção social) aplaudiram como uma vitória da liberdade de expressão.

Os liberais (nos Estados Unidos, estão associados aos ideais do Partido Democrata e, de forma geral, defendem mais intervenção do Estado e mais proteção social) temiam que a desinformação se espalhasse desenfreadamente se Musk seguisse com seu plano de alterar a forma como a rede social monitora o conteúdo.

Mas o que ninguém parecia ser capaz de dizer com certeza era em que tipo de filosofia política o enigmático bilionário acredita.

Elon Musk falando durante entrevista no TED 2022, em Vancouver - Ryan Lash - 14.abr.2022/TED/AFP

Isso porque Musk, 50, que nasceu na África do Sul e só se tornou cidadão americano em 2002, expressa opiniões que não se encaixam perfeitamente na estrutura política binária esquerda-direita dos EUA.

Ele é frequentemente descrito como libertário, embora esse rótulo não consiga captar o quão paradoxal e aleatória sua visão política pode ser. Ele não tem poucas opiniões sobre as questões mais pertinentes e divisivas da época, desde os lockdowns da Covid-19 (ele os chamou de "fascistas") às restrições à imigração ("discordo muito").

Não há muita coerência na miscelânea de suas declarações públicas ou em seus profusos comentários no Twitter –exceto que muitas vezes se alinham com seus interesses comerciais. E apesar da intensa reação partidária à sua oferta não solicitada para comprar o Twitter, sua política opaca torna difícil dizer se a euforia e o medo sobre como ele administraria a empresa se justificam.

Ele criticou os subsídios federais, mas suas empresas se beneficiaram de bilhões de dólares em incentivos fiscais e outros dos governos federal, estaduais e locais. Ele se opôs veementemente à sindicalização, criticando o governo Biden por propor um crédito fiscal para veículos elétricos produzidos por trabalhadores sindicalizados.

Ele é o cofundador de uma fabricante de carros elétricos, a Tesla, que deixou os conselhos de negócios do ex-presidente Donald Trump depois que o governo desistiu do acordo climático de Paris. Mas ele recentemente entrou em conflito com ambientalistas por pedir um aumento imediato na produção doméstica de petróleo e gás, embora isso não fosse útil para seus negócios em carros elétricos e energia solar.

Ele é um entusiasta confesso da Primeira Emenda, mas tentou forçar um jornalista a depor em um processo de difamação contra ele, e muitas vezes reagiu com exagero a críticas. Quatro anos atrás, ele lançou um plano para criar um site para avaliar a credibilidade dos repórteres, chamando-o de Pravda, num estranho aceno à publicação de propaganda da União Soviética. (Não deu muito certo.)

E um capitalista de risco escreveu longamente sobre Musk cancelar sua encomenda de um novo Tesla depois que o investidor reclamou de um evento da Tesla.

Musk disse que era um eleitor independente registrado quando morava na Califórnia, estado que ele famosa e ruidosamente trocou pelo Texas porque disse que seu clima de negócios havia se tornado muito inóspito. Ele se descreveu como "politicamente moderado", mas acrescentou: "Não significa que eu seja moderado em todos os assuntos". Musk não respondeu a um pedido de comentários.

Suas preocupações sobre a forma como o Twitter censura o conteúdo ecoam as de ativistas e políticos conservadores que argumentam que as empresas de rede social são maus árbitros da verdade e não devem agir para policiar o discurso.

Uma pessoa que trabalhou perto de Musk disse que o empresário acredita firmemente que, numa democracia funcional, é direito de qualquer pessoa dizer "qualquer burrice que ela quiser". Essa pessoa, que falou anonimamente para não violar a confiança de Musk, acrescentou secamente: "O que ele ocasionalmente faz".

Poucas questões aumentaram sua ira tanto quanto as restrições do coronavírus, que impediram as operações de fabricação da Tesla na Califórnia e o aproximaram de sua decisão no ano passado de mudar a sede da empresa para o Texas. Essa medida, no entanto, foi muito simbólica, pois a Tesla ainda tem sua principal fábrica no subúrbio de Fremont, na área da baía de São Francisco, na Califórnia, e um grande escritório em Palo Alto.

Ao longo da pandemia, as explosões de Musk aumentaram drasticamente quando ele atacou os governos estaduais e locais pelas ordens de restrição. Ele inicialmente desafiou os regulamentos locais que fecharam sua fábrica da Tesla em Fremont. Descreveu os bloqueios como "aprisionar à força as pessoas em suas casas" e postou um grito de guerra com tom libertário no Twitter: "Libertem a América já". Ele ameaçou processar o condado de Alameda pelas paralisações, mas desistiu.

Em uma entrevista no outono de 2020 à colunista do The New York Times, Kara Swisher, Musk expressou consternação com sua crença de que a pandemia havia despertado medos irracionais em muitos americanos. "Isso diminuiu minha fé na humanidade, essa coisa toda", disse ele.

Ao mesmo tempo, enquanto os nervos do país se desgastavam durante seis meses em um surto sem fim à vista, as empresas de rede social foram pressionadas a tomar medidas mais proativas para limitar a disseminação de informações falsas sobre a Covid-19 e as eleições presidenciais em suas plataformas.

Quando as novas políticas de moderação de conteúdo após a eleição de 2020 começaram a afetar os usuários do Twitter –onde Musk tem 82 milhões de seguidores–, ele ficou do lado de muitos conservadores e aliados do ex-presidente, que acusou a rede social de censura arbitrária.

Muitas contas que espalham desinformação sobre a Covid-19, vacinas e fraude eleitoral foram suspensas ou encerradas. Pessoas como Alex Jones, teórico da conspiração que negou o massacre da escola Sandy Hook, e Trump, que usou o Twitter para convocar seus seguidores a atacar o Capitólio em 6 de janeiro, foram banidas.

Apoiadores do ex-presidente aplaudiram seu possível retorno ao Twitter. Um congressista republicano do Texas, Troy Nehls, tuitou: "Faça o Twitter ótimo de novo". De sua parte, Trump, que está promovendo seu próprio empreendimento de rede social, o "Truth Social", disse na semana passada que não acha que voltará.

"O Twitter se tornou muito chato. Eles se livraram de muitas de suas boas vozes", reclamou em entrevista ao Americano Media, uma rede em língua espanhola.

Mas, dada a filosofia política amplamente não denominacional de Musk, alguns da direita foram menos otimistas. Ann Coulter, presença frequente no Twitter, disse que o empresário bilionário lhe parecia "principalmente apolítico" e "principalmente sobre se autopromover".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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