Descrição de chapéu indústria

24% dos importadores sofreram atrasos por mobilização da Receita, diz CNI

Percentual registrado em abril é três vezes o observado em janeiro, aponta entidade

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Brasília

As empresas brasileiras sentem cada vez mais os impactos da operação-padrão dos auditores fiscais da Receita Federal, iniciada em dezembro do ano passado. De 163 operadoras do comércio exterior, 72% tiveram sua produção afetada em abril.

No caso das importadoras, o atraso na entrega de mercadorias aos clientes afetou 23,9% das empresas no mês passado, ante 7% em janeiro. Com a dificuldade para conseguir insumos e matérias-primas, o número de companhias que interromperam a produção quase triplicou no período, saltando de 7,8% para 21,2%.

O levantamento foi feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) entre 29 de março e 8 de abril. A lentidão no desembaraço das mercadorias é o principal problema apontado pelas companhias ouvidas, que também reclamam dos atrasos nas entregas aos clientes.

No caso das exportadoras, os atrasos foram relatados por 40,2% das companhias participantes da consulta, um aumento de 16,8 pontos percentuais na comparação com o resultado da pesquisa realizada em janeiro pela CNI.

Imagem mostra cargas em área de circulação no Aeroporto Viracopos por falta de espaço nos armazéns
No Aeroporto Viracopos, áreas de circulação estão sendo usadas como depósito improvisado por falta de espaço nos armazéns - Divulgação/Unafisco

Uma dessas empresas é a Samtronic, que trabalha com produtos médico-hospitalares de primeira necessidade ao tratamento da Covid-19.

Segundo Pedro Silveira, diretor de Administrativo e Controladoria da Samtronic, o desembaraço alfandegário (liberação da mercadoria nos aeroportos e portos do país) tem levado de 20 a 40 dias para ser concluído, gerando, assim, uma série de consequências.

O primeiro impacto mencionado por ele recai sobre os clientes, como hospitais que estão à espera dos produtos para a realização de tratamentos. "Os principais países que nós estamos tendo problema são Honduras e Paraguai", disse.

O abalo sobre a imagem da empresa e a questão financeira são outros problemas descritos por Silveira.

"O segundo impacto é institucional, é a nossa marca. Ninguém vai entender que o fiscal da Receita está em greve, vão dizer que a empresa não entrega [a mercadoria]", afirmou.

Diante dos entraves, a Samtronic teme perder contratos, mas também não conseguir mais entrar no mercado dos países. Segundo levantamento da CNI, o cancelamento de contratos de exportadoras subiu de 1,8% para 7,6% de janeiro a abril deste ano.

Outras dificuldades registradas na consulta foram a demora nas inspeções das cargas, custos adicionais associados à armazenagem, logística e movimentação das mercadorias, maior rigidez nas inspeções das cargas e no uso dos canais de verificação e mais.

Isac Falcão, presidente do Sindifisco Nacional (Sindicato dos Auditores da Receita Federal do Brasil), diz compreender a preocupação dos empresários brasileiros, mas ressalta as dificuldades da categoria.

"No que diz respeito ao controle de comércio exterior, a gente precisa de segurança e agilidade, mas quando você tira recursos e pessoas, não tem condições de ter as duas coisas. O Brasil está trabalhando sem gente e sem equipamento, não tem possibilidade de controlar o que está entrando com agilidade", disse.

Na operação-padrão, segundo o sindicato, as cargas são vistoriadas com o devido rigor, o que não vinha sendo feito normalmente por falta de pessoal.

"Quando empresários do ramo industrial veem essas filas com preocupação, a gente compreende, mas muito pior seria se a gente não tivesse controle aduaneiro no Brasil. Um país que não controla as mercadorias que entram e saem do país tem muita dificuldade de ter uma indústria nacional, fica vulnerável à concorrência desleal de produtos vindos do exterior", complementou Falcão.

Constanza Negri Biasutti, gerente de Comércio Exterior da CNI, aponta que a continuidade do movimento dos auditores da Receita já resulta em prejuízos de médio e longo prazo para as empresas brasileiras, agravando a situação do setor produtivo brasileiro, que já enfrenta obstáculos estruturais e de competitividade.

"A gente começa a ver um segundo grupo de impactos que tem a ver com o próprio processo produtivo, isso nos traz uma preocupação maior e uma urgência maior para poder achar alguma solução viável a essa questão da paralisação", disse.

Presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão; categoria realiza operação padrão em aduanas em protesto ao que chama de desmonte da Receita Federal - Sindifisco Nacional / Divulgação

O presidente do Sindifisco Nacional chama atenção para o corte de quase 50% no orçamento da Receita Federal para 2022, a falta de concursos públicos para repor a perda de 40% do efetivo ocorrida nos últimos anos, além da regulamentação da Lei 13.464/2017, que trata da instituição da gratificação de desempenho (ainda não regulamentada), entre outras medidas de estruturação da carreira.

Somada à operação-padrão nas fronteiras, a mobilização também se traduz na entrega de cargos de chefia. Até 3 de maio, o Sindifisco recebeu comunicado de 1.498 cargos de chefia entregues por auditores fiscais, dos quais 479 foram oficializados com a publicação da portaria de exoneração.

Além disso, cerca de cinco mil auditores manifestaram o compromisso de não assumir qualquer cargo comissionado na Receita até que sejam efetivadas melhores condições de trabalho.

Segundo Falcão, a mobilização não deve arrefecer nas próximas semanas. "Não tem perspectiva da situação da Receita se normalizar porque o governo não sinaliza reposição do orçamento, não sinaliza a realização de concurso público e não sinaliza a regulamentação da lei", disse.

Procurada, a Receita Federal disse que "não se manifesta sobre greve ou mobilizações".


O QUE FAZ A RECEITA FEDERAL

A Receita Federal é responsável pela estrutura do sistema de arrecadação de tributos federais e parte da dos estados e dos municípios, via fundos de participação, o que sustenta os orçamentos da seguridade social e do Estado. É responsável pela normatização, fiscalização e julgamentos administrativos, quando os contribuintes questionam o pagamento de tributos. Estão sob o guarda-chuva da Receita Federal para efeito de arrecadação:

Nos aeroportos
35
terminais de passageiros
41 terminais de cargas

Nos portos
38 terminais, organizados em 44 instalações portuárias fluviais e lacustres e em 165 instalações portuárias marítimas

Na fronteira Terrestre
27 postos de fronteira
10 delegacias;

No interior do país
66
portos secos
7 centros logísticos industriais aduaneiros
3 centros de distribuição de remessas postais internacionais
3 polos de processamento de remessas expressas.

Deve monitorar:
16 tributos federais, entre impostos, contribuições e taxas

- IRPF (Imposto sobre a renda das pessoas físicas)
- IRPJ (Imposto sobre a renda das pessoas jurídicas)
- IRRF (Imposto sobre a renda retido na fonte)
- CSLL (Contribuição social sobre o lucro líquido)
- IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários)
- ITR (Imposto territorial rural)
- IPI (Imposto sobre produtos industrializados)
- II (Imposto de importação)
- IE (Imposto de exportação)
- Contribuições previdenciárias das pessoas físicas
- Contribuições previdenciárias das pessoas jurídicas
- Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins
- Cide-combustíveis (Contribuição de intervenção no domínio econômico incidente sobre as operações realizadas com combustíveis)
- Cide-remessas (Contribuição de intervenção no domínio econômico incidente sobre as as remessas ao exterior)
- AFRMM (Adicional ao frete para renovação da marinha mercante)
- Taxa de utilização do Siscomex

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