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Criptomoedas derretem em tempestade perfeita de medo e pânico

Fortes perdas nesta semana ilustraram riscos de criptomoedas experimentais e não regulamentadas

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David Yaffe-Bellany Erin Griffith Ephrat Livni
San Francisco | The New York Times

O preço do bitcoin caiu a seu ponto mais baixo desde 2020. A grande exchange de criptomoedas Coinbase despencou em valor. Uma criptomoeda que se promovia como um meio de troca estável entrou em colapso. E mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,52 trilhão) foram dizimados pela queda dos preços das criptomoedas desde segunda-feira (9).

O mundo das criptomoedas entrou em colapso nesta semana, numa liquidação que ilustrou claramente os riscos das moedas digitais experimentais e não regulamentadas. Mesmo que celebridades como Kim Kardashian e magnatas da tecnologia como Elon Musk tenham falado sobre criptomoedas, o declínio acelerado de moedas virtuais como bitcoin e ether mostra que, em alguns casos, dois anos de ganhos financeiros podem desaparecer da noite para o dia.

O momento de pânico foi a pior redefinição das criptomoedas desde que o bitcoin despencou 80% em 2018. Mas desta vez a queda dos preços tem um impacto mais amplo, porque mais pessoas e instituições detêm moedas. Críticos disseram que o colapso estava muito atrasado, enquanto alguns traders compararam o alarme e o medo ao início da crise financeira de 2008.

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Bitcoins apresentados em anúncios em Washington, EUA - Samuel Corum - 24.ago.2021/The New York Times

"Parece a tempestade perfeita", disse Dan Dolev, analista que cobre empresas de criptomoedas e tecnologia financeira no Mizuho Group.

Durante a pandemia de coronavírus, as pessoas correram para as moedas virtuais, com 16% dos americanos hoje possuindo algumas, contra 1% em 2015, segundo uma pesquisa do Pew Research Center. Grandes bancos como Northern Trust e Bank of America também entraram na onda, junto com fundos de hedge, alguns usando dívidas para aumentar ainda mais suas apostas em criptomoedas.
Os primeiros investidores provavelmente ainda estão em posição confortável. Mas os rápidos declínios desta semana foram especialmente agudos para os investidores que compraram criptomoedas quando os preços subiram no ano passado.

A queda das criptomoedas faz parte de uma retração mais ampla de ativos de risco, estimulada pelo aumento das taxas de juros, inflação e incerteza econômica causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Esses fatores agravaram a chamada ressaca pandêmica, iniciada quando a vida começava a voltar ao normal nos Estados Unidos, prejudicando os preços das ações de empresas como Zoom e Netflix, que prosperaram durante os bloqueios.

Mas o declínio da criptomoeda é mais grave do que a queda mais ampla do mercado de ações. Enquanto o S&P 500 caiu 18% até agora este ano, o preço do bitcoin baixou 40% no mesmo período. Somente nos últimos cinco dias o bitcoin caiu 20%, em comparação com um declínio de 5% do índice S&P 500.

Não está claro quanto tempo o colapso das criptomoedas poderá durar. Os preços delas se recuperaram de grandes perdas, embora em alguns casos tenham levado vários anos para atingir novos patamares.
"É difícil dizer: 'É o Lehman Brothers?'", disse Charles Cascarilla, fundador da empresa de blockchain Paxos, referindo-se à empresa de serviços financeiros que faliu no início da crise financeira de 2008. "Vamos precisar de mais algum tempo para descobrir. Não é possível responder tão rápido."

Os preços das criptomoedas atingiram um pico no final do ano passado, e desde então caíram à medida que cresciam os temores sobre a economia. Mas o colapso ganhou força nesta semana, quando a TerraUSD, uma stablecoin, implodiu. As stablecoins, que deveriam ser um meio de troca mais confiável, normalmente são atreladas a um ativo estável, como o dólar, e não deveriam flutuar em valor. Muitos traders as usam para comprar outras criptomoedas.

A TerraUSD teve o apoio de empresas de capital de risco confiáveis, incluindo Arrington Capital e Lightspeed Venture Partners, que investiram dezenas de milhões de dólares para financiar projetos de criptomoedas construídos sobre a moeda. Isso deu "uma falsa sensação de segurança a pessoas que de outra forma não saberiam sobre essas coisas", disse Kathleen Breitman, uma das fundadoras da plataforma de criptomoedas Tezos.

Mas a TerraUSD não era lastreada em dinheiro, títulos do Tesouro ou outros ativos tradicionais. Em vez disso, extraía sua suposta estabilidade de algoritmos que vinculavam seu valor a uma criptomoeda irmã chamada Luna.

Esta semana, a Luna perdeu quase todo o seu valor. Isso imediatamente teve um efeito indireto no TerraUSD, que caiu para um mínimo de US$ 0,23 (R$ 1,1) na quarta (11). À medida que os investidores entravam em pânico, o tether, a stablecoin mais popular e um pilar do comércio de criptomoedas, também vacilou em relação a seu próprio "peg" de US$ 1 (R$ 5,1). O tether caiu tão baixo quanto US$ 0,95 (R$ 4,8) antes de se recuperar. (O tether é lastreado em dinheiro vivo e outros ativos tradicionais.)

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Trabalhadores instalam um centro de dados de criptomoedas em Medley, Flórida - Rose Marie Cromwell - 11.mar.2022/The New York Times

Outras partes do ecossistema criptográfico azedaram ao mesmo tempo. Na terça-feira (10), a Coinbase, uma das maiores exchanges de criptomoedas, reportou um prejuízo trimestral de US$ 430 milhões (R$ 2,17 bilhões) e disse ter perdido mais de dois milhões de usuários ativos. O preço das ações da empresa caiu 82% desde sua estreia triunfante no mercado, em abril de 2021.

Brian Armstrong, CEO da Coinbase, tentou tranquilizar os clientes no Twitter de que a empresa não corria o risco de falir depois que uma informação legal exigida sobre a propriedade de seus ativos provocou pânico.

Os preços das criptomoedas também caíram vertiginosamente. O preço do bitcoin baixou a US$ 26 mil (R$ 131,5 mil) na quinta (12), queda de 60% em relação ao pico de novembro, antes de subir um pouco. Desde o início do ano, o movimento do preço do bitcoin tem refletido de perto o da Nasdaq, uma referência fortemente inclinada para ações de tecnologia, sugerindo que os investidores o estão tratando como qualquer outro ativo de risco.

O preço do ether também despencou mais de 30% na última semana. Outras criptomoedas, como solana e cardano, também caíram.

Qualquer pânico pode ser exagerado, disseram alguns analistas. Um estudo da Mizuho mostrou que o proprietário médio de bitcoin na Coinbase não perderia dinheiro até que o preço da moeda digital caísse abaixo de US$ 21 mil (R$ 106,26 mil). Aí, de acordo com Dolev, é onde pode ocorrer uma verdadeira espiral da morte.

"O bitcoin estava funcionando desde que ninguém perdesse dinheiro", disse ele. "Depois de voltar a esses níveis, é meio que o momento 'Oh, meu Deus'."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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