Descrição de chapéu Banco Central juros copom

Risco de desaceleração da economia aumenta, avalia BC

Em ata, Copom também destaca o impacto da gasolina na inflação

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Brasília

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central avalia que o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração do crescimento econômico mais forte que o antecipado nos próximos trimestres, conforme ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (10).

No documento, o colegiado destacou também o impacto dos preços dos combustíveis sobre a inflação em alta. "Nos itens mais voláteis, continua se destacando o aumento do preço da gasolina, com impacto maior e mais rápido do que era previsto", afirmou.

O BC ressaltou que a inflação de serviços e bens industriais se mantém elevada e que os recentes choques ligados à guerra na Ucrânia e à política chinesa de combate à Covid-19 levaram a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis.

Sede do Banco Central, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

"O Comitê avaliou que há grande incerteza sobre o comportamento futuro dos preços de commodities em reais, como reflexo da guerra na Ucrânia e da retomada das economias no pós-pandemia", afirmou. Mas considerou também que há possibilidade de reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local.

Em relação à atividade econômica brasileira, o colegiado disse que o conjunto dos indicadores mostrava um crescimento dentro do esperado pelo Comitê, mas avaliou os riscos em torno do cenário de referência para 2022 e 2023.

"O Comitê ressaltou que o crescimento econômico veio em linha com o que era esperado, mas o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração mais forte que o antecipado nos trimestres à frente, quando seus impactos tendem a ficar mais evidentes", disse.

O BC ponderou que, devido às defasagens da política monetária na economia, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado em razão de um ciclo de aperto monetário "bastante intenso e tempestivo", bem como seu impacto na inflação.

Na última quarta (4), o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual, passando de 11,75% para 12,75% ao ano. A taxa de juros chegou ao seu maior nível desde fevereiro de 2017, quando estava em 13% ao ano, ainda no governo de Michel Temer (MDB).

Em março de 2021, a Selic estava em seu menor patamar histórico (2%) e, após dez aumentos seguidos, acumula alta de 10,75%. Com isso, o atual ciclo de aperto monetário é o mais forte desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999. Na ocasião, a taxa básica saltou de 25% para 45% ao ano de uma só vez.

O BC observou que os bancos centrais de países desenvolvidos e emergentes têm adotado uma postura mais contracionista em reação ao avanço da inflação. "Diante da potencial persistência do processo inflacionário, a reprecificação da política monetária nos países avançados tem impactado as condições financeiras dos países emergentes", disse.

Na ata, o Copom repetiu a sinalização de uma "provável" extensão do ciclo de aperto monetário, com um ajuste da Selic de menor magnitude na próxima reunião, em junho. Reafirmou também que é "apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista".

"Tal estratégia foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos, ao mesmo tempo que reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário", afirmou.

Para Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, o BC indica que o ciclo está "provavelmente" perto do fim, mas deixa portas abertas. "O Copom descreveu como ‘provável’ uma alta adicional de menor magnitude na próxima reunião. Mas não pareceu se comprometer muito com essa sinalização, a nosso ver", disse em análise.

Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, destaca que, apesar dos riscos pontuados na ata e da incerteza do cenário, o BC sinaliza que está próximo do fim do ciclo de aperto e que sua cautela se deve à postura monetária bastante restritiva e aos efeitos defasados das altas consecutivas dos juros.

Para a próxima reunião, em junho, o analista projeta uma alta de 0,5 ponto percentual, elevando a Selic a 13,25% ao ano. Mas não descarta um reajuste de 0,75 ponto percentual se a situação se deteriorar nas próximas semanas. Segundo ele, esse patamar elevado da taxa de juros deve se estender até a virada do segundo para o terceiro trimestre do próximo ano.

Cardoso considera que, quando o BC pontuou mais de uma vez que as pressões inflacionárias vão ser mais persistentes ao falar do cenário internacional, ele vislumbra a estratégia de seus próximos passos.

"Essa ata engatilhou o argumento, que vai começar a se materializar talvez em junho, de que o BC vai ser perseverante e manter juros altos durante longo período", disse.

O colegiado admitiu que houve "deterioração marginal" tanto na inflação de curto prazo quanto em suas projeções mais longas, apesar do cenário de incerteza e volatilidade. O Copom disse também que continuará subindo os juros tanto para controlar a inflação quanto para alinhar as expectativas do mercado financeiro a seus objetivos.

Para 2023 (horizonte relevante), a meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A projeção de inflação do BC para o próximo ano é de 3,4%. Já a expectativa do mercado para 2023 é de 4,1%, segundo a pesquisa Focus.

As possíveis razões para a diferença entre as projeções no cenário de referência e as projeções de analistas foram debatidas entre os membros do colegiado durante a reunião. "Alguns membros enfatizaram que a inflação corrente alta tem contaminado as expectativas de maior prazo além do esperado", disse o colegiado.

Outro ponto discutido pelo Copom e enfatizado na ata foi o risco fiscal e seu impacto sobre a condução da política monetária. O BC considerou que "a incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e aumenta o risco de desancoragem das expectativas de inflação".​

Mas ressaltou que esse movimento já está parcialmente incorporado nas expectativas de inflação do mercado financeiro para prazos mais longos, assim como nos preços de diversos ativos locais.

"O esmorecimento no empenho por reformas estruturais, bem como alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas, podem elevar a taxa de juros neutra da economia", acrescentou.

Com Reuters

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